São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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DOMINGUEIRA
Não leve a mal, hoje é Carnaval

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editor de Domingo

O Oscar vem aí, e o Brasil mais uma vez está competindo. Júbilo! Já vejo a Globo escalando o Galvão Bueno para narrar a cerimônia. Vai que é tua Fernandona!
Pena que só o Walter Salles e a Fernanda Montenegro entraram na disputa. Por que não Malan, Gustavo Franco, Chico Lopes e o presidente superstar? E por que não Itamar, o Forrest Gump das Gerais?
Para o ministro da Fazenda, depois da entrevista coletiva com Mr. Fischer, qualquer academia concordaria com a estatueta de melhor ator coadjuvante do FMI. Gustavo Franco levaria fácil o prêmio de efeitos especiais, pela espetacular manutenção artificial do câmbio. Chico Lopes e sua banda diagonal ficam com o melhor curta. Já o sr. presidente merece, com sobras, o Oscar de melhor roteiro original de ficção.
O Brasil, como dizem todos, está uma loucura. Mas quem pode ainda se diverte. Lembro-me de uma antiga charge do Glauco. Algo assim: um iate cheio de figurões e ricaços se divertindo. Chega o garçom meio bebum e avisa: "Senhores, a crise é grave. Acabou o gelo..."
Para uns acabou o gelo, para outros, a festa, para outros, ainda, o emprego. Este ano a Quarta-Feira de Cinzas caiu antes do Carnaval.
Itamar Franco proibiu o uso de máscaras no Carnaval mineiro. Suspeita-se que seja para evitar que seu rosto apareça na folia. A máscara de Itamar estava vendendo mais do que as de palhaço.
Não é um escândalo a caderneta de poupança -que é onde os pobres e remediados tentam guardar um pouco do pouco que ganham- ter rendimento negativo? Quem tem mais coloca em renda fixa e quem tem mesmo deixa fora do país. Já o brasileiro comum...
Salva-nos, nessa tempestade, o conhecido know-how para enfrentar crises (mais psicológico do que técnico) e conforta-nos a eterna esperança de que as coisas irão melhorar. Está em circulação uma futurologia relativamente otimista, na linha do se fizermos o dever de casa vai dar para passar por média no final do ano.
É possível. Mas a idéia de que Mr. Clinton, Mr. Fischer e Mr. Mercado são amigos do Brasil é infantil. A economia do país quebrou, todos tiraram seu dinheirinho, mas a repercussão do abalo no sistema internacional foi mínima. Diziam por aqui que a Ásia era um caso isolado. Não era. Mas o Brasil parece ser.
A piada mais cruel e preconceituosa que ouvi sobre a crise diz que ela tem um lado negativo e outro positivo. O negativo é que entramos pelo cano. O positivo é que vamos acabar levando a Argentina junto.
A alegria da semana foi o gol de Romário contra o Corinthians, no último domingo. A "masterpiece", como disse Matinas Suzuki Jr., permanecerá incólume em minhas cansadas retinas rubro-negras.


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