São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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CRISE FEDERATIVA
Governador crê em piora da crise em março
Itamar aposta que FHC "joga a toalha"

KENNEDY ALENCAR
enviado especial a Belo Horizonte

O presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de Minas, Itamar Franco, radicalizaram suas exigências para negociar e apostam no mesmo fator para tentar vencer a queda-de-braço que vêm travando desde o começo de janeiro. Ambos acreditam que o passar do tempo fará um dos dois jogar a toalha.
A estratégia de Itamar é se manter numa posição radicalizada, exigindo a renegociação dos acordos das dívidas dos Estados, até que governadores aliados a FHC tenham suas finanças estranguladas pelos efeitos da crise cambial e entoem o coro para a revisão dos contratos. Crê que, a partir de março, haverá uma enxurrada de problemas para os aliados de FHC.
A estratégia de FHC é, na reunião do dia 26 em Brasília, para a qual convidará os 27 governadores, isolar Itamar oferecendo um pacote de ajuda para que os governadores possam atravessar a recessão que a crise cambial deve aprofundar, desde que se comprometam a fazer um duro ajuste fiscal e não exijam a renegociação de suas dívidas.
No discurso que fez na sexta, no Palácio da Liberdade, em uma cerimônia de apoio cuidadosamente preparada, com cerca de 200 mulheres e cartazes de apoio, Itamar declarou: "Não ficaremos isolados. Mais à frente irão aparecer companheiros. Ora do Estado (de Minas), ora de outros Estados".
O mineiro desencadeou na quinta uma operação para tentar angariar a simpatia da opinião pública mineira ao convocar a cúpula da PM para uma reunião de emergência de um modo que deu margem à especulação de que poderia contestar o pacto federativo e a autoridade de Brasília sobre Minas.
Itamar quer ganhar a compreensão da polícia e de outros setores da sociedade (vai se reunir com sindicalistas e intelectuais) para enfrentar o aperto do caixa -ao mesmo tempo em que atribui a culpa a uma suposta violência da União contra o Estado.
FHC respondeu articulando a divulgação de uma nota da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais). A entidade critica indiretamente a radicalização de Itamar e pede uma saída negociada. O governo federal quer mostrar que Itamar não tem o apoio de toda a sociedade mineira.
Para evitar a imagem de que estaria contra a população mineira, o Planalto deve também incentivar ações administrativas diretas entre o governo federal e os municípios: repasse de verbas diretamente a hospitais (Santas Casas) e convênios entre as prefeituras e os ministérios, especialmente os da Saúde, Educação e Comunicações.
Ainda na quinta, numa reunião entre Itamar e o governador gaúcho, Olívio Dutra (PT), ficou acertado que ambos demandariam de FHC a inclusão da revisão dos acordos das dívidas na pauta do encontro dos governadores para que aceitassem participar do evento. Um dia depois, Itamar radicalizou mais: exigiu que a União devolva os créditos do governo de Minas que o Banco Central reteve.
São duas condições que FHC diz que não pode atender, sob pena de rasgar os acordas dívidas dos Estados, segundo disse à Folha um ministro. Nas palavras desse auxiliar, a pauta de uma reunião com o presidente não pode ser imposta por governadores. O Planalto quer dar o tom do encontro. Ou seja: Itamar e Olívio têm a desculpa para não ir ao encontro, e FHC o motivo para classificá-los de intransigentes.
O Planalto avalia que Itamar aposta num suposto caos econômico do país para que saia ganhando politicamente. Acredita que, na hora em que os Estados começarem a receber ajuda da União, a frente dos sete oposicionistas se desagregará por gravidade.
Para o governo federal, o PT nacional, apesar do entusiasmo da seção mineira, que elegeu Itamar como o modelo de governador para o partido, não entrará na canoa radical de Itamar, pois esse espaço já estaria ocupado pelo peemedebista. Acredita que Olívio, apesar da retórica afinada com Itamar, não adotou a linha do mineiro no governo gaúcho.


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