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CRISE FEDERATIVA
Governador crê em piora da crise em março
Itamar aposta que
FHC "joga a toalha"
KENNEDY ALENCAR
enviado especial a Belo Horizonte
O presidente
Fernando Henrique Cardoso e
o governador de
Minas, Itamar
Franco, radicalizaram suas exigências para negociar e apostam no mesmo fator
para tentar vencer a queda-de-braço que vêm travando desde o começo de janeiro. Ambos acreditam
que o passar do tempo fará um dos
dois jogar a toalha.
A estratégia de Itamar é se manter numa posição radicalizada, exigindo a renegociação dos acordos
das dívidas dos Estados, até que
governadores aliados a FHC tenham suas finanças estranguladas
pelos efeitos da crise cambial e entoem o coro para a revisão dos
contratos. Crê que, a partir de março, haverá uma enxurrada de problemas para os aliados de FHC.
A estratégia de FHC é, na reunião
do dia 26 em Brasília, para a qual
convidará os 27 governadores, isolar Itamar oferecendo um pacote
de ajuda para que os governadores
possam atravessar a recessão que a
crise cambial deve aprofundar,
desde que se comprometam a fazer
um duro ajuste fiscal e não exijam
a renegociação de suas dívidas.
No discurso que fez na sexta, no
Palácio da Liberdade, em uma cerimônia de apoio cuidadosamente
preparada, com cerca de 200 mulheres e cartazes de apoio, Itamar
declarou: "Não ficaremos isolados.
Mais à frente irão aparecer companheiros. Ora do Estado (de Minas),
ora de outros Estados".
O mineiro desencadeou na quinta uma operação para tentar angariar a simpatia da opinião pública
mineira ao convocar a cúpula da
PM para uma reunião de emergência de um modo que deu margem à
especulação de que poderia contestar o pacto federativo e a autoridade de Brasília sobre Minas.
Itamar quer ganhar a compreensão da polícia e de outros setores
da sociedade (vai se reunir com
sindicalistas e intelectuais) para
enfrentar o aperto do caixa -ao
mesmo tempo em que atribui a
culpa a uma suposta violência da
União contra o Estado.
FHC respondeu articulando a divulgação de uma nota da Fiemg
(Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais). A entidade
critica indiretamente a radicalização de Itamar e pede uma saída negociada. O governo federal quer
mostrar que Itamar não tem o
apoio de toda a sociedade mineira.
Para evitar a imagem de que estaria contra a população mineira, o
Planalto deve também incentivar
ações administrativas diretas entre
o governo federal e os municípios:
repasse de verbas diretamente a
hospitais (Santas Casas) e convênios entre as prefeituras e os ministérios, especialmente os da Saúde, Educação e Comunicações.
Ainda na quinta, numa reunião
entre Itamar e o governador gaúcho, Olívio Dutra (PT), ficou acertado que ambos demandariam de
FHC a inclusão da revisão dos
acordos das dívidas na pauta do
encontro dos governadores para
que aceitassem participar do evento. Um dia depois, Itamar radicalizou mais: exigiu que a União devolva os créditos do governo de
Minas que o Banco Central reteve.
São duas condições que FHC diz
que não pode atender, sob pena de
rasgar os acordas dívidas dos Estados, segundo disse à Folha um ministro. Nas palavras desse auxiliar,
a pauta de uma reunião com o presidente não pode ser imposta por
governadores. O Planalto quer dar
o tom do encontro. Ou seja: Itamar
e Olívio têm a desculpa para não ir
ao encontro, e FHC o motivo para
classificá-los de intransigentes.
O Planalto avalia que Itamar
aposta num suposto caos econômico do país para que saia ganhando politicamente. Acredita que, na
hora em que os Estados começarem a receber ajuda da União, a
frente dos sete oposicionistas se
desagregará por gravidade.
Para o governo federal, o PT nacional, apesar do entusiasmo da
seção mineira, que elegeu Itamar
como o modelo de governador para o partido, não entrará na canoa
radical de Itamar, pois esse espaço
já estaria ocupado pelo peemedebista. Acredita que Olívio, apesar
da retórica afinada com Itamar,
não adotou a linha do mineiro no
governo gaúcho.
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