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Os dólares que faltam
CELSO PINTO
É mais difícil, hoje, renovar
uma linha comercial externa de
financiamento para o Brasil do
que era no auge da crise, em setembro do ano passado.
Dois bancos que operam pesado nesta área calculam que a
renovação das linhas que estão
vencendo, nos bancos de primeira linha, tem ficado de 20%
a 30% do total. Em setembro, a
renovação chegava a uns 40%.
A oferta de linhas comerciais
melhorou um pouco do final de
outubro até o início de dezembro, com a expectativa do pacote de ajuda externa ao Brasil.
Desde que o Congresso rejeitou
a taxação dos inativos, em dezembro, a situação só piorou.
Os bancos internacionais estão esperando para ver. Antes
de fatos novos positivos, como o
novo acordo com o FMI e a votação da CPMF, previstos para
a primeira quinzena de março,
é difícil que mude o cenário. Os
bancos ainda têm medo de um
colapso ou de serem forçados a
colocar dinheiro no Brasil.
No entanto, se mudar o humor e as linhas comerciais voltarem, a melhora no fluxo de
dólares pode ser mais do que
proporcional, diz Marco Kheirallah, do Banco Matrix. Seu
argumento é interessante.
O Brasil começou a perder financiamentos à exportação em
agosto do ano passado. De janeiro a julho do ano passado, a
média mensal de fechamento
de câmbio de exportação foi de
US$ 4,4 bilhões. De agosto do
ano passado a janeiro deste
ano, a média caiu para US$ 3,8
bilhões, em parte refletindo a
menor disponibilidade de linhas de financiamento.
(Em janeiro, o câmbio de exportação caiu para apenas US$
2,9 bilhões, por outras razões. A
expectativa de uma desvalorização maior, antes e logo depois da livre flutuação, fez muitos exportadores adiarem o fechamento de câmbio.)
Tipicamente, as linhas para
exportação são por seis meses.
Quer dizer, o exportador fecha
o câmbio hoje, ajudando a engordar as reservas, mas só embarca a mercadoria dali a três
ou seis meses.
Quando o financiamento é
fortemente reduzido, muitos
exportadores são obrigados a
fechar o câmbio no momento
do embarque. Quer dizer, seis
meses depois da redução das linhas, o câmbio de exportação
passa a refletir cada vez mais
fechamentos no embarque. Por
essa razão, um eventual aumento nas linhas para exportação vai gerar um impacto duplo
sobre o fluxo de dólares.
De um lado, o fluxo não estará sendo reduzido por exportações que embarcam hoje mas
foram financiadas há três, quatro ou seis meses (quando o
câmbio foi fechado). De outro,
exportadores poderiam financiar exportações dos próximos
seis meses (ou mais, se as regras
mudarem), antecipando o impacto cambial positivo futuro.
O fluxo, portanto, poderia ir
além dos níveis anteriores à crise, pelo menos por alguns meses. Kheirallah aposta que, nesta hipótese, poderia haver equilíbrio do fluxo cambial já em
março.
Há um porém. Na situação
anterior de câmbio controlado
e juros estratosféricos, o financiamento às exportações significava tomar dinheiro barato,
em dólar, no exterior, convertê-lo em reais e aplicá-lo por seis
meses, com enorme lucro. Por
isso, muitas empresas tomavam
esses créditos mesmo sem ter exportações, "alugando" exportações futuras de outros. Era um
ganho especulativo. Havia, portanto, algum inchaço nos números dos financiamentos antes da crise.
Esse atrativo da aplicação interna diminuiu, porque agora
existe risco cambial (de o real
valorizar). Para os exportadores, de todo modo, continua o
interesse em antecipar os recursos e a própria receita da exportação futura, em dólares, é proteção contra oscilações cambiais.
Itamar e a CPIF
O governador Itamar Franco
está convencido de que tem o
direito (divino?) de empurrar
suas contas para o resto do Brasil. Ele não quer negociar. Deu
um ultimato: Brasília tem que
lhe abrir os cofres sem exigir
nada em troca.
Como dinheiro não nasce nas
árvores do cerrado, cada centavo sem condições que Brasília
der para Itamar terá que ser tirado do resto do país. Para tornar a negociação mais transparente, Itamar deveria propor a
criação de um novo imposto, a
CPIF, Contribuição Provisória
para Itamar Franco, uma taxa
que todo brasileiro, exceto os
mineiros, lhe pagaria. Eleito
presidente, em 2002, Itamar
transformaria a CPIF em imposto definitivo.
Itamar tem todo o direito de
preferir elevar os salários dos
funcionários em lugar de demiti-los, recomprar as ações da
Cemig em vez de privatizá-la e
até de nacionalizar a Fiat.
Quando elegeram Itamar, os
mineiros sabiam (ou deveriam
saber) suas idéias. Se der certo,
Itamar provará, em definitivo,
que o neoliberalismo está morto.
O que não faz sentido é Itamar achar que o resto do país
deve doar dinheiro para ele pôr
suas idéias em prática. O Ceará,
a Bahia e o Maranhão são Estados muito mais pobres do que
Minas, mas equilibraram suas
finanças e, com isso, ganharam
espaço para investir em suas
idéias. Será injusto obrigá-los a
usar seu dinheiro para sustentar as idéias de Itamar.
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