São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999 |
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CONFRONTO Semelhança com 1964 é apenas aparente Golpe é descartado por historiadores
da Redação Historiadores consultados pela Folha não vêem qualquer possibilidade de golpe em razão do confronto entre o governador mineiro Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. O historiador Evaldo Cabral de Mello, 62, não acredita que exista uma crise institucional: "As instituições estão funcionando normalmente, não existe crise". Ele considera que a semelhança com os episódios de 1930 e 1964 é meramente formal: "As circunstâncias e as condições são completamente diferentes. Eu duvido que o governador de Minas conte com o apoio da população para um movimento dessa natureza". Na opinião de Mello, não há um fundamento racional para a atitude de Itamar, uma vez "que o acordo de renegociação da dívida foi bastante favorável aos Estados", mas apenas uma questão pessoal de Itamar em relação a FHC. Mello avalia que Itamar pode estar fazendo um cálculo político visando a eleição presidencial de 2002, mas acha que essa manobra não tem grandes possibilidades de êxito: "Esses atos heróicos não pegam na população brasileira". Laura de Mello e Souza, 46, autora de "Os Desclassificados do Ouro", também avalia que há uma distância considerável entre o confronto atual e o Movimento de 1964: "A diferença é muito grande entre os dois momentos". Ela assinala que as "questões que se levantam agora entre os Estados e o governo são questões estruturais na história brasileira". Esses problemas, porém, são recorrentes e não acarretam necessariamente a eclosão de crises políticas. Heloísa Starling, 41, autora de "Os Senhores das Gerais", não acredita que Itamar tenha uma motivação golpista nem vê qualquer semelhança com 1964: "Não acho que Itamar esteja colocando Minas em um estado de rebelião". Ela considera, porém, que a convocação do comando da PM mineira tem um significado político: "Itamar muito provavelmente só está fazendo uma bravata, mas com isso ele está canalizando uma certa insatisfação difusa". Para Starling, a convocação da Polícia Militar tem um sentido simbólico: "Itamar está passando um recado para dentro e para fora de Minas. Ele tenta se colocar como o oposto do governo anterior (Eduardo Azeredo, PSDB), acenando para os que acham que o Estado está sendo sufocado e menosprezado. Ao chamar a PM, está dando um recado de que ele é o comandante da PM. Do ponto de vista interno, isso aumenta o cacife de Itamar. Mas não tem intenção golpista nem tem apoio para isso." O historiador mineiro Francisco Iglésias, 75, autor de "Trajetória Política do Brasil", considera que"qualquer fato dessa natureza pode trazer instabilidade", mas que a população encontra-se inteiramente alheia a essas articulações. "Tudo isso que está acontecendo, ninguém percebe nada. O povo não tomou conhecimento. É um conflito restrito à elite". Iglesias nota que as ações de Itamar, "até agora, não tiveram repercussão" na sociedade civil. Sobre o desdobramento da crise, prefere não fazer previsões: "É um enigma". Texto Anterior: Celso Pinto: Os dólares que faltam Próximo Texto: Elites mineiras se rebelaram várias vezes Índice |
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