São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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Elites mineiras se rebelaram várias vezes

da Redação

As elites de Minas Gerais possuem uma longa tradição de conflitos com o governo central. Distante da costa e da fronteira, o Estado nunca concentrou grandes contingentes militares, pois não era objeto de invasões externas.
Essa débil presença militar favoreceu a formação de milícias locais, estreitamente ligadas aos proprietários rurais, que as usaram em seus conflitos com o governo.
O primeiro confronto, sufocado antes de sua eclosão, foi a Inconfidência Mineira, em 1789. Na época, a mineração do ouro entrara em franco declínio, mas a Coroa portuguesa, em crise financeira, não queria abrir mão do recolhimento dos tributos anuais, fixados em cem arrobas de ouro.
Diante da ameaça de uma derrama, com a cobrança de impostos extras, mineradores e fazendeiros articularam em 1788 um movimento de independência em relação a Portugal, mas foram denunciados e presos no ano seguinte.
O segundo confronto ocorreu no início do reinado de d. Pedro 2º. Na época, o governo era exercido pelo Partido Liberal, especialmente forte em Minas e São Paulo, e que reunia principalmente fazendeiros e profissionais liberais.
Em 1º de maio de 1842, porém, o imperador destituiu o ministério, provocando a rebelião dos liberais de São Paulo, no dia 17, e de Minas, no dia 10 de junho. As forças liberais são derrotadas pelo então barão de Caxias em Santa Luzia, em 20 de agosto. A paz definitiva, porém, só foi alcançada em 1844.
Durante a República, a elite mineira enfrentou o Executivo federal em duas ocasiões, nas duas vezes com êxito. A primeira foi em 1929, quando o presidente Washington Luís insistiu na candidatura de um paulista (Júlio Prestes) para sua sucessão, rompendo um acordo de alternância com Minas.
Impossibilitado de ser o candidato oficial à Presidência, o governador mineiro, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, articulou uma chapa de oposição: ofereceu a candidatura à Presidência ao governador Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, e o lugar de vice ao governador João Pessoa, da Paraíba.
A chapa da oposição, denominada "Aliança Liberal", lançou um programa político para atrair o apoio das oligarquias não-cafeeiras e da classe média.
Depois da derrota de Vargas em 1º de março de 1930, os líderes da Aliança Liberal articularam uma conspiração, que ganhou força após o assassinato de João Pessoa em 26 de julho. A revolução estourou no dia 3 de outubro em Minas e no Rio Grande do Sul. O presidente foi deposto e Vargas assumiu o poder em 3 de novembro.
O segundo confronto com o Executivo federal ocorreu em 1964. O presidente João Goulart (PTB) enfrentava a oposição da UDN, liderada pelos governadores da Guanabara, Carlos Lacerda, e de Minas Gerais, Magalhães Pinto.
O movimento para depor Goulart foi articulado por oficiais militares liderados por Castello Branco. Em 31 de março, Magalhães Pinto anunciou um novo secretariado com nomes da UDN e do PSD, que rompera com Goulart.
Em seguida, tropas do Exército em Minas, comandadas pelos generais Olímpio Mourão Filho e Carlos Guedes, marcham para o Rio. Goulart viaja para Brasília, e, sem apoio militar, exila-se no Uruguai. Com o apoio de Lacerda e Magalhães Pinto, Castello Branco assume o poder em 15 de abril.


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