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SÃO PAULO
Ex-mulher de Pitta afirma que irmão de ex-presidente disse o que sabia para investigação posterior
"Sou o Pedro Collor de saias", diz Nicéa
Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem
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A ex-primeira-dama Nicéa Pitta, protegida por seguranças, ao chegar para depoimento a promotores e procuradores, em Sâo Paulo |
"Pitta é corrupto, tem dinheiro no exterior e fez caixa-dois com o dinheiro de empresas"
"Vou processá-lo por danos morais por me expor, a mim e a meus filhos, apenas por vaidade"
ANGÉLICA SANTA CRUZ
da Reportagem Local
"Eu sou o Pedro
Collor de saias." Ao
tomar como modelo o irmão de Fernando Collor que
deflagrou o processo que resultou no impeachment
do ex-presidente, Nicéa Pitta, 53,
definiu seu estado de espírito, horas antes do depoimento que
prestou ontem ao Ministério Público. "Ele disse o que sabia. Mas a
imprensa e os parlamentares tiveram que ir atrás para comprovar
as denúncias. Esse caso é como o
do Pedro Collor." Ela propõe submeter-se a um detector de mentiras na tentativa de reforçar suas
acusações ao prefeito Celso Pitta,
de quem está em processo de separação.
Nicéa falou à Folha, em duas
ocasiões ontem, sendo a primeira,
no início da madrugada, quando
jantava no seu apartamento, com
os móveis cobertos para protegê-los da pintura nas paredes em andamento. A seguir, os principais
pontos das entrevistas:
CAIXA-DOIS - "Celso Pitta é
corrupto, tem dinheiro em contas no exterior e fez caixa-dois
com o dinheiro de empresas, as
de ônibus, por exemplo. Já vi reuniões aqui em casa com empresários de algumas das maiores empresas do setor. Eles falavam em
valores, verbas. Não lembro
quanto. Esses empresários ofereceram dinheiro para que ele não
regulamentasse os perueiros. Eu
fiquei irritada e saí da sala. Mas
Pitta aceitou."
PEDRO COLLOR - "Espero que
tudo seja apurado. É como no caso do Pedro Collor. Ele disse o
que sabia. Mas a imprensa e os
parlamentares tiveram que ir
atrás para comprovar as denúncias. Esse caso é como o do Pedro
Collor. Sou o Pedro Collor de
saias."
PROVAS - "Na semana passada, antes de ir à Rede Globo, procurei o procurador de Justiça.
Queria dar a ele o que tenho. E tenho provas em relação às denuncias das contas do exterior e à
operação de suborno feita por
Augusto Meinberg e Armando
Mellão. Uma é a cópia do extrato
em nome de João Carlos Martins.
No caso do suborno, é porque
presenciei as conversas. É a minha palavra. Posso passar por um
detector de mentiras."
MOTIVOS - "Meus filhos, Victor e Roberta, pediram que eu fizesse isso. Resolvemos apontar as
irregularidades juntos. Demorei
muito para falar porque pensava
no peso de fazer isso com o pai
dos meus filhos. Mas julgamos
que é preciso. A partir do momento em que descobrimos que
ele não conseguiu se manter longe de toda essa lama, resolvemos
que eu deveria falar."
PRECATÓRIOS - " Sofremos
muito na época dos precatórios.
Chorei e rezei o tempo inteiro.
Mas ele se explicou e, depois, as
contas da prefeitura foram aprovadas pelo Tribunal de Contas.
Achei que ele estava certo. Hoje
duvido."
PROPINAS - "Se algum vereador não recebeu, então que vá cobrar Meinberg e Armando Mellão porque, nesse caso, eles deixaram de pagar."
SINAIS DE RIQUEZA - "Ele usa
como desculpa o empréstimo de
R$ 600 mil que recebeu do empresário Jorge Yunes. Esse dinheiro está esticando muito... Deve ser um elástico para poder sustentar meu marido por tanto
tempo. Mas só deve gastar quando sair do governo. Aí vocês vão
ver."
JOÃO CARLOS MARTINS -
"João Carlos Martins apareceu
aqui na nossa residência há uns
quatro meses. Quem o trouxe foi
o Cid Vieira, que dizia ser o nosso
advogado - mas não era. Eles vieram acompanhados do Augusto
Meinberg. Até entendo que o
João Carlos esteja se defendendo,
coitado. Foi usado para proteger
meu marido. Aliás, ex-marido."
PROCESSO - "Tenho razões
para processá-lo e o farei no momento certo. Vou processá-lo por
danos morais por me expor, a
mim e a meus filhos, apenas para
manter a vaidade proporcionada
pela política."
SINAIS DE VAIDADE - "No caso dos precatórios, no Frangogate, no caso da compra do Vectra e
do aluguel do carro do banco Vetor. Eu nunca tinha ouvido falar
nesse banco. Depois, quando ele
mesmo confessou que ia devolver
o dinheiro, fiquei sabendo pelos
jornais. No Frangogate ele sabia
perfeitamente que a prefeitura estava comprando produtos da A
D'oro. Mas não me preveniu para
que eu não trabalhasse para a empresa na época. Prova da minha
inocência é que nem sequer fui
indiciada. Mas Pitta não participou de minha defesa, não foi depor a meu favor. Fui com um advogado indicado por ele, mas a
defesa foi por mim e por Deus."
ACUSAÇÕES - "Deixo minhas
contas bancárias à disposição de
quem quiser investigar. Nunca
me envolvi nessa sujeira."
SEPARAÇÃO - "Na verdade, estou aliviada de ter me libertado
de um ser humano de quem hoje
tenho tanta pena. Ele quer se valorizar com esses argumentos.
Quem pediu a separação fui eu,
em setembro. Peço a ele que use
sua experiência para fazer essa
moça com quem está hoje feliz."
INFIDELIDADE - "(Pitta) está
com uma moça. Embarcou para
Paris com ela. Não sei quem é. Ele
já foi infiel várias vezes e agora seria até falta de imaginação minha
ainda ter ciúmes dele."
MOTIVO DO DIVÓRCIO - "Foi
porque ele deixou de atender a
um pedido de ajuda da minha filha. Era por uma razão muito forte e grave. Ali foi a gota d'água. Tive que embarcar sozinha para resolver tudo."
PROBLEMA EM NY - "Minha
filha foi morar em Nova York
com uma parente do meu marido, por imposição dele. As duas
tiveram um problema muito grave. Fui lá sozinha e registrei um
boletim de ocorrência. Não vou
dizer o que aconteceu até que a
cópia desse B.O. chegue às minhas mãos. Não falo mais sem estar documentada. Mas meu marido não ajudou minha filha naquele momento. Há seis meses
que Roberta não fala com ele.
Celso Pitta sempre foi um pai ausente. Não sei porque levei tantos
anos deixando que meus filhos
convivessem com essa dor. Hoje
me culpo por isso."
AMEAÇA - "Tivemos uma
ameaça contra meu filho, há duas
semanas. Meu filho vinha pedindo a meu marido que ele entrasse
com uma separação amigável.
Mas Celso Pitta deixou de atender meu filho e deu uma ordem
no flat onde mora para que não o
deixassem subir. Um dos seguranças que estão lá com ele, um
policial militar chamado Ricardo,
tentou impedir que o Victor esperasse pelo pai na rua. Meu filho
insistiu em ficar. O segurança disse: "Quando terminar a administração do seu pai, eu dou um tiro
na sua cabeça". Procuramos o Secretário de Segurança Pública, o
doutor Petrelluzzi, e ele determinou a abertura de um inquérito.
Veja que ironia. Poucos dias antes, Celso Pitta pediu ao governador Mário Covas a saída desse secretário. Foi o mesmo secretário
que, de forma muito discreta, socorreu nosso filho."
IMPEACHMENT - "Peço que isso tudo seja apurado. Acho que se
eu estivesse no lugar dele eu reconheceria os erros e pediria perdão
para a população."
DISCORDÂNCIAS COM MALUF - "Foi aos poucos. Comecei a
discordar dele com o tempo. Aos
domingos, Paulo Maluf fazia uma
reunião em sua casa. Celso Pitta
voltava sempre acabado de lá.
Uma vez, o Reynaldo de Barros
falou no viva-voz, durante um telefonema, uma frase do gênero:
"Esse negrão está acabando com
nosso nome, doutor Paulo!". Eu
dizia para meu marido reagir a
essas coisas. O senhor Paulo Maluf também fugiu de suas responsabilidades nos problemas apontados na sua administração. Foi
ele o vendedor de frangos para a
prefeitura, junto com o filho dele,
Flávio. E também com o marido
da Hebe Camargo. Aliás, quando
a senhora Hebe Camargo defende o Maluf em seu programa, não
é de graça. O marido dela, Lélio,
tem uma granja que vendia frango para a A D'oro. Então, quando
meu marido e Paulo Maluf romperam publicamente, acreditei e
até fiquei feliz. Com o tempo, vi
que Pitta continuava sem reagir
porque estava cumprindo uma
estratégia combinada antes da
campanha."
ACORDO - "O senhor Paulo
Maluf prometeu a Pitta que ele
seria candidato à Prefeitura de
São Paulo desde que suportasse
fazer uma péssima administração. Caso Maluf não ganhasse para o governo, ele seria candidato à
prefeitura novamente. E teria o
argumento de que voltou para
consertar as falhas do Pitta. Por
isso essa guerra aparente entre os
dois. Note que agora é o Pitta que
agride o Covas, coisa que antes
era o Maluf que fazia. Mas Maluf
não vai ser prefeito porque Deus
é pai."
PENA - "Quando voltei, Jorge
Yunes disse que o Pitta caiu numa profunda depressão. Ele chorava, ficava muito triste. Então resolvi fazer as coisas aos poucos.
Usava argumentos existenciais.
Eu e meus filhos ficamos com pena. Mas chegou um momento em
que não suportamos mais."
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