São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2000


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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Justiça critica erros primários do laudo de Badan Palhares e conclui que não houve suicídio
PC e Suzana foram assassinados, diz juiz

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió


A Justiça de Alagoas abriu ontem ação penal para investigar a autoria do duplo homicídio do empresário Paulo César Farias, o PC, e de sua namorada, Suzana Marcolino.
O juiz Alberto Jorge Correia de Barros Lima acatou a denúncia do Ministério Público contra oito ex-funcionários do ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello, acusados de co-autoria nos assassinatos de PC e de Suzana.
Essa decisão representa a primeira manifestação da Justiça sobre as mortes ocorridas no dia 23 de junho de 1996, na casa de praia de Paulo Cesar Farias, em Maceió, capital do Estado.
No despacho de 13 páginas, o juiz conclui que houve um duplo homicídio, descartando a hipótese defendida pelo legista Fortunato Badan Palhares, segundo a qual Suzana Marcolino matou o namorado e depois se suicidou.
Os interrogatórios dos oito acusados foram marcados para o próximo dia 30. O juiz diz que pretende concluir a ação até o final deste ano.

Acusados
Os acusados são os policiais militares Adeildo Costa dos Santos, José Geraldo da Silva, Reinaldo Correia de Lima Filho e Josemar Faustino dos Santos; o casal de caseiros Marise e Leonino Tenório de Carvalho; o jardineiro Manoel Alfredo da Silva e o garçom Genival da Silva França.
O deputado federal Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC, que também foi indiciado pela polícia como suposto co-autor das mortes, só poderá ser denunciado, se for o caso, pela Procuradoria Geral da República. Ele possui imunidade parlamentar e sua situação será definida pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
No despacho em que pediu novas diligências sobre o caso, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, havia afirmado que era "impossível" que Suzana tivesse se suicidado.
No texto divulgado ontem, o juiz Lima chama de "imprestável" o primeiro inquérito policial e todos os seus laudos. Ele lista "fatos insólitos" que desqualificariam o trabalho coordenado por Badan Palhares e pela polícia alagoana.
O juiz observa ainda que o inquérito inicial foi marcado "pela estranha precipitação" das autoridades em opinar por uma conclusão de crime passional e por pressões sobre os peritos.

Erros de Badan
Além disso, o juiz menciona os "erros primários" cometidos pelo legista Badan Palhares: não mediu os corpos durante a exumação; lavou as luvas epidérmicas de Suzana, o que teria impossibilitado a contraprova de que ela teria atirado; a retirada de parte da parede por onde passou a bala que atingiu Suzana, o que atrapalhou novas perícias.
O promotor do caso, Luiz Vasconcelos, requereu à polícia alagoana novas investigações após a Folha ter divulgado, em março do ano passado, fotografias que mostravam que Suzana não tinha 1,67 m, como consignara Badan Palhares em seu laudo.
Para concluir pelo duplo assassinato, o juiz se apoiou nas conclusões expostas no trabalho realizado pela segunda equipe de peritos -nomeada pelo próprio Lima- e que foi coordenada pelo legista Daniel Romero Muñoz, da Universidade de São Paulo.
Entre elas está o fato de que não existe prova científica de que Suzana tenha disparado tiros naquela madrugada, já que não foram encontradas em suas mãos a combinação de elementos que compõem a pólvora.


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