São Paulo, quarta-feira, 14 de março de 2001

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JANIO DE FREITAS

Uma cadeia sugestiva

A sequência de medidas que conduzem sustação das investigações sobre a empresa CH, J & T, a partir do momento em que a Polícia Federal coletou evidências de que a firma nas Bahamas pertencia a Sérgio Motta, sugere mais do que equívoco ou incompetência por parte da Procuradoria Geral da República.
Nada pode justificar a dispensa da investigação pelo procurador Luiz Augusto Santos Lima, o que já é grave. Mas, se combinado este ato com os dois meses e meio de sua demora, para afinal seguir-se prontamente a uma limitação do processo pedida em carta de Fernando Henrique Cardoso, o que emerge é a suspeita de uma relação de causa e efeito entre as duas atitudes.
O conceito mais difundido do procurador-geral Geraldo Brindeiro é o da falta da independência que a Constituição lhe exige, o que lhe vale apelidos pejorativos e acusações de servir mais à Presidência do que ao Ministério Público, para ser mantido no cargo ou ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Esse Geraldo Brindeiro foi o destinatário da carta de Fernando Henrique, com o pedido de processo criminal contra os falsários e os negociadores do "dossiê Cayman", sem incluir, no entanto, o assunto da conta de US$ 368 milhões em nome da empresa identificada pela Polícia Federal.
O procurador incumbido do caso Cayman, Luiz Augusto Santos Lima, pode desfrutar de simpatias e apreço em parte da procuradoria, mas não evita que outra parte o tenha como dócil ao procurador-geral na condução do seu trabalho.
As circunstâncias pessoais e funcionais se encadeiam, pois, como se encadeiam os atos e suas datas, para suscitar suspeitas merecedoras de mais do que registro e pasmo. Pasmo e registro são, porém, tudo o que se pode esperar no Brasil atual, onde poucos podem tanto e as tantas leis nada podem.

Quem avisa
A frase não provém da "brigada carlista" descoberta pelo jornalismo mais isento de emocionalismos. É do ex-líder peessedebista e recém-eleito presidente da Câmara, deputado Aécio Neves: "Eu e muitos deputados não concordamos com o modelo do governo para privatização de Furnas. É um modelo obscuro".
Ao que Aécio Neves chama de obscuridade junte-se a volta do processo de venda ao encargo do BNDES, e é só esperar pelas notícias escabrosas sobre o negócio, enriquecimentos e sufocação de investigações por Fernando Henrique.

Preferência
Co-diretor do "Monde Diplomatique", o jornalista Bernard Cassen foi testemunhar, no México, a marcha do comandante Marcos, da Frente Zapatista, de Chiapas à capital para encontrar-se com o presidente Fox. Também conversou com Marcos e, à margem do que colheu para o "Diplomatique", ouviu do comandante esta informação:
"Minha primeira viagem ao exterior será ao Brasil. Mais precisamente, vou a Porto Alegre." Antes do Fórum Social Mundial 2002, para o qual pretende voltar ao Rio Grande do Sul.


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