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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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AGENDA PETISTA

Imposto só vigora até 2004; há chance de a alíquota atual ser prorrogada por pelo menos mais um ano

Conselho quer CPMF permanente e reduzida

Sérgio Lima/Lula Marques/Folha Imagem
A senadora Heloisa Helena (PT) e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho (de barba), usam câmera para fotografar grupo de jornalistas no plenário do Senado, antes da reunião do conselho

SÍLVIA MUGNATTO
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o fórum formado por 82 representantes da sociedade nomeados pelo governo para debater as reformas, avaliou ontem que a CPMF (o imposto do cheque) deve se transformar em um imposto permanente, mas com uma redução gradual da alíquota.
Essa foi a posição dos quatro grupos do conselho que começaram ontem a debater a reforma tributária a partir de princípios gerais propostos pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
A CPMF, pelas regras atuais, tem alíquota de 0,38%, o que permitirá uma arrecadação estimada em R$ 24 bilhões neste ano.
O tributo só vai vigorar até o ano que vem, quando a alíquota cai para 0,08%, gerando perda de R$ 16 bilhões.
O problema para o governo é que não há uma alternativa definida para repor a queda da receita. Por isso, é forte a possibilidade de ser proposta a prorrogação da alíquota atual por pelo menos mais um ano.
O CDES perdeu parte de sua importância quando o governo Luiz Inácio Lula da Silva recuou da intenção de torná-lo uma instância deliberativa. Mas, mesmo sendo apenas consultivo, o conselho tem algum peso político.
"Seria um desrespeito à sociedade civil se o governo não levasse em conta o que foi discutido ali [no conselho]", disse o ministro Tarso Genro, secretário-executivo do CDES. Mas Genro ressalvou que as decisões do conselho não podem ser tomadas de maneira dogmática.

O diabo
O governo enquadrou o CDES em sua estratégia para a aprovação da reforma tributária.
Primeiro, serão debatidos apenas princípios gerais que farão parte de uma proposta de alteração da Constituição; o detalhamento do novo sistema de impostos ficará para depois.
Também se decidiu que o prazo para as discussões será o definido pelo Planalto para o envio do projeto ao Congresso. "O prazo seguirá a agenda política do governo", afirma Tarso Genro. O governo quer um texto em um ou dois meses.
O adiamento das discussões mais importantes para a criação de um novo sistema de impostos incomodou alguns membros do conselho.
O próprio ministro Antonio Palocci Filho tratou do tema em entrevista concedida durante a reunião, quando foi confrontado com a afirmação de que "o diabo está nos detalhes". Saiu-se com bom humor: "O diabo está em muitos lugares. O problema é que o diabo não existe, e por isso ele é tão grande", disse, citando o escritor Guimarães Rosa.

Plano B
O ministro também brincou quando questionado se havia um "plano B" para o caso de a reforma emperrar no Congresso e o governo vir a ser obrigado a negociar separadamente a prorrogação da CPMF. "Para a CPMF, é um "Plano C"."
Mas admitiu que, na hipótese de a reforma não ser aprovada neste ano, o governo terá de buscar soluções para questões urgentes, como a CPMF.
Segundo Genro, as demais propostas expostas por Palocci aos conselheiros encontraram boa receptividade -resultado já esperado, dado que a maioria delas já havia sido debatida nos últimos anos com o empresariado, majoritário no conselho.
O projeto básico prevê a unificação da legislação do ICMS, a redução da carga dos tributos que incidem em todas as etapas do processo produtivo e mudança total ou parcial da forma de cobrança da contribuição previdenciária.
As decisões consensuais dos grupos serão levadas à reunião geral do CDES no próximo dia 3 de abril.


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