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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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AGENDA PETISTA

Governo ainda resiste a propor um ministério a peemedebistas

Após derrota, PT busca apoio do PMDB

RAYMUNDO COSTA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de 24 horas após sofrer suas primeiras derrotas no Congresso, o Planalto decidiu acelerar as negociações para integrar o PMDB na base de sustentação política do governo. O PT deve formalizar uma proposta na próxima semana, mas é pouco provável que a sigla ocupe um ministério antes do segundo semestre.
O movimento do Planalto foi desencadeado pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, que no início da tarde de ontem procurou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para uma conversa. Na véspera, o governo não conseguira votar a MP que permite a renegociação de dívidas do setor agrícola, derrotado por uma aliança tácita do PMDB com o PSDB e o PFL.
O Planalto entendeu o recado peemedebista: com apenas 31 votos seguros no plenário de 81 senadores, o governo terá dificuldades para aprovar matérias de seu interesse caso o PMDB, que tem 20 senadores, se aliar a tucanos e pefelistas. Na conversa com Sarney, Dirceu disse que Luiz Inácio Lula da Silva fará uma proposta já na próxima semana.
"Espero que até a semana que vem isso esteja resolvido. [Os peemedebistas] vão participar no governo e na base", disse Dirceu.
"É uma prova de confiança que interessa muito ao PMDB", disse Sarney. Numa primeira etapa, segundo o presidente do Senado, a sigla deve "participar da formulação das políticas de governo".
"Você só é cúmplice quando participa da formulação", disse o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL). Sarney e Calheiros afirmam que a ocupação de cargos não está sendo tratada, por enquanto. Renan inclusive teria pedido para a bancada desobrigá-lo de tratar de cargos nos Estados. Pelo lado do Planalto, a entrega de um ministério ao PMDB é pauta para o próximo semestre, talvez setembro.
Além disso, o próprio PMDB está dividido. A negociação do Planalto evoluiu no Senado, mas os deputados sentem-se alijados do processo. Ou seja, se quiser levar a maior fatia do partido, o governo terá de pensar em dois ministérios para atender o partido no Senado e na Câmara. Ainda assim dificilmente contará com os votos da ala que era mais ligada a Fernando Henrique Cardoso.
Escaldado por duas negociações anteriores, ambas fracassadas, com o PT, o presidente do PMDB, Michel Temer, reagiu: "Ou apresenta algo concreto ou tem que parar com esta conversa", disse. "Não aguento mais falar uma palavra sobre isto. Se ficam alimentando este vem e não vem, o que sai na imprensa é sempre a versão de que o PMDB é quem está mendigando cargos."
O acordo está num impasse: o PMDB quer uma participação importante no governo -na formulação das ações de governo, como dizem seus líderes- , o que significa ministérios e não apenas cargos no segundo e terceiro escalão.
O problema é que o governo, temendo desgaste, resiste em fazer uma reforma ministerial com menos de três meses da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.


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