São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOMBRA NO PLANALTO Em depoimento à CPI da Assembléia do Rio, ex-assessor do Planalto isenta o ministro José Dirceu de responsabilidade no caso Waldomiro afirma ter sido chantageado
FABIANA CIMIERI PECADO E VERGONHA
"Cometi um pecado. Cometi um
pecado ao tentar ajudar um amigo, Armando Dile. Ao tentar ajudá-lo, tornei-me refém de uma
engenharia criminosa, uma gravação premeditada, feita por uma
pessoa inescrupulosa [Cachoeira], que a fez para aferir benefícios
financeiros a seus negócios. O homem que aqui comparece é uma
pessoa envergonhada, de alma
quebrada. Não tenho medo de ser
investigado. Preciso disso para
que eu possa voltar a andar de cabeça erguida e olhar aos que depositaram em mim total confiança e que hoje são cobrados como
se beneficiários fossem de meus
atos. Quero dizer que a essas pessoas peço desculpas pelo constrangimento que as causei. Estou
pronto [para ser investigado].
Não usarei subterfúgios. O medo
não protege ninguém. Estou à disposição para falar a verdade." CHANTAGEM
"No início de 2003, recebo em
meu gabinete uma ligação do Mino Pedrosa. Ele me disse: "Waldomiro, queria me certificar sobre
uma fita em que você está pedindo dinheiro para o bicheiro de
Goiás, Carlos Cachoeira, para
campanha". Eu disse: "Olha, eu
desconheço esse assunto, vamos
apurar"." Waldomiro disse ter ligado para Cachoeira para saber
sobre a fita. Teriam se encontrado
em Brasília. ARMANDO DILE
"Carlos Ramos me disse que gostaria de ter Armando o assessorando. Dile trabalhava comigo
com contrato firmado via agência
de publicidade [Giovanni FCB, no
Rio]. Descontados os impostos e a
comissão da agência, Armando
deveria receber algo em torno de
R$ 5.000. Carlos Ramos fez uma
proposta para ele que era, no mínimo, o triplo disso." A COMISSÃO DE 1%
"A partir daquele momento, Carlos Ramos ofereceu a ele [Dile]
não mais um salário, e sim uma
participação no projeto dele, 1%.
Mas com uma condição: que eu
acertasse, que eu pedisse. O roteiro da conversa foi premeditado." A PRIMEIRA FITA
"Armando Dile já era assessor de
Cachoeira quando me ligou e pediu uma reunião, às 19h. Disse para fazermos na Loterj, mas Dile
disse que ele [Cachoeira] queria
me mostrar as instalações [do
consórcio Combralog, que acabara de vencer licitação para loteria
online] num escritório em Botafogo [zona sul do Rio]." Segundo
Waldomiro, Dile disse que Cachoeira gostaria de contribuir
com as campanhas eleitorais. A FITA NO AEROPORTO
"Não me lembro dos detalhes
dessa conversa." Para Waldomiro, o áudio da conversa só seria
divulgado se beneficiasse o autor
das gravações. Disse que as conversas que teve com Cachoeira na
época foram para que ele cumprisse o contrato entre Combralog e Loterj. A fita mostra Waldomiro recebendo uma sacola, que
era de uma livraria e, dentro dela,
havia jornais, disse o ex-assessor. INTERESSES DE CACHOEIRA
"Por que esse senhor [Cachoeira]
nutre por mim tanto ódio, usou
expediente criminoso de gravar
uma fita há dois anos e divulgá-la
agora? Foi porque eu não cedi naquilo a que ele não tinha direito.
Ele se sentiu prejudicado e, por isso, usou outros subterfúgios. Virei refém dessa situação." EDITAL DA LOTERJ
Negou ter modificado o edital de
loterias de múltiplas chances,
vencido pela empresa Hebara,
conforme concluiu sindicância da
Loterj. Na fita, ele diz para Cachoeira redigir com Dile as alterações que gostaria de fazer. "O pedido de alteração do edital foi feito em março, muito antes da conversa com Cachoeira." GTECH
"Estive com profissionais da
GTech depois da ligação desse senhor [Cachoeira], que me chantageava e dizia que eu só precisava
encontrar os empresários, dizer
que nós tínhamos um contrato no
Rio e que estava tudo bem." SONEGAÇÃO FISCAL
Os rendimentos de Waldomiro
na Loterj chegavam a R$ 12.500,
apesar de seu salário ser de R$
4.500. O restante era complementado pela Fundação Parque Alta
Tecnologia de Petrópolis (RJ), como ajuda de custo. Waldomiro
admitiu ter sonegado essa complementação à Receita Federal. |
|