São Paulo, terça, 14 de abril de 1998

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SENADO
Parlamentar foi internado em 18 de fevereiro
Humberto Lucena morre aos 69 em SP

e do Banco de Dados

O senador Humberto Lucena (PMDB), 69, morreu ontem em consequência de parada cardíaca.
Ele estava internado na Unidade Coronariana do Incor (Instituto do Coração), em São Paulo, desde o dia 18 de fevereiro.
Lucena iria completar 70 anos no próximo dia 22. O senador sofria de problemas renais, cardíacos e pulmonares. Este ano, ele recebeu duas pontes de safena e uma mamária. Fazia diariamente hemodiálise (processo de filtração do sangue para eliminar impurezas) e estava respirando por meio de aparelhos.
Anteontem, segundo a chefe de gabinete do senador, Mariângela Albuquerque, os médicos colocaram um cateter (tubo) no abdômen para possibilitar a eliminação do excesso de líquidos no organismo (diálise).
Segundo os médicos, a pressão arterial do senador estava baixando por conta das hemodiálises. Os médicos estavam sendo obrigados a injetar medicamentos para tentar normalizar a pressão.
O corpo de Lucena deve chegar hoje à tarde a João Pessoa e deverá ser velado no Palácio da Redenção, sede do governo estadual.
Até o início da noite, a família não sabia dizer que dia Lucena será enterrado.
Com a morte do senador, assumirá a vaga o suplente Wellington Roberto (PMDB-PB).

Cassado e anistiado
Lucena estava no seu terceiro mandato de senador. Foi duas vezes presidente do Congresso.
Na campanha para seu último mandato, ele foi acusado de usar a gráfica do Senado para confeccionar calendários.
Em 1994, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) determinou a cassação do mandato do senador.
Da ala moderada do partido, Lucena só não perdeu o mandato porque foi anistiado por uma lei aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995.
A razão que apresentou por sancionar a lei foi "o risco de criar um conflito grave entre poderes".
O real motivo foi a pressão do PMDB (partido de Lucena). Se o governo não anistiasse Lucena, o Senado rejeitaria a indicação do economista Pérsio Arida para a presidência do Banco Central.
Para validar a anistia de Lucena, parlamentares amigos do senador organizaram uma "vaquinha" e arrecadaram os R$ 15.210,00 para pagar os custos dos 130 mil calendários.
Além do caso da "gráfica do Senado", Lucena teve seu nome envolvido na CPI do Orçamento.
Os parlamentares incluíam no Orçamento da União emendas para gastos "sociais". Aprovado o Orçamento, os parlamentares negociavam com o governo a liberação dessas verbas para entidades indicadas por eles.
As entidades recebiam o dinheiro e devolviam uma porcentagem ao parlamentar.
O economista José Carlos Alves dos Santos acusou o senador de conhecer o esquema de corrupção e de indicar entidades beneficiadas com liberação de verbas públicas. Lucena foi considerado inocente. O senador negou as acusações. "Posso ser considerado feio e burro, mas nunca desonesto."



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