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ALIADOS EM CRISE
Partido cogita aprovar moção a favor da cassação de senadores
PSDB teme levar culpa por eventual absolvição de ACM
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o enterro da CPI da corrupção, o senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA) volta ao
centro da cena política nesta semana envolto por uma dúvida: o
presidente Fernando Henrique
Cardoso barganhou ou não a absolvição de ACM pelo fim da CPI?
A oposição não tem dúvida de
que barganhou, mas o PSDB tentará demonstrar o contrário e
aprovar, na sua convenção nacional do próximo fim de semana,
em Brasília, uma moção pela cassação de ACM e de José Roberto
Arruda (sem partido-DF).
FHC e PSDB temem que a opinião pública, já irritada com o fim
da CPI, culpe o presidente por
uma eventual absolvição de ACM.
Nenhum dos cardeais tucanos
aceita apresentar a moção, mas a
cúpula partidária acha que basta
um dos convencionais fazê-lo para que seja aprovada. Ninguém se
disporia a discursar contra.
O partido tem três dos 16 integrantes do Conselho de Ética, que
vai ouvir nesta quarta-feira o parecer do senador Saturnino Braga
(PSB-RJ). A tendência é Saturnino pedir a abertura de processo
contra ACM e Arruda.
Os três tucanos são: o próprio
Arruda, Osmar Dias (PR), que assinou na última hora o requerimento da CPI da corrupção, e Lúcio Alcântara (CE), que está sob
fogo cruzado. De um lado, o
PSDB é contra ACM; de outro, o
governador tucano Tasso Jereissati (CE) é amigo do baiano.
Alcântara reúne-se hoje em Fortaleza com Tasso, que é seu principal aliado político e é próximo
de ACM a ponto de ter sido lançado por ele candidato à Presidência
da República em 2002. Descarta,
porém, qualquer pressão.
"O Tasso lamenta muito essa situação, principalmente porque é
amigo de ACM. Mas não fez nem
fará pressão nenhuma, porque
não é o estilo dele nem seria admissível", disse Alcântara ontem.
Ele provoca a cúpula tucana:
"Eu fico lendo informações e posições desencontradas do partido
na imprensa. É muito cômodo.
Por que, então, a Executiva Nacional não solta uma nota oficial?".
Confissão pefelista
Os tucanos e a cúpula do PFL foram surpreendidos, no sábado,
pela declaração do ministro pefelista Roberto Brant (Previdência
Social) de que falara com ACM,
em nome de FHC, durante a megaoperação para abortar a CPI.
Brant, FHC e o presidente do
PFL, senador Jorge Bornhausen
(SC), trocaram telefonemas no
próprio sábado. Depois, FHC negou qualquer interferência no
processo pela violação do painel
de votações do Senado.
Conforme a Folha apurou, além
de temer que a opinião pública se
volte contra ele próprio se os dois
senadores forem absolvidos, Fernando Henrique Cardoso analisa
que ACM é o principal culpado
pelos dois principais problemas
do governo: a própria CPI e, indiretamente, a crise energética.
O risco de existir uma CPI só
houve em função de denúncias e
declarações do senador baiano, e
os ministros de Minas e Energia
do primeiro mandato e de mais
da metade do segundo foram indicados por ACM. Eles teriam sido imprevidentes.
Há, ainda, dois argumentos para desvincular FHC de uma operação de bastidores para salvar os
mandatos de ACM e Arruda. Um
deles é que o governo retirou número suficiente de assinaturas da
CPI e não precisou, efetivamente,
do recuo dos baianos.
O outro é que, se ACM se mantiver senador, continuará sendo o
principal inimigo de FHC no
Congresso. Passado o processo do
painel do Senado e mantido senador, ele voltaria à carga com tudo
contra o governo.
Se ACM for salvo, porém, o presidente e o PSDB sabem que ninguém acreditará que não tiveram
nada a ver com isso.
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