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ENTREVISTAS DA 2ª
Convocado por Parente, professor Vicente Falconi tem receita para definir metas de corte
Governo vai testar método japonês no plano do apagão
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O método japonês de planejamento Hoshin Kanri, aplicado
pela Fundação de Desenvolvimento Gerencial em mais de 800
empresas brasileiras, vai orientar
o governo no racionamento de
energia previsto para junho.
O maior especialista do método
no Brasil, o mineiro Vicente Falconi Campos, 60, foi convocado
sexta-feira pelo ministro Pedro
Parente para integrar o "ministério do apagão" -oficialmente, a
Câmara de Gestão da Crise de
Energia.
O método, também chamado
de "gerenciamento por diretrizes", vai definir metas de cortes
por regiões, por distribuidoras de
energia e por usuários. Segundo
Falconi, várias empresas que adotam o modelo no Brasil, como a
Belgo-Mineira, Sadia, Acesita, já
se ofereceram para ceder pessoal
técnico para ajudar no trabalho.
Autor de seis livros sobre gerenciamento e programas de qualidade, professor aposentado da
Universidade Federal de Minas
Gerais, Falconi encarou o convite
como uma missão e deve embarcar hoje para Brasília levando
roupas para uma semana. Mas já
avisou à mulher e às duas filhas
que não tem data para voltar. É o
único integrante da força-tarefa
que não pertence ao governo.
Leia os principais trechos da entrevista concedida sexta-feira à
noite, pouco depois de ele ter sido
convocado por Parente.
Folha - Quais serão as suas funções na força-tarefa?
Vicente Falconi - Estão contando
comigo para ajudar no planejamento. Eles querem montar um
gerenciamento de todo o programa, desde a meta maior, de redução do consumo de energia, até as
metas estaduais, as metas por
operadora, por setor de economia
e os planos de ação.
Folha - Por que o sr. foi escolhido
para isso? Tem experiência de planejamento de racionamento?
Falconi - É isso exatamente o que
nós fazemos na fundação: planejamento das empresas, estabelecimento de metas e controle.
Folha - Mas, desta vez, parece
bem mais difícil. Uma fórmula aplicada às empresas pode ser usada
para um país?
Falconi - Pode, a fórmula é a
mesma. Tem-se que estabelecer
metas relacionadas umas com as
outras. Meta principal, metas secundárias e metas terciárias. Cada
uma delas com um plano de ação,
com responsáveis e reuniões de
acompanhamento. Não é colocar
a meta e esperar que ela aconteça.
Ainda não sabemos como será
feito o racionamento. O planejamento geral é que vai determinar
isso. As pessoas é que imaginam
que será por apagões, mas pode
ser que surjam outras idéias.
Folha - Como funciona esse esquema de metas? Na sua concepção, como será o trabalho?
Falconi - A meta principal será o
total de consumo a ser cortado.
Três regiões terão de sofrer cortes
de energia. Dividimos a meta
principal em três contribuições e
definimos com quanto cada região vai contribuir e cada uma delas passa a ter uma meta a cumprir. Depois, analisamos a situação das operadoras e estabelecemos a meta de corte para cada
uma. Em seguida, vemos, dentro
de cada operadora, qual é o consumo dos setores industrial, comercial, residencial e do setor público e estabelecemos uma meta
para cada setor. Feito isso, definimos os responsáveis pelo cumprimento de cada meta.
Ouviremos cada operadora para conhecer suas sugestões para
reduzir o consumo e iremos compondo o plano de ação. Os técnicos é que nos indicarão as ações
para cada setor.
Folha - Essa fórmula se aplica a
qualquer setor?
Falconi - Essa fórmula se aplica a
qualquer coisa: empresas privadas, governos estaduais, prefeituras, governo federal. A AmBev e o
grupo Gerdau, por exemplo, adotam essa metodologia.
Folha - Esse tipo de planejamento tem nome específico?
Falconi - Gerenciamento por diretrizes. É derivado do japonês:
Hoshin Kanri. É um método no
qual se congrega uma quantidade
muito grande de pessoas em torno de uma meta. Por meio desse
método, consegue-se atribuir responsabilidades específicas, planos específicos e cobranças específicas. Tem-se uma responsabilidade distribuída entre um número muito grande de pessoas.
Folha - Isso já foi usado alguma
vez para racionamento de energia?
Falconi - Não que eu saiba. Mas é
um método usado no mundo inteiro por grandes empresas.
Folha - Quem desenvolveu esse
método?
Falconi - Foi desenvolvido nos
EUA, na década de 70, pelo professor Peter Drucker. Os japoneses o aperfeiçoaram para ser aplicado a um grande número de pessoas. Estamos muito avançados
em sua aplicação no Brasil.
Folha - Ministérios e operadoras
de energia conhecem o método ou
a fundação terá que ensiná-los?
Falconi - Não é preciso ensinar
nem orientar. Vamos distribuir as
metas e colocar gente nossa em
cada frente de trabalho para ajudar a montar os planos de ação.
As cobranças serão feitas por
meio dos gráficos de controle.
Folha - Quantas pessoas da fundação estarão envolvidas?
Falconi - Ainda não sei. Serão
envolvidas quantas forem necessárias. Se tivermos de parar todas
as outras atividades, nós vamos
parar. Além disso, várias empresas clientes nossas me telefonaram dizendo que não apenas podemos suspender os serviços que
prestamos a elas, como se ofereceram para emprestar pessoal. Belgo-Mineira, Sadia, Acesita, são algumas das que ofereceram pessoal que conhece o programa.
Folha - O sr. não acha que o tempo está muito exíguo, uma vez que
o racionamento começa no dia 1º
de junho?
Falconi - Uai, estamos diante de
um problema e temos de resolvê-lo da melhor maneira que pudermos.
Folha - Quais são as dificuldades
que o sr. vê pela frente?
Falconi - Na segunda-feira [hoje"
é que vou ficar sabendo. Fui pego
de surpresa. Vou fazer tudo para
afetar o menos possível as empresas de mão-de-obra intensiva e a
economia.
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