São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Bate-boca e empurrões marcam disputa entre governistas e entusiastas da candidatura própria; Garotinho provoca Lula e Renan Calheiros

PMDB tem dia tenso e votação tumultuada

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A exemplo do clima tenso que predominou nas últimas semanas, a convenção do PMDB foi marcada por bate-boca, xingamentos e provocações na tribuna montada no auditório do Senado. Minutos antes do início da votação, houve troca de empurrões entre militantes do partido.
Com o microfone em punho, Anthony Garotinho insuflou o auditório, formado em maioria por seus aliados, ao afirmar que "o PMDB não é uma prostituta". "Nos convidam para ser ou virar uma prostituta. O PMDB não pode ir para a cama com ninguém a não ser com o povo brasileiro."
O discurso de Garotinho foi recheado de provocações ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e ao governo Lula, a quem se referiu como "essa quadrilha que se instalou no poder". Encerrou sua fala com um soco no ar em resposta a um coro comandado por sua filha, Clarissa, que pedia seu nome para "presidente do Brasil".
Presidente da República em exercício, Renan deixou a convenção antes da chegada de Garotinho, com os senadores José Sarney (AP), Ney Suassuna (PB) e o ex-ministro das Comunicações Eunício Oliveira (CE). Mas antes de votar rebateu às manifestações: "É uma claque de quatro gatos pingados que não têm votos. Isso mostra que Garotinho não está preparado para ser presidente".
Na seqüência, o ex-presidente Itamar Franco (1992-1994) também discursou. Com a voz rouca, foi mais comedido, mas terminou aplaudido por sua defesa à tese da candidatura própria. "De que adianta termos governadores e senadores se não temos a Presidência da República?"
Após a fala dos dois pré-candidatos, Garotinho constrangeu Itamar e o ex-governador Orestes Quércia (SP) ao sugerir que todos se levantassem juntos, com as mãos dadas, diante do coro pela candidatura própria entoado por seus aliados no auditório.
O último discurso polêmico antes do intervalo na convenção foi do senador gaúcho Pedro Simon (RS), que fez ataques a Renan e Sarney. "Essa gente aqui não tem nada a ver com aquela (...) Pergunte ao [Aloizio] Mercadante [senador do PT] se ele tem metade dos cargos que Renan e Sarney têm no governo", disse Simon.
Na apuração dos votos, o clima voltou a esquentar quando os apoiadores de Garotinho passaram a provocar Suassuna queimando uma nota de R$ 2 aos gritos de "Suassuna, sanguessuga!", em referência ao suposto envolvimento de um assessor do senador no esquema de desvio de recursos do Orçamento.
Apesar do forte esquema de segurança no Senado (120 homens contratados de uma empresa privada), cerca de 20 apoiadores da candidatura de Garotinho entraram em atrito com delegados de Pernambuco, comandando por Jarbas Vasconcelos, ex-governador daquele Estado (1999-2006).
Com o dedo em riste, os aliados de Garotinho chamaram Jarbas de "traidor", "Judas" e "bêbado" -o pernambucano defendeu até o início do ano a candidatura própria, mas agora trocou de lado. Os adeptos de Jarbas reagiram com palavrões e houve gritaria e empurrões.
Em discurso, Garotinho também fez menções ao aparato policial destacado por Renan para acompanhar o evento e queixou-se quanto a proibição da entrada de seus apoiadores no auditório. Do lado de fora do Congresso, cerca de cem aliados de Garotinho montaram tendas e protestaram ao som de trios elétricos.


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