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TRANSIÇÃO
Presidente quer apoio mais incisivo dos candidatos ao acordo com FMI
FHC quer dividir ônus da crise com presidenciáveis
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso marcou encontros
na segunda-feira com os quatro
principais candidatos à sua sucessão para dividir com eles a responsabilidade da gestão da crise
econômica e criar um fato político
que acalme o mercado financeiro.
As reuniões, separadas, terão uma
hora de duração cada uma.
Segundo a Folha apurou, a tentativa de dividir a responsabilidade da crise com os presidenciáveis, especialmente com os três de
oposição, deve-se à avaliação do
governo de que o acordo de US$
30 bilhões com o FMI não foi suficiente para assegurar uma transição de governo tranquila.
FHC teme que a crise estoure
ainda em seu governo e manche
sua biografia, como já ocorreu
com seus colegas latino-americanos. O efeito Menem assusta o
presidente, que quer deixar o governo com seu prestígio internacional inabalado.
O roteiro do encontro não prevê
nenhuma assinatura que endosse
formalmente o acordo com o
FMI, mas FHC espera que os candidatos reiterem seu apoio ao
acordo de forma mais incisiva. As
conversas preliminares não garantem, porém, que o resultado
será totalmente positivo para o
governo. Segundo assessores, o
presidente decidiu correr o risco.
A decisão de se encontrar com
os presidenciáveis, hipótese que
FHC chegou a descartar quando a
notícia do acordo com o FMI pareceu ter acalmado o mercado, foi
tomada na última sexta-feira.
Nesse dia, o dólar subiu de novo
e não voltou mais a cair significativamente. Ainda na sexta, FHC
teve conversas com o presidente
do Banco Central, Armínio Fraga,
e com os ministros Pedro Malan
(Fazenda) e Pedro Parente (Casa
Civil), nas quais se decidiu articular um apoio mais forte dos oposicionistas ao acordo com o FMI.
No entanto, não há garantia de
que os oposicionistas avancem
além do que já disseram. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não
queria o encontro para não dividir o ônus da crise com FHC, só
aceitou para não passar a imagem
de intransigente.
A coordenação de sua campanha se reuniu duas vezes nesta semana para discutir o convite. Os
políticos mais influentes do PT,
como José Dirceu, Antônio Palocci e Aloizio Mercadante, foram favoráveis ao encontro. Mas houve
algumas vozes contrárias, que argumentaram que Lula "caiu numa armadilha" de FHC e será
"usado" para dar aval às medidas
impopulares que o presidente tomará até o fim do mandato.
Por isso, Lula queria ser o último a encontrar FHC e, se possível, ser recebido em dia diferente.
O petista desejava ver a repercussão dos encontros e mapear melhor as intenções do presidente.
Disse que não podia comparecer
amanhã, primeira data cogitada
pelo Planalto. Mas FHC mudou a
agenda para segunda, o dia em
que Lula disse estar livre.
Ciro Gomes (PPS), que deu um
apoio mais crítico que o do PT,
também já disse que vai ao encontro, mas que não deixará de apontar suas discordâncias. Anthony
Garotinho (PSB) também deverá
adotar tom crítico. Apenas José
Serra (PSDB), que não desejava
que FHC tirasse fotos com Lula e
Ciro, reiterará o já conhecido
apoio enfático ao acordo com o
FMI, apesar de ter discordado da
política econômica por anos.
Os horários das reuniões foram
marcados para evitar um encontro de Ciro e Serra no Planalto. Os
dois têm travado um tiroteio verbal. A ordem dos encontros será:
Ciro (12h), Lula (13h), Garotinho
(14h) e Serra (15h). FHC estará
acompanhado de Malan, Parente
e Fraga. Cada candidato deverá
levar dois assessores econômicos.
Pacto
Com o encontro, FHC deseja
uma espécie de pacto de transição, sob o argumento de que interessa a todos evitar uma crise de
proporções argentinas. No país
vizinho, a economia derreteu e
gerou crise institucional e social.
De quebra, o encontro é conveniente para FHC porque pode
transmitir à opinião pública a
idéia de que a crise não tem apenas motivação econômica, mas
principalmente política, já que estaria sendo agravada pela liderança, nas pesquisas, de dois candidatos de oposição: Lula e Ciro.
A maior preocupação do presidente é a dificuldade de acesso a
crédito externo para financiar
empresas e exportações. As linhas
dos bancos estrangeiros continuam fechadas, apesar do acordo
com o FMI. O Banco Central e o
BNDES buscam alternativas, mas
a situação é crítica.
(KENNEDY ALENCAR E OTÁVIO CABRAL)
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