São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente quer apoio mais incisivo dos candidatos ao acordo com FMI

FHC quer dividir ônus da crise com presidenciáveis

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso marcou encontros na segunda-feira com os quatro principais candidatos à sua sucessão para dividir com eles a responsabilidade da gestão da crise econômica e criar um fato político que acalme o mercado financeiro. As reuniões, separadas, terão uma hora de duração cada uma.
Segundo a Folha apurou, a tentativa de dividir a responsabilidade da crise com os presidenciáveis, especialmente com os três de oposição, deve-se à avaliação do governo de que o acordo de US$ 30 bilhões com o FMI não foi suficiente para assegurar uma transição de governo tranquila.
FHC teme que a crise estoure ainda em seu governo e manche sua biografia, como já ocorreu com seus colegas latino-americanos. O efeito Menem assusta o presidente, que quer deixar o governo com seu prestígio internacional inabalado.
O roteiro do encontro não prevê nenhuma assinatura que endosse formalmente o acordo com o FMI, mas FHC espera que os candidatos reiterem seu apoio ao acordo de forma mais incisiva. As conversas preliminares não garantem, porém, que o resultado será totalmente positivo para o governo. Segundo assessores, o presidente decidiu correr o risco.
A decisão de se encontrar com os presidenciáveis, hipótese que FHC chegou a descartar quando a notícia do acordo com o FMI pareceu ter acalmado o mercado, foi tomada na última sexta-feira.
Nesse dia, o dólar subiu de novo e não voltou mais a cair significativamente. Ainda na sexta, FHC teve conversas com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e com os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Pedro Parente (Casa Civil), nas quais se decidiu articular um apoio mais forte dos oposicionistas ao acordo com o FMI.
No entanto, não há garantia de que os oposicionistas avancem além do que já disseram. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não queria o encontro para não dividir o ônus da crise com FHC, só aceitou para não passar a imagem de intransigente.
A coordenação de sua campanha se reuniu duas vezes nesta semana para discutir o convite. Os políticos mais influentes do PT, como José Dirceu, Antônio Palocci e Aloizio Mercadante, foram favoráveis ao encontro. Mas houve algumas vozes contrárias, que argumentaram que Lula "caiu numa armadilha" de FHC e será "usado" para dar aval às medidas impopulares que o presidente tomará até o fim do mandato.
Por isso, Lula queria ser o último a encontrar FHC e, se possível, ser recebido em dia diferente. O petista desejava ver a repercussão dos encontros e mapear melhor as intenções do presidente. Disse que não podia comparecer amanhã, primeira data cogitada pelo Planalto. Mas FHC mudou a agenda para segunda, o dia em que Lula disse estar livre.
Ciro Gomes (PPS), que deu um apoio mais crítico que o do PT, também já disse que vai ao encontro, mas que não deixará de apontar suas discordâncias. Anthony Garotinho (PSB) também deverá adotar tom crítico. Apenas José Serra (PSDB), que não desejava que FHC tirasse fotos com Lula e Ciro, reiterará o já conhecido apoio enfático ao acordo com o FMI, apesar de ter discordado da política econômica por anos.
Os horários das reuniões foram marcados para evitar um encontro de Ciro e Serra no Planalto. Os dois têm travado um tiroteio verbal. A ordem dos encontros será: Ciro (12h), Lula (13h), Garotinho (14h) e Serra (15h). FHC estará acompanhado de Malan, Parente e Fraga. Cada candidato deverá levar dois assessores econômicos.

Pacto
Com o encontro, FHC deseja uma espécie de pacto de transição, sob o argumento de que interessa a todos evitar uma crise de proporções argentinas. No país vizinho, a economia derreteu e gerou crise institucional e social.
De quebra, o encontro é conveniente para FHC porque pode transmitir à opinião pública a idéia de que a crise não tem apenas motivação econômica, mas principalmente política, já que estaria sendo agravada pela liderança, nas pesquisas, de dois candidatos de oposição: Lula e Ciro.
A maior preocupação do presidente é a dificuldade de acesso a crédito externo para financiar empresas e exportações. As linhas dos bancos estrangeiros continuam fechadas, apesar do acordo com o FMI. O Banco Central e o BNDES buscam alternativas, mas a situação é crítica. (KENNEDY ALENCAR E OTÁVIO CABRAL)



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