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NO AR
Jogo de cena
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Fernando Henrique, que
em Brasília dizem ser um
sedutor de políticos, vai levar
conversa com Lula, Ciro Gomes,
José Serra e Garotinho, todos
quase de uma vez.
Convidou, eles relutaram,
mas aceitaram -e lá estava o
sedutor, ontem, cobrando deles,
no morde-e-assopra. Intimou,
no Jornal Nacional e nos demais
telejornais, canais e rádios de
notícias:
- Os candidatos têm as suas
responsabilidades. Gostaria de
vê-los assumindo -alguns já o
fizeram- as responsabilidades
perante o país.
Pedro Malan, que deve estar
na reunião ao lado de Armínio
Fraga e Pedro Parente, também
cobrou:
- É preciso que eles mostrem
claramente o seu compromisso
com o país.
Os candidatos se esforçaram
por representar alguma reação.
Lula, como quase sempre, pediu
um dia para responder. Depois
falou que aceitava, mas só com
"pauta concreta".
O petista José Dirceu apareceu
para ajudar. Disse que Lula vai,
mas não quer tomar parte em
"jogo de cena".
Estão todos no jogo de cena.
FHC, acuado pela crise cambial,
quer fazer cena para "acalmar o
mercado", na expressão gasta
pelos telejornais.
E conversar não só com os
candidatos, mas também com
Míriam Leitão.
Os candidatos de oposição, de
seu lado, encenam resistência
não para o mercado, mas para
seus eleitores.
Além de Lula, também Ciro
levanta empecilhos aqui e ali.
Segundo a Globo, os candidatos
nem puderam fechar a reunião
com o presidente da República
para esta semana:
- Alegam problemas de
agenda.
Ciro chegou a reclamar, algo
comicamente, que ele ainda não
tinha o convite oficial.
Garotinho aceitou a conversa,
como todos, mas foi mais direto
quanto ao seu esforço de não
aparentar apoio:
- Eu não quero passar que
estou em concordância com
uma situação que eu sei que vai
estourar.
Fernando Henrique precisa de
muita conversa, mais do que em
oito anos, para seduzir tantos
homens.
Para Franklin Martins:
- As conversas podem ser
boas para ajudar o governo a
enfrentar uma transição muito
delicada. Mas é evidente que
não ajudam ao candidato do
governo. Serra perde o discurso
de que é o único preparado para
pilotar o país em crise.
Serra, no JN, nem tinha o que
dizer sobre as conversas. Falou
que apóia. De novo.
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