São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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GOVERNADORES

Mesmo rejeitado, Collor afirma que Ciro é "esforçado"

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Aos 52 anos, completados anteontem, o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB) ganhou a cena nacional há uma semana ao declarar que vota em Ciro Gomes (PPS) para presidente. O apoio foi rejeitado. Mas o ex-presidente segue dizendo que Ciro é o melhor.
Collor afirma também que o presidente Fernando Henrique Cardoso e outros tucanos queriam participar de seu governo. "Ele [FHC] estava absolutamente excitado com a idéia de ser ministro das Relações Exteriores." Segundo a assessoria do presidente, nada do que Collor declarou sobre o assunto corresponde à verdade. O ex-presidente falou à Folha na semana passada.
 

Folha - Seu apoio a Ciro Gomes foi rejeitado pelo candidato. Até o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que é seu amigo, diz que o sr. quer pegar carona. O senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), seu ex-ministro, falou que o sr. quer aparecer.
Collor -
É, tudo bem. O Jorge é uma pessoa que eu estimo. Mas ele está inteiramente equivocado: se há uma pessoa que não pega carona sou eu. Outras pessoas é que pegam carona em mim. Estou num projeto político, em Alagoas, de oposição. Naturalmente, temos um candidato à Presidência. Por exclusão, fui para o Ciro, o candidato da nossa coligação.

Folha - Mas a sua coligação tem tucanos também.
Collor -
Demais, demais. E eu fico muito honrado com o apoio das bases tucanas. São prefeitos que pautam a sua conduta dentro dos mais rígidos parâmetros éticos. Mas o Serra foi para Petrolina (PE), pediu para abrir uma fruta exótica e, estupefato, constatou que era uma melancia. Há uma absoluta incompatibilidade entre o Serra e o povo mais sofrido.

Folha - Por que o Ciro é um bom candidato?
Collor -
Ele tem experiência administrativa e um conhecimento mais apurado da nossa realidade, do nosso chão. É esforçado e operoso. Tem procurado se aperfeiçoar, fez cursos no exterior.

Folha - O que há de semelhante entre o sr. e o Ciro?
Collor -
Os pontos mais notórios são o fato de sermos do Nordeste e de termos uma trajetória semelhante. Aí procuram fazer essa comparação. Agora, não existem pessoas com o mesmo DNA. E eu nunca disse que ele cresceu por causa dessa comparação. Mas, no mínimo, não foi prejudicado.

Folha - Todo político tem caixa dois na campanha, como afirmou a ex-governadora Roseana Sarney?
Collor -
É muita hipocrisia falar em caixa dois. O candidato raramente participa da gestão do caixa. Você chega no comício e discursa. Não é você que monta o palanque, ajusta o som, faz a luz. Nas finanças, acontece o mesmo.

Folha - Entre o Lula e o Serra, no segundo turno, o sr. votaria em quem?
Collor -
Vai dar Ciro e Lula.

Folha - E se der Lula e Serra?
Collor -
(ri) Vamos aguardar.

Folha - O sr. conviveu com o Serra quando era presidente?
Collor -
Foi um diálogo apenas de ter feito a ele o convite, em duas oportunidades, para ser o meu ministro da Fazenda. E ele não pôde, em função dessa história, já pisada e repisada, de que o [Mário] Covas se colocou contra.

Folha - Mas ele queria?
Collor -
Ele, o [presidente" Fernando Henrique [Cardoso], todos estavam desejosos de fazer essa aliança. O Fernando Henrique ultrapassava a fronteira do desejo. Ele estava absolutamente excitado com a idéia de ser ministro das Relações Exteriores.

Folha - E o Serra?
Collor -
O Serra, não. Contido, muito contido, sem dar azo a qualquer tipo de emoção.

Folha - Havia algum outro tipo de interlocução política com tucanos?
Collor -
O [ministro da Justiça] Bernardo Cabral me trouxe, no começo do governo, a solicitação do Fernando Henrique e do Covas para que eles mantivessem os espaços que tinham no governo Sarney. Isso atendido, eles fariam uma oposição mais combinada com o governo. Foi feito esse pedido com muita ênfase ao Cabral.

Folha - O Serra tinha espaço também que queria manter?
Collor -
Não, não.

Folha - Depois de governar Alagoas, o sr. vai se candidatar à Presidência?
Collor -
Minha preocupação é a de me eleger e fazer um governo que envaideça os alagoanos.



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