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REFORMA SOB PRESSÃO
Relator excluiu da tributária limites do tributo, possibilitando cobrança de alíquotas diferenciadas
Relatório dá margem para aumento da CPMF
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relatório da reforma tributária, feito pelo deputado Virgílio
Guimarães (PT-MG), abre caminho para um eventual aumento
da alíquota da CPMF -hipótese
que tende a ganhar força se o governo for obrigado a reparti-la
com Estados. Guimarães decidiu
tirar da reforma os limites para a
alíquota da CMF (Contribuição
sobre Movimentação Financeira),
que deverá substituir a CPMF.
No texto original enviado à Câmara pelo Planalto, previa-se que
a nova contribuição teria um piso
de 0,08% e um teto de 0,38%,
equivalente à alíquota atual. Com
isso, o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) procurava garantir que o tributo não subiria.
Essa regra não existe no relatório a ser apresentado nesta segunda-feira. Em seu lugar, Guimarães
incluiu a permissão para que a
CMF tenha alíquotas diferenciadas, dependendo da operação.
"Não faz sentido fixar alíquota de
imposto ou contribuição no texto
constitucional. Isso não existe em
nenhum lugar do mundo."
Na atual conjuntura, porém, os
riscos são evidentes, como demonstra o exemplo da Cide, cobrada sobre a venda dos combustíveis: na sexta passada, pressionado pelos governadores, o Planalto concordou em repassar aos
Estados 25% da receita da contribuição; anteontem, o ministro
Guido Mantega (Planejamento)
previu que o tributo será elevado.
Aprovada a proposta do relator,
a nova alíquota da CMF será definida em legislação posterior. A reforma prevê, porém, que, enquanto não for regulamentada a
CMF, a CPMF fica automaticamente prorrogada com a alíquota
atual. O dispositivo livra o governo do risco de um atraso na arrecadação do tributo se o projeto for
aprovado ainda neste ano. Essa
regra não foi alterada no texto.
Para o governo, hoje, o principal objetivo da reforma tributária
é manter a CPMF e seus R$ 24 bilhões anuais. O problema é que o
lobby dos governadores pela partilha da receita tem ampla acolhida nos oposicionistas PSDB e PFL
e no aliado PMDB.
"Pode cair"
O relator diz que não tem como
proibir na Constituição o aumento da carga tributária. "Todos os
impostos podem subir, essa é
uma prerrogativa do legislador. A
CPMF pode subir, mas também
pode cair."
Para Guimarães, a melhor forma de evitar a alta dos impostos
com a reforma seria sua proposta
inicial: reduzir o ICMS e elevar a
CPMF a 0,5%, usando a receita
adicional para cobrir as perdas
dos Estados. A CPMF é condenada por empresários e especialistas
por ser um tributo cumulativo
(incide em todas as etapas da produção), regressivo (tributa igualmente ricos e pobres) e encarecedor das transações financeiras.
O tema também é caro ao PT,
cuja bancada na Câmara divulgou
em 2002 um documento criticando a contribuição e defendendo
sua existência apenas com uma
alíquota simbólica (0,08%), destinada à fiscalização do mercado.
O pragmatismo de Palocci, porém, levou o governo Lula a propor a perenização da CMF na reforma, sem compromisso formal
de redução da alíquota -a queda
prometida dependerá da definição de outras fontes de receita.
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