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Dívida externa só não é problema se o país seguir crescendo
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As críticas do governo FHC ao
plebiscito sobre a dívida externa
são corretas apenas no cenário
atual em que se encontra o Brasil,
seja no plano interno como no externo.
Se o país parar de crescer, ou se
ocorrer uma crise internacional,
as empresas que devem no exterior podem ficar em dificuldade
para pagar os seus compromissos.
Mais ou menos o que aconteceu
no início de 99, quando houve a
desvalorização do real. Ou no início da década de 80.
Hoje, a dívida externa está solucionada. Não é um problema,
mas um alívio para as empresas
privadas e também para o governo federal: as captações externas
são uma fonte de dinheiro barato.
Também está correta a afirmação do ministro da Fazenda, Pedro Malan, sobre a mudança do
perfil dos débitos brasileiros no
exterior.
No início dos anos 90, a dívida
externa total era de US$ 123,91 bilhões. Desse total, US$ 104,73 bilhões (84,5%) eram devidos pelo
setor público. E só US$ 19,18 bilhões (15,5%) por empresas da
iniciativa privada.
Mudou perfil
No início desta década, a dívida
era concentrada. Um condomínio
de cerca de 500 bancos -coordenado pelo norte-americano Citibank- detinha quase a totalidade da dívida brasileira.
Agora, é diferente. A dívida externa brasileira total é de US$
231,35 bilhões. Só US$ 92,17 bilhões (39,8%) são devidos pelo setor público. O restante, US$ 139,17
bilhões (60,2%), está com o setor
privado.
Além disso, não se deve mais
para 500 bancos. Há milhares de
credores do Brasil no exterior.
Não é possível saber quantos credores há.
Os papéis das dívidas externas
do Terceiro Mundo passaram, da
década de 80 para cá, a ser negociados no mercado. Circulam de
mão em mão diariamente. Seria
impossível fazer uma renegociação em bloco agora no formato
em que foi realizada a da primeira
metade desta década.
Apesar desses argumentos a seu
favor, o governo omite um dado
importante. Em décadas passadas, a dívida externa brasileira
também era em grande parte do
setor privado nacional.
Depois da crise do petróleo e
das moratórias do início da década de 80, as empresas brasileiras
continuaram a pagar o que deviam. Mas o dinheiro era represado no Banco Central.
O que era dívida privada passava a ser dívida estatal. Assim, aos
poucos, a dívida externa brasileira
se tornou quase toda do governo
federal.
Capacidade
O problema potencial da dívida
externa não é ser pública ou privada, mas sim a capacidade de pagamento futuro do país.
Em um cenário de crescimento,
não há crise. Mas a roda não pode
parar.
Um exemplo: neste ano devem
vencer US$ 30,014 bilhões da dívida externa brasileira. Quase nada
será pago. A regra é rolar o máximo possível.
Numa crise recessiva, entretanto, vários credores podem preferir
receber a fatura de uma vez, recusando a rolagem.
Na crise internacional de 98, o
país perdeu US$ 28 bilhões de reservas de setembro a novembro
daquele ano.
Hoje, as reservas são de US$
31,126 bilhões.
Em resumo: se o país continuar
a crescer, se os credores mantiverem a boa vontade de rolar os empréstimos vencidos, o país não terá problema.
Mas é impossível garantir que
esse cenário se manterá eternamente.
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