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CRIME ORGANIZADO
Luiz Alberto Dondo Gonçalves, contador da quadrilha do comendador, detalhou esquema em depoimento
Operador revela como Arcanjo lavou dinheiro
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O contador da quadrilha de
João Arcanjo Ribeiro quebrou o
silêncio. Chama-se Luiz Alberto
Dondo Gonçalves. Está preso em
Cuiabá. Em depoimento à Justiça
Federal, na quinta, contou como
funciona o esquema de lavagem
de dinheiro de uma das maiores
organizações criminosas do país.
O dinheiro sujo foi lavado em
investimentos nos EUA e em operações de crédito no Uruguai. Os
recursos transitaram por duas
instituições financeiras: BankBoston e Deutsche Bank. Não se sabe,
por ora, se houve conivência da
direção uruguaia dos dois bancos.
A base de ação de João Arcanjo
Ribeiro é o Estado de Mato Grosso. O bandido erigiu um império
empresarial. Batizou-o com as
iniciais de seu nome: Grupo JAR.
Auditoria da Receita constatou
que a quadrilha movimentou cerca de R$ 1 bilhão entre 1997 e 2001.
Arcanjo controla uma rede de firmas de factoring, uma construtora, um shopping center, propriedades rurais, casas de jogos, uma
firma em Montevidéu (Uruguai)
e um hotel na Flórida (EUA).
O depoimento do contador
Dondo Gonçalves tonifica conclusões extraídas de documentos
obtidos em operações policiais de
busca e apreensão. A última delas
foi realizada em Montevidéu, no
dia 11 de abril. Os documentos
chegaram ao Brasil há 15 dias. De
acordo com o depoimento do
contador e com os documentos, a
lavagem de dinheiro foi assim:
1) a quadrilha de Arcanjo Ribeiro enviou dinheiro sujo para o
Uruguai. Saía do caixa paralelo de
uma das empresas do grupo, a
Confiança Factoring, de Cuiabá.
O envio teria sido feito por meio
de duas empresas. Foram identificadas no depoimento de Dondo
Golçalves como Incomep, de
Cuiabá, e Finambras, de S. Paulo;
2) em Montevidéu, o dinheiro
era depositado em contas bancárias de uma firma uruguaia da
quadrilha, a Aveyron. Fica na rua
San Jose, nš 807. Tem como diretores Arcanjo, a mulher dele, Silvia, e Dondo Gonçalves;
3) inicialmente, a Aveyron operava com o BankBoston situado à
rua Zaballa, nš 1.248, Montevidéu.
A conta "era movimentada exclusivamente por Arcanjo Ribeiro";
4) segundo Dondo Gonçalves,
"o dinheiro remetido para o Uruguai retornava para o Brasil na
forma de empréstimos". Nos registros do BC brasileiro, as operações encontram-se assentadas como empréstimos do BankBoston
uruguaio à Confiança Factoring;
5) em suas operações de busca e
apreensão, a Polícia Federal
apreendeu vários contratos de
empréstimo do BankBoston para
a Confiança. Os papéis informam
que as operações foram celebradas "por conta, ordem e risco do
comitente", ou seja, a Aveyron;
6) feito os empréstimos, o BankBoston do Uruguai cedeu à Aveyron os "créditos" que supostamente teria a receber da Confiança. A cessão dos créditos não
consta dos registros do BC;
7) assim, o que era um empréstimo do Boston tornou-se um repasse financeiro da uruguaia
Aveyron, de Arcanjo Ribeiro, para a brasileira Confiança Factoring, também de Arcanjo Ribeiro;
7) na prática, Arcanjo "emprestou" dinheiro para si mesmo, em
operações cujo objetivo era repatriar, de forma legal e limpa, os recursos sujos que haviam emigrado de modo irregular;
8) disse o contador Dondo Gonçalves em seu depoimento: "O
BankBoston oficialmente emprestava o dinheiro que, contudo,
pertencia à Aveyron". O banco
cobrava pelas operações uma "comissão de administração de 4%";
8) em dado momento, o gerente
da agência uruguaia do BankBoston, identificado por Dondo Gonçalves como Eduardo Labella,
mudou-se para uma sucursal do
Deutsche Bank em Montevidéu.
A conta da Aveyron e os "créditos" que detinha na Confiança
migraram para o mesmo banco;
9) segundo Dondo Gonçalves
foram repatriados do Uruguai para o Brasil cerca de U$ 30 milhões.
Com base em números do BC, o
Ministério Público estima uma
quantia maior: US$ 40 milhões.
10) de acordo com Dondo Gonçalves, além dos recursos aportados à contabilidade da Confiança
Factoring, o dinheiro vindo de
Montevidéu irrigou as contas de
outras empresas de Arcanjo no
Brasil. O contador da quadrilha
mencionou a Elma Eletricidade e
a Unidas Investimentos;
11) em 98, Arcanjo Ribeiro decidiu construir um hotel em Orlando, na Flórida (EUA). Parte do dinheiro para a obra (US$ 14,8 milhões) saiu da conta da Aveyron
no Deutsche. A verba foi remetida
do Uruguai "para agência de Nova York do mesmo banco";
10) Dondo Gonçalves contou
também que Arcanjo realizou
operações financeiras em outros
bancos americanos. Mencionou o
Saint Trust Central Florida e
Ocean Bank de Miami.
O Ministério Público pretende
ouvir todos os bancos e corretoras
que fizeram negócios com as empresas de Arcanjo Ribeiro.
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