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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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Igreja orçou reconstrução das imagens em R$ 24 mil, mas seu saldo de caixa em agosto era de R$ 41,89

Padre não descarta ação de fazendeiros

DO ENVIADO ESPECIAL A MONTE SANTO

A hipótese de que as imagens de Monte Santo poderiam ter sido destruídas a mando de fazendeiros não pode ser descartada, para o padre Claudio Cobalchini.
Antes do atentado, duas fazendas do município tiveram suas cercas derrubadas e as sedes incendiadas (agora são quatro as atacadas). Os camponeses acusam os fazendeiros de grilar suas terras e cercar pastos coletivos usados para criar bode.
O padre diz que os fazendeiros mandaram recados à igreja para tentar conter as invasões e as pregações de justiça social da Comissão Pastoral da Terra: "Essa é uma pastoral da igreja do Brasil e não podemos abandoná-la".
O promotor Marcelo Cerqueira César, 34, que conduz as investigações sobre o ataque, não descarta nenhuma hipótese, mas diz preferir acreditar em vandalismo: "Os jovens usam a Via Crúcis para fumar maconha. Acho que alguém destruiu as imagens impulsionado pelo uso de drogas".
Ele mesmo reconhece que a possibilidade de se chegar ao culpado tende a zero: a cidade não tem delegado e um único policial civil. A Polícia Federal diz que investigará o atentado, mas nenhum agente foi visto na cidade.
A igreja orçou a reconstrução do corpo das imagens em R$ 24 mil, mas o saldo de seu caixa em agosto era de R$ 41,89.
Acácia Rios, 30, que faz mestrado na UniRio (Universidade do Rio de Janeiro) sobre a memória social de Conselheiro nas lutas camponesas, acha que a perda das imagens gerará um sentimento de orfandade. "O sertanejo precisa da imagem para tocar, para sentir o sagrado. Sem elas, a tradição se romperá e há o risco de perda da noção do sagrado."



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