São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"

Representação contra o presidente da Câmara lista sete supostas irregularidades

Cinco partidos de oposição pedem cassação de Severino

FÁBIO ZANINI
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Presidentes de cinco partidos de oposição formalizaram ontem ao Conselho de Ética da Câmara pedido de abertura de processo contra o presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), que pode levar à sua cassação.
Assinam o documento os presidentes do PFL, Jorge Bornhausen, do PPS, Roberto Freire, do PDT, Carlos Lupi, e do PV, José Luiz Penna. O presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, acusado de usar caixa dois em sua campanha de reeleição a governador de Minas Gerais, assinou por meio de procuração e não compareceu ao ato de entrega do documento.
Os partidos citam a suposta prática de três crimes por Severino, derivados da acusação de que ele recebia R$ 10 mil mensais do proprietário de um restaurante da Câmara: improbidade administrativa, concussão (exigir de alguém vantagens indevidas) e desrespeito à Lei das Licitações.
Os partidos da base do governo não participaram, mas um grupo dissidente de 20 deputados da esquerda do PT apoiou a iniciativa, assim como parlamentares do PSOL, que, por ter apenas registro provisório, não pôde assinar como partido. O PMDB foi representado pelo deputado Moreira Franco (RJ), mas não pelo seu presidente, Michel Temer.
"O representado, deputado Severino Cavalcanti, vem exercendo o mandato de presidente com nítido grau de parcialidade, o que configura comportamento incompatível com o decoro parlamentar, por abuso de prerrogativas inerentes à sua condição", diz a representação.

Próximos passos
A ação foi entregue ao presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP). Ele deve enviá-la hoje para a Mesa Diretora, para ser numerada. Nessa etapa Severino pode atrasar a tramitação, mas seus assessores adiantam que ele não fará isso. Depois de numerada, a ação é devolvida ao Conselho, que nomeia um relator. A partir desse momento, uma eventual renúncia de Severino não cancelará o processo. Esse trâmite deve durar dois dias.
A representação lista sete "pecados" de Severino à frente da Câmara: assinatura de um documento sem validade jurídica para prorrogar contrato com o restaurante; recebimento do "mensalinho"; concussão contra o empresário Sebastião Buani; ameaças de retaliação a parlamentares que defendem seu afastamento; defesa de penas brandas para usuários de caixa dois; defesa de financiamento irregular pelo PP; tentativa de segurar processos de cassação contra deputados. Severino nega todas as acusações. Um assessor próximo disse ontem que ele pretende se defender no Conselho.
A ação, em seu formato final, ficou com 14 páginas. Várias reportagens são anexadas, inclusive a entrevista dada por Severino à Folha há duas semanas em que ele dizia não haver o "mensalão".
"Necessário, portanto, reagir por meio da imediata apuração dos fatos descritos, os quais, uma vez confirmados, por meio do devido processo legal, ensejam a sanção de perda do mandato do representado, como medida profilática, inexorável e imperiosa à preservação desta Casa legislativa", diz a ação. O processo todo deve durar 90 dias.
São citados o artigo 4º do Código de Ética, que prevê perda de mandato para deputado que abusar de suas prerrogativas e receber vantagens indevidas, e o artigo 17 do regimento interno da Câmara, pelo qual uma das atribuições do presidente é "zelar pelo prestígio e decoro" da Casa.
A ação foi finalizada ontem em duas reuniões entre os partidos, de manhã e à tarde. O PSDB chegou a fazer suspense sobre assinar ou não, descontente com um parágrafo que dizia que sessões de cassação de deputados não poderiam ser presididas por Severino. O trecho foi retirado.


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