|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DO "MENSALINHO"
Representação contra o presidente da Câmara lista sete supostas irregularidades
Cinco partidos de oposição pedem cassação de Severino
FÁBIO ZANINI
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Presidentes de cinco partidos de
oposição formalizaram ontem ao
Conselho de Ética da Câmara pedido de abertura de processo contra o presidente da Casa, Severino
Cavalcanti (PP-PE), que pode levar à sua cassação.
Assinam o documento os presidentes do PFL, Jorge Bornhausen,
do PPS, Roberto Freire, do PDT,
Carlos Lupi, e do PV, José Luiz
Penna. O presidente do PSDB,
Eduardo Azeredo, acusado de
usar caixa dois em sua campanha
de reeleição a governador de Minas Gerais, assinou por meio de
procuração e não compareceu ao
ato de entrega do documento.
Os partidos citam a suposta prática de três crimes por Severino,
derivados da acusação de que ele
recebia R$ 10 mil mensais do proprietário de um restaurante da
Câmara: improbidade administrativa, concussão (exigir de alguém vantagens indevidas) e desrespeito à Lei das Licitações.
Os partidos da base do governo
não participaram, mas um grupo
dissidente de 20 deputados da esquerda do PT apoiou a iniciativa,
assim como parlamentares do
PSOL, que, por ter apenas registro
provisório, não pôde assinar como partido. O PMDB foi representado pelo deputado Moreira
Franco (RJ), mas não pelo seu
presidente, Michel Temer.
"O representado, deputado Severino Cavalcanti, vem exercendo
o mandato de presidente com nítido grau de parcialidade, o que
configura comportamento incompatível com o decoro parlamentar, por abuso de prerrogativas inerentes à sua condição", diz
a representação.
Próximos passos
A ação foi entregue ao presidente do Conselho de Ética, Ricardo
Izar (PTB-SP). Ele deve enviá-la
hoje para a Mesa Diretora, para
ser numerada. Nessa etapa Severino pode atrasar a tramitação,
mas seus assessores adiantam que
ele não fará isso. Depois de numerada, a ação é devolvida ao Conselho, que nomeia um relator. A
partir desse momento, uma eventual renúncia de Severino não
cancelará o processo. Esse trâmite
deve durar dois dias.
A representação lista sete "pecados" de Severino à frente da Câmara: assinatura de um documento sem validade jurídica para
prorrogar contrato com o restaurante; recebimento do "mensalinho"; concussão contra o empresário Sebastião Buani; ameaças de
retaliação a parlamentares que
defendem seu afastamento; defesa de penas brandas para usuários
de caixa dois; defesa de financiamento irregular pelo PP; tentativa
de segurar processos de cassação
contra deputados. Severino nega
todas as acusações. Um assessor
próximo disse ontem que ele pretende se defender no Conselho.
A ação, em seu formato final, ficou com 14 páginas. Várias reportagens são anexadas, inclusive a
entrevista dada por Severino à Folha há duas semanas em que ele
dizia não haver o "mensalão".
"Necessário, portanto, reagir
por meio da imediata apuração
dos fatos descritos, os quais, uma
vez confirmados, por meio do devido processo legal, ensejam a
sanção de perda do mandato do
representado, como medida profilática, inexorável e imperiosa à
preservação desta Casa legislativa", diz a ação. O processo todo
deve durar 90 dias.
São citados o artigo 4º do Código de Ética, que prevê perda de
mandato para deputado que abusar de suas prerrogativas e receber
vantagens indevidas, e o artigo 17
do regimento interno da Câmara,
pelo qual uma das atribuições do
presidente é "zelar pelo prestígio e
decoro" da Casa.
A ação foi finalizada ontem em
duas reuniões entre os partidos,
de manhã e à tarde. O PSDB chegou a fazer suspense sobre assinar
ou não, descontente com um parágrafo que dizia que sessões de
cassação de deputados não poderiam ser presididas por Severino.
O trecho foi retirado.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Para PT, oposição quer assumir Câmara Índice
|