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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A LISTA DE VALÉRIO
Com decisão, 16 deputados vão ser julgados; órgão diretor da Câmara divulgou também carta defendendo Severino Cavalcanti
Mesa vai encaminhar processos ao Conselho
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Por unanimidade, a Mesa Diretora da Câmara acolheu relatório
do corregedor Ciro Nogueira (PP-PI) e decidiu encaminhar ao Conselho de Ética processo de cassação contra os 18 parlamentares
acusados de quebra de decoro por
envolvimento com saques nas
contas das empresas do publicitário Marcos Valério de Souza.
O processo deverá ser entregue
ao Conselho até o meio-dia de hoje. A partir do momento em que o
presidente dessa instância receber
a representação, os deputados
acusados de irregularidades não
poderão mais renunciar para evitar a perda dos direitos políticos.
Ontem, havia rumores na Câmara de que alguns dos citados
renunciariam ao mandato para
poder se candidatar novamente
em 2006. A Folha apurou que pelo menos dois deputados consultaram a Secretaria Geral da Câmara sobre prazos e trâmites do processo para saber até quando poderiam apresentar a renúncia.
Por isso não está descartada a
possibilidade de hoje, antes de a
representação chegar às mãos do
deputado Ricardo Izar (PTB-SP),
presidente do Conselho, algum
deputado comunicar a renúncia.
Depois que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), defendeu, em entrevista à
Folha, a possibilidade de uma punição mais branda aos acusados,
havia um temor, por parte da
oposição, de que a Mesa pudesse
poupar alguns nomes. Mas isso
não ocorreu. "Isso mostra a disposição da Mesa Diretora de fazer
justiça e esclarecer todos os fatos",
disse o corregedor Nogueira, afilhado político de Severino.
Embora o relatório do corregedor faça menção a 18 parlamentares, na prática 16 responderão ao
processo, uma vez que Carlos Rodrigues (PL-RJ) enviou uma carta
à Secretaria Geral anteontem informando que abria mão de seu
mandato, e Roberto Jefferson
(PTB-RJ) terá seu mandato julgado hoje em plenário da Câmara.
Além disso, o Conselho de Ética
já aprecia representação contra
José Dirceu (PT-SP), Sandro Mabel (PL-GO) e Romeu Queiroz
(PTB-MG). Os outros parlamentares que correm o risco de ser
cassados são: João Magno (PT-MG), João Paulo Cunha (PT-SP),
José Borba (PMDB-PR), José Janene (PP-PR), José Mentor (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), Paulo
Rocha (PT-PA), Pedro Corrêa
(PP-PE), Pedro Henry (PP-MT),
Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Vadão
Gomes (PP-SP) e Wanderval Santos (PL-SP).
Ontem, os petistas João Magno,
João Paulo Cunha, Josias Gomes,
Paulo Rocha e Professor Luizinho
encaminharam à Mesa Diretora
um pedido para que fossem ouvidos antes de seus processos serem
enviados ao Conselho de Ética.
Eles argumentam que não tiveram direito de defesa e que o Conselho já representa a esfera de julgamento e não seria o local ideal
para serem ouvidos.
A Mesa, no entanto, desconsiderou as representações. "Eles estão tentando defender seus direitos, mas a Mesa achou por bem
não acolher as suas reclamações",
afirmou Nogueira. Para o vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), o argumento de cerceamento de defesa não
cabe. "O André Luiz [deputado
cassado] entrou com recurso no
Supremo Tribunal Federal com
essa alegação e o tribunal arquivou a contestação", lembrou Nonô. "O juízo para cassação é privativo do plenário e não da Mesa",
afirmou o vice-presidente, para
quem "haveria cerceamento de
defesa se os acusados não fossem
ouvidos em nenhuma instância, o
que não é o caso".
Defesa de Severino
Na reunião de ontem, a Mesa
Diretora aprovou, também por
unanimidade, uma nota oficial
em defesa da atuação de Severino
à frente da presidência da Câmara. "O deputado Severino Cavalcanti vem sendo acusado de ter
infringido o decoro parlamentar.
Para a Mesa, até que se apurem
todos os fatos, o deputado Severino Cavalcanti é, de fato e de direito, o presidente da Câmara dos
Deputados, detentor de todas as
atribuições previstas em lei e no
regimento interno."
A proposta da confecção da nota partiu do deputado João Caldas
(PL-AL) e foi redigida por Eduardo Gomes (PSDB-TO). O vice-presidente, cujo partido foi um
dos signatários do pedido de cassação do mandato de Severino,
protocolado ontem no Conselho
de Ética da Câmara, afirmou que
não se sentiu constrangido em assinar o documento.
Durante a reunião, Severino
chegou a fazer um desabafo, dizendo que está sendo injustiçado,
atacado violentamente, que sua
família está sendo exposta desnecessariamente e que estaria sendo
"jogado às cobras". Segundo presentes, Severino demonstrou estar "muito fragilizado", mas reafirmou sua inocência.
Integrantes da Mesa disseram
também que, em determinados
momentos, avaliou-se que interessa a parte do governo que o foco da crise mantenha-se sobre Severino. Em outros, deputados
afirmaram ao presidente da Câmara que caso apareça uma prova
contundente contra ele, como o
esperado cheque, ele deve se afastar do cargo.
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