São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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Ex-ministros e líder do governo na Câmara tentam inocentar Dirceu

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, na condição de testemunhas arroladas pelo ex-ministro José Dirceu, os deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP), Eduardo Campos (PSB-PE) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) tentaram inocentar Dirceu de envolvimento no escândalo do "mensalão".
Eles foram os primeiros ouvidos no processo -de autoria do PTB- que pede a cassação do mandato de Dirceu por quebra do decoro parlamentar. Hoje, o conselho ouvirá o escritor Fernando Morais, também testemunha do ex-ministro. Os depoimentos de Aldo e Campos, ambos ex-ministros de Lula, e Chinaglia, líder do governo na Casa, foram semelhantes. Disseram não haver elementos para vincular Dirceu ao suposto "mensalão" e afirmaram não acreditar no repasse de recursos para deputados em troca de apoio para votar projetos. Todos argumentaram ter presenciado negociações para votar projetos, o que, segundo eles, não teria ocorrido se houvesse "mensalão".
Em defesa do ex-chefe da Casa Civil, Aldo relatou divergências com ele no governo, mas rechaçou quando questionado sobre os "superpoderes" de Dirceu. "Acho que hoje ele [Dirceu] paga muito mais pelas virtudes do que pelos defeitos [...] Sempre achei que, quando a oposição atirasse contra o governo, o alvo seria o José Dirceu, por sua história, pelo que representa no imaginário", disse.
Para o relator do processo, Julio Delgado (PSB-MG), houve contradição entre o depoimento de Aldo e a fala de Dirceu. Ontem, Aldo relatou ter convencido Dirceu a participar de reunião na casa de Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das denúncias do "mensalão", onde se discutiu possível retirada da assinatura do petebista do pedido de abertura da CPI dos Correios. Conforme Delgado, Dirceu afirmara ter sido convidado para a reunião por Walfrido Mares Guia (Turismo) e pelo líder do PTB, José Múcio (PE). "É uma divergência, mas não significa que é fundamental", disse.
Campos negou "ter amizade particular" com Dirceu e ter convivido com ele em partidos, mas enfatizou que "jamais presenciou ato do ministro que o desabonasse e este Conselho está desafiado a provar justamente o contrário".
Chinaglia disse acreditar que Dirceu "não tem responsabilidade naquilo que ficou conhecido como empréstimos ou "valerioduto'". O advogado de Dirceu José Luis Oliveira Lima acha que os depoimentos "contribuíram muito" para inocentar o ex-ministro.


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