São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DAS PROVAS

Ex-presidente do partido responsabiliza ex-tesoureiro por caixa dois e isenta Lula e Dirceu de participação em irregularidades

Genoino culpa Delúbio e nega "mensalão"

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O ex-presidente do PT José Genoino transferiu para Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, toda a responsabilidade pelo caixa dois e pelos empréstimos realizados pela legenda.
Em depoimento à CPI do Mensalão, Genoino negou mais uma vez a existência do "mensalão". "Eu reafirmo aqui que participei de todas as negociações, das principais polêmicas no Congresso. Nunca tratei nem ouvi tratarem de troca de apoio por dinheiro. Portanto, não houve "mensalão"."
Genoino disse também que o PT não tem conta no exterior e que o partido não fez "vale-tudo" para governar. "Não fizemos o vale-tudo na economia, não fizemos o vale-tudo na política externa, não fizemos o vale-tudo nos investimentos." Segundo o ex-presidente do PT, Delúbio tinha autonomia para "planejar, arrecadar e pagar as despesas do PT".
Enquanto ouvia as perguntas e comentários, Genoino abaixava a cabeça e fazia anotações. Ele isentou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado José Dirceu (PT-SP) de participação nas irregularidades e disse que reconhece uma dívida de R$ 20 milhões -o valor, segundo ele, consta da prestação de contas encaminhada pelo partido ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Do total, Genoino disse que avalizou R$ 5,4 milhões.
Genoino disse também que, ao assumir a presidência do PT (janeiro de 2003), informou aos integrantes da Executiva que não participaria das negociações sobre cargos, da administração interna do PT e do planejamento e arrecadação financeira.
"Fiquei sabendo das dívidas não contabilizadas pela imprensa." As declarações não convenceram os membros da CPI, que questionaram o fato de o então presidente do partido não saber dos fatos.
Genoino admitiu "encontros eventuais" com o publicitário Marcos Valério de Souza.
"Encontrei com ele algumas vezes na sede do partido, mas nunca tive qualquer relação com o publicitário. Isto pode ser comprovado com a quebra do meu sigilo telefônico", disse.
Genoino também defendeu o seu pedido de aposentadoria -aprovado depois de o ex-deputado se afastar da presidência do PT. "Como presidente [do PT], eu tinha carteira assinada e um salário. Sou pobre, tenho apenas uma casa, não tenho carro, não tenho posses. Portanto, depois de quase 20 anos de mandato, requeri a minha aposentadoria, até mesmo como forma de sobrevivência. E não recebo R$ 8 mil de aposentadoria, como muita gente falou, mas R$ 6 mil."

Críticas
No final da tarde de ontem, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) criticou a atuação de Genoino como presidente do PT. "Acho que o senhor foi omisso, ao delegar poderes para outras pessoas. A sua omissão foi um erro político. Mas conte comigo, sempre, até mesmo para ajudar a pagar os seus advogados."
Jair Bolsonaro (PP-RJ) que mais cedo havia levado à sessão o coronel Lício Maciel, responsável pela prisão de Genoino na guerrilha do Araguaia, criticou duramente o ex-presidente do PT.
"Agora, me diga se o senhor, o Silvio Pereira e outros foram torturados para montar esta quadrilha que envergonha o país", disse Bolsonaro. Genoino preferiu não responder. "Deputado Bolsonaro, para o senhor prefiro manter o silêncio em respeito à ética e ao decoro parlamentar."
Durante a sessão, dois deputados petistas, ameaçados de perder o mandato por suposto envolvimento com o "mensalão" -Paulo Rocha e Professor Luizinho- foram abraçar José Genoino.
Genoino disse que preferia não comentar a prisão de José Adalberto Vieira da Silva, ex-assessor do seu irmão José Guimarães, preso no aeroporto de Congonhas com R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 mil na cueca. "Prefiro não fazer comentários, já que a Justiça já está atuando para esclarecer todos os detalhes da prisão."


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