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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A HORA DAS PROVAS
Ex-presidente do partido responsabiliza ex-tesoureiro por caixa dois e isenta Lula e Dirceu de participação em irregularidades
Genoino culpa Delúbio e nega "mensalão"
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O ex-presidente do PT José Genoino transferiu para Delúbio
Soares, ex-tesoureiro do partido,
toda a responsabilidade pelo caixa dois e pelos empréstimos realizados pela legenda.
Em depoimento à CPI do Mensalão, Genoino negou mais uma
vez a existência do "mensalão".
"Eu reafirmo aqui que participei
de todas as negociações, das principais polêmicas no Congresso.
Nunca tratei nem ouvi tratarem
de troca de apoio por dinheiro.
Portanto, não houve "mensalão"."
Genoino disse também que o
PT não tem conta no exterior e
que o partido não fez "vale-tudo"
para governar. "Não fizemos o vale-tudo na economia, não fizemos
o vale-tudo na política externa,
não fizemos o vale-tudo nos investimentos." Segundo o ex-presidente do PT, Delúbio tinha autonomia para "planejar, arrecadar e pagar as despesas do PT".
Enquanto ouvia as perguntas e
comentários, Genoino abaixava a
cabeça e fazia anotações. Ele isentou o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e o deputado José Dirceu
(PT-SP) de participação nas irregularidades e disse que reconhece
uma dívida de R$ 20 milhões -o
valor, segundo ele, consta da prestação de contas encaminhada pelo partido ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Do total, Genoino
disse que avalizou R$ 5,4 milhões.
Genoino disse também que, ao
assumir a presidência do PT (janeiro de 2003), informou aos integrantes da Executiva que não participaria das negociações sobre
cargos, da administração interna
do PT e do planejamento e arrecadação financeira.
"Fiquei sabendo das dívidas não
contabilizadas pela imprensa." As
declarações não convenceram os
membros da CPI, que questionaram o fato de o então presidente
do partido não saber dos fatos.
Genoino admitiu "encontros
eventuais" com o publicitário
Marcos Valério de Souza.
"Encontrei com ele algumas vezes na sede do partido, mas nunca
tive qualquer relação com o publicitário. Isto pode ser comprovado
com a quebra do meu sigilo telefônico", disse.
Genoino também defendeu o
seu pedido de aposentadoria
-aprovado depois de o ex-deputado se afastar da presidência do
PT. "Como presidente [do PT], eu
tinha carteira assinada e um salário. Sou pobre, tenho apenas uma
casa, não tenho carro, não tenho
posses. Portanto, depois de quase
20 anos de mandato, requeri a minha aposentadoria, até mesmo
como forma de sobrevivência. E
não recebo R$ 8 mil de aposentadoria, como muita gente falou,
mas R$ 6 mil."
Críticas
No final da tarde de ontem, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) criticou a atuação de Genoino
como presidente do PT. "Acho
que o senhor foi omisso, ao delegar poderes para outras pessoas.
A sua omissão foi um erro político. Mas conte comigo, sempre,
até mesmo para ajudar a pagar os
seus advogados."
Jair Bolsonaro (PP-RJ) que mais
cedo havia levado à sessão o coronel Lício Maciel, responsável pela
prisão de Genoino na guerrilha
do Araguaia, criticou duramente
o ex-presidente do PT.
"Agora, me diga se o senhor, o
Silvio Pereira e outros foram torturados para montar esta quadrilha que envergonha o país", disse
Bolsonaro. Genoino preferiu não
responder. "Deputado Bolsonaro,
para o senhor prefiro manter o silêncio em respeito à ética e ao decoro parlamentar."
Durante a sessão, dois deputados petistas, ameaçados de perder
o mandato por suposto envolvimento com o "mensalão" -Paulo Rocha e Professor Luizinho-
foram abraçar José Genoino.
Genoino disse que preferia não
comentar a prisão de José Adalberto Vieira da Silva, ex-assessor
do seu irmão José Guimarães,
preso no aeroporto de Congonhas com R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 mil na cueca. "Prefiro
não fazer comentários, já que a
Justiça já está atuando para esclarecer todos os detalhes da prisão."
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