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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O ACUSADOR
Denunciante do esquema que abalou o governo promete citar Lula em discurso duro
Deputados devem cassar hoje mandato de Jefferson
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cento e um dias depois de denunciar o suposto esquema do
"mensalão" no Congresso, Roberto Jefferson (PTB-RJ), 52, enfrenta hoje no plenário da Câmara a sessão que decidirá, em votação secreta, se ele continua ou não
com o seu mandato de deputado
federal. O petebista promete fazer
um discurso de defesa duro, com
possível ataque ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, mas a tendência é que ele seja o primeiro
parlamentar cassado em decorrência da crise política da qual foi
o principal estopim.
Para isso, o parecer do Conselho
de Ética tem que ser aprovado por
pelo menos 257 dos 513 deputados. A votação, que é manual e secreta (em cédulas), está prevista
para começar por volta das 17h.
"Não quero adiantar meu discurso, mas tem que passar por ele
[Lula], passa pelo governo e pelo
"núcleo duro dele'", disse Jefferson em tumultuada visita que fez
à Câmara para se reunir com a
bancada do PTB. Apesar disso,
ressaltou: "Será um discurso light,
sem cartas na manga".
Na saída, ele teve que ser escoltado por vários seguranças, que
fizeram cordão de isolamento devido à confusão entre cinegrafistas, fotógrafos, repórteres, assessores e curiosos. Houve agressões
e muito empurra-empurra nos
cerca de cem metros entre o gabinete e o carro.
O parecer do conselho que será
votado no plenário pede a cassação de Jefferson por três motivos:
ter assumido prática de tráfico de
influência em estatais e recebido
recursos eleitorais de caixa dois,
além de, segundo o texto, ter feito
acusações sem provas.
"Estou pronto para o que der e
vier", disse Jefferson. Questionado sobre o que fará caso seja cassado, disse: "Vou cantar".
"Minha experiência em Roberto Jefferson me leva à constatação
de que eu não tenho idéia do que
ele irá dizer amanhã [hoje] no plenário. Ele é totalmente imprevisível", afirmou José Múcio (PE), líder da bancada do PTB, que ontem passou o dia articulando votos pró-Jefferson. Além de Múcio,
discursarão em sua defesa Nelson
Marquezelli (PTB-SP) e Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP).
Petebistas ouvidos dizem que
Jefferson poderá até fazer novas
revelações, além de citar Lula,
mas não se sabe em qual contexto.
Caso seja cassado, Jefferson ficará inelegível até janeiro de 2015.
Ou seja, na melhor das hipóteses
só poderá concorrer novamente
nas eleições municipais de 2016,
quando estará com 63 anos.
Votos a favor
Deputados do PTB afirmaram
que a "conta" que fizeram entre
colegas sobre os votos dão vantagem a Jefferson, que teria condições de escapar por uma "margem apertada". "Há chance total
[de Jefferson não ser cassado]. Ele
incomodou uma minoria. Espero
que a maioria entenda que o trabalho dele pelo Parlamento e pelo
país", disse Múcio.
Jefferson, que está no seu sexto
mandato consecutivo como deputado federal, denunciou o esquema do "mensalão" em entrevista à Folha publicada no dia 6 de
junho. A publicação resultou na
maior crise política do governo
Lula, que já enfrentava turbulência devido à revelação no mês anterior, pela revista "Veja", de um
suposto esquema de corrupção
nos Correios envolvendo o PTB.
A forma como Jefferson descreveu o "mensalão", pagamento pelo PT de mesada mensal de R$ 30
mil a deputados do PP e do PL,
não ficou provada até hoje. Mas as
declarações dele levaram à descoberta de que o PT montou com o
publicitário Marcos Valério de
Souza um esquema de financiamento de partidos aliados.
O advogado de Jefferson, Luiz
Francisco Corrêa Barbosa, disse
que poderá recorrer à Justiça para
impedir a sessão. "Há uma série
de matérias que trancam a pauta
e, portanto, a cassação não poderia ser votada", afirmou. O fato é
que uma decisão administrativa
da Câmara abriu precedente para
votação de cassação mesmo com
a pauta "trancada" por medida
provisória não analisada no prazo
regimental. Há oito MPs e três
projetos de lei em regime de urgência trancando a pauta.
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