São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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ELIO GASPARI

O Estado jogou umageração no ralo

Quem quiser medir o tamanho da ruína imposta a Pindorama pelos sábios que administraram o país nos últimos 24 anos pode fazer a seguinte conta: Se entre 1900 e 2004 a renda per capita dos nativos tivesse crescido à taxa do período que foi de 1980 a 2004 (0,43% ao ano), o Brasil seria hoje um dos 15 países mais pobres do mundo, com a renda per capita, medida em poder de compra, no mesmo patamar do Quênia, inferior à média d'África.
Nesses 24 anos houve de tudo, general do SNI, professor laureado e sindicalista monoglota. Cada um teve sua ekipekonômica maledicente do passado, prometendo um grande futuro a partir do ano que vem. Para dois terços dos brasileiros, a idéia de progresso é uma reminiscência histórica ou, na melhor da hipóteses, puro Casimiro de Abreu:
"Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!"
Entre 1900 e 1980, a taxa média de crescimento da economia nacional foi de 3,04%. Mantida, teria deixado o Brasil com 35% da renda dos Estados Unidos (tem 20%). Entre 1950 e 1980, o crescimento nacional médio foi de 4,39%. Nesse período, a economia brasileira estava entre as dez mais dinâmicas do mundo. Hoje aproxima-se do grupo onde estão as 20 com pior desempenho.
Todas essas contas estão no estudo "Dissecando a Integral do Erro", que o empresário Paulo Cunha, do grupo Ultra, apresentou há dias no 2º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas. Seu diagnóstico aponta para uma perda de dinamismo que incorporou "de forma persistente ao cenário brasileiro (...) políticas econômicas antagônicas ao crescimento". Mais: "O tema da estagnação econômica brasileira dos últimos 25 anos não integra a agenda permanente e prioritária da classe política nacional nem da mídia, que influi fortemente nessa agenda".
Cunha identifica o Estado como o principal vilão da geração perdida. Entre 1970 e 2001, o gasto público e a tributação cresceram na média a taxas equivalentes ao dobro da taxa do PIB. Ele diz: "De qualquer maneira que se olhe, a postura fiscal brasileira nos últimos 25 anos é insustentável pelos impactos negativos que ela traz para o crescimento econômico do país. Ela terá que ser corrigida e duas são as opções: um ato decisório voluntário e soberano ou o "default'". [Calote, para a patuléia.] "E não tenhamos medo de palavras, pois o que já é a enorme sonegação brasileira senão uma forma de "default'?"
A banca pode dormir em paz, não se trata de proposta de calote, mas de busca do "ato soberano" pelo redirecionamento da agenda na busca do crescimento.
O Estado brasileiro gasta 26,76% do PIB em previdência, saúde e educação. O coreano gasta 10,4% e não há um bípede capaz de sustentar que os brasileiros têm melhor amparo, escolas e hospitais que os coreanos. Foi na terra das palmeiras que, nos últimos 15 anos, criaram-se 11 ministérios e 1.600 municípios. Não há país democrático que gaste o que os governos brasileiros torram em publicidade oficial. Esse Estado arrecada muito, gasta demais, investe pouco e manda no que não deve. O investimento fixo do setor público entre 1990 e 2003 ficou em 7,7%. Entre 1970 e 1980 estava em 15%.
Cunha lembra dois milagres do século passado (Japão e Alemanha) e menciona cinco "velocistas" dos dias de hoje (China, Coréia, Taiwan, Irlanda e México). Todos têm em comum câmbio desvalorizado e juros baixos. Cultivando a "integral do erro" o atual governo faz como todos os seus antecessores desde 1980 e promete que o progresso chega no ano que vem. Quer fazer isso pelo avesso, com câmbio valorizado e juros altos.


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