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ELIO GASPARI
O Estado jogou umageração no ralo
Quem quiser medir o tamanho da ruína imposta a
Pindorama pelos sábios que administraram o país nos últimos
24 anos pode fazer a seguinte
conta: Se entre 1900 e 2004 a
renda per capita dos nativos tivesse crescido à taxa do período
que foi de 1980 a 2004 (0,43% ao
ano), o Brasil seria hoje um dos
15 países mais pobres do mundo, com a renda per capita, medida em poder de compra, no
mesmo patamar do Quênia, inferior à média d'África.
Nesses 24 anos houve de tudo,
general do SNI, professor laureado e sindicalista monoglota.
Cada um teve sua ekipekonômica maledicente do passado, prometendo um grande futuro a
partir do ano que vem. Para
dois terços dos brasileiros, a
idéia de progresso é uma reminiscência histórica ou, na melhor da hipóteses, puro Casimiro
de Abreu:
"Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem
mais!"
Entre 1900 e 1980, a taxa média de crescimento da economia
nacional foi de 3,04%. Mantida,
teria deixado o Brasil com 35%
da renda dos Estados Unidos
(tem 20%). Entre 1950 e 1980, o
crescimento nacional médio foi
de 4,39%. Nesse período, a economia brasileira estava entre as
dez mais dinâmicas do mundo.
Hoje aproxima-se do grupo onde estão as 20 com pior desempenho.
Todas essas contas estão no estudo "Dissecando a Integral do
Erro", que o empresário Paulo
Cunha, do grupo Ultra, apresentou há dias no 2º Fórum de
Economia da Fundação Getulio
Vargas. Seu diagnóstico aponta
para uma perda de dinamismo
que incorporou "de forma persistente ao cenário brasileiro (...)
políticas econômicas antagônicas ao crescimento". Mais: "O
tema da estagnação econômica
brasileira dos últimos 25 anos
não integra a agenda permanente e prioritária da classe política nacional nem da mídia,
que influi fortemente nessa
agenda".
Cunha identifica o Estado como o principal vilão da geração
perdida. Entre 1970 e 2001, o
gasto público e a tributação
cresceram na média a taxas
equivalentes ao dobro da taxa
do PIB. Ele diz: "De qualquer
maneira que se olhe, a postura
fiscal brasileira nos últimos 25
anos é insustentável pelos impactos negativos que ela traz para o crescimento econômico do
país. Ela terá que ser corrigida e
duas são as opções: um ato decisório voluntário e soberano ou o
"default'". [Calote, para a patuléia.] "E não tenhamos medo de
palavras, pois o que já é a enorme sonegação brasileira senão
uma forma de "default'?"
A banca pode dormir em paz,
não se trata de proposta de calote, mas de busca do "ato soberano" pelo redirecionamento da
agenda na busca do crescimento.
O Estado brasileiro gasta
26,76% do PIB em previdência,
saúde e educação. O coreano
gasta 10,4% e não há um bípede
capaz de sustentar que os brasileiros têm melhor amparo, escolas e hospitais que os coreanos.
Foi na terra das palmeiras que,
nos últimos 15 anos, criaram-se
11 ministérios e 1.600 municípios. Não há país democrático
que gaste o que os governos brasileiros torram em publicidade
oficial. Esse Estado arrecada
muito, gasta demais, investe
pouco e manda no que não deve. O investimento fixo do setor
público entre 1990 e 2003 ficou
em 7,7%. Entre 1970 e 1980 estava em 15%.
Cunha lembra dois milagres
do século passado (Japão e Alemanha) e menciona cinco "velocistas" dos dias de hoje (China, Coréia, Taiwan, Irlanda e
México). Todos têm em comum
câmbio desvalorizado e juros
baixos. Cultivando a "integral
do erro" o atual governo faz como todos os seus antecessores
desde 1980 e promete que o progresso chega no ano que vem.
Quer fazer isso pelo avesso, com
câmbio valorizado e juros altos.
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