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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O MARQUETEIRO
Advogado diz que pagamento de imposto por recursos no exterior extingue crime fiscal
Duda recolhe R$ 4,3 mi para acertar contas com a Receita
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O publicitário Duda Mendonça
pagou ontem R$ 4.334.819,90 para regularizar todos os tributos
devidos à Receita Federal pela
Dusseldorf Company, empresa
que abriu em 2003 no paraíso fiscal das Bahamas. E enviou à Receita declaração retificadora do
Imposto de Renda de 2004 (ano-base 2003) incluindo as cotas da
empresa no seu patrimônio.
Hoje, o advogado do publicitário protocolará no STF (Supremo
Tribunal Federal) os comprovantes do pagamento dos impostos e
da declaração retificadora.
O próprio Duda telefonou ontem para o ministro do STF Joaquim Barbosa para comunicar a
sua atitude. Barbosa é relator do
inquérito criminal que investiga
as acusações do deputado federal
Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre
o pagamento de suposto mensalão a congressistas aliados ao governo e de empréstimos do empresário Marcos Valério ao PT.
Esse inquérito está no STF porque há deputados envolvidos -e
eles têm foro privilegiado, ou seja,
só lá podem ser investigados e
processados judicialmente. Duda
está nesse inquérito por ter admitido em depoimento à CPI dos
Correios que abriu uma empresa
no exterior para receber R$ 10,5
milhões de Valério por meio de
caixa 2.
Na CPI, Duda afirmou que o valor correspondeu a serviços de
marketing político prestados ao
PT nas eleições de 2002. Naquele
ano, ele fez a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
de candidatos do PT a governador e senador.
"A atitude do Duda extingue
qualquer punibilidade do crime
de sonegação fiscal e demonstra a
extrema honestidade com a qual
ele tem enfrentado esse momento
difícil da vida dele", disse Tales
Castelo Branco, advogado do publicitário. "O Duda vai responder
prontamente a qualquer pedido
de esclarecimento do ministro
Barbosa e da Justiça brasileira",
afirmou Castelo Branco.
Evasão
O advogado do publicitário disse que Duda recebeu os recursos
no exterior e que um eventual crime de evasão de divisas não poderia ser atribuído a ele. "O dinheiro
já estava no exterior. Não foi o
Duda quem o enviou", disse Castelo Branco.
O advogado reafirmou que Duda foi "constrangido" por Marcos
Valério a receber no exterior "por
um trabalho efetivo que ele realizou". Segundo ele, a atitude de
Duda na CPI, "quando espontaneamente revelou sua conta no
exterior", e o pagamento dos impostos demonstram "vontade de
colaborar para esclarecer os fatos". Valério nega ter pedido que
Duda abrisse conta fora do país.
Pelas leis brasileiras, não é crime
ter uma empresa ou conta no exterior desde que sejam declaradas
ao fisco. Com o pagamento de impostos e a declaração retificadora,
Duda se livrará, segundo o seu advogado, de eventual multa que
pudesse vir a ser cobrada ao final
de uma investigação da Receita.
Do ponto de vista jurídico, a atitude de Duda recebe o nome de
"denúncia espontânea" -quando parte do contribuinte a iniciativa de regularizar fiscalmente um
patrimônio não-declarado. A declaração retificadora teve como
ano-base 2003.
Cálculos
O cálculo para pagamento dos
impostos foi feito sobre todos os
créditos que caíram na conta da
Dusseldorf desde que a empresa
foi aberta. Além disso, houve a
conversão de moeda (dólar para
real), acrescida da taxa Selic (juros
básicos da economia), de acordo
com a regra legal nesse tipo de
procedimento fiscal.
Castelo Branco afirmou que o
saldo atual se mantém por volta
de R$ 10,5 milhões. A Dusseldorf é
uma offshore (na prática, uma
conta protegida por sigilo). Segundo o advogado, é a única conta de Duda no exterior.
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