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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FUNDOS DE PENSÃO
Banqueiro ensaia dizer na CPI que ex-ministro atuou para retirar o Opportunity e pôr os fundos no comando da Brasil Telecom
Dantas pode ligar Dirceu a disputa de teles
JANAÍNA LEITE
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Encarada como trunfo contra o
PSDB e o PFL na CPI dos Correios, a convocação do banqueiro
Daniel Dantas pode acabar representando ainda mais dor-de-cabeça para o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). Dono do Opportunity, Dantas relata a amigos
uma suposta atuação de Dirceu
para que o banco transferisse aos
fundos de pensão o controle da
Brasil Telecom.
Dantas também afirma ter documentos registrados em cartório
trazendo evidências de que a briga pelo controle da empresa tinha
motivações políticas. E que o PT,
mesmo antes de chegar ao governo, decidira afastá-lo da empresa.
Em junho de 2002, a Brasil Telecom apresentou um projeto de R$
1,27 bilhão ao BNDES. O processo
de aprovação consumiu dois
anos, ainda que a empresa se
identificasse como a segunda do
ranking de créditos do BNDES.
Incomodado, o presidente do
CVC (Citibank Venture Capital),
Mike Carpenter, veio ao Brasil,
em setembro daquele ano, para
uma audiência com Dirceu.
Carpenter não só teria se queixado da demora do empréstimo
mas também da ameaça de alijar
o Citi da emissão de títulos do
Brasil no exterior. Dirceu teria falado das restrições dos fundos de
pensão ao Opportunity.
Então presidente do conselho
da Brasil Telecom, o advogado
Luiz Octávio da Motta Veiga diz
que em uma conversa,sem testemunhas, no dia 16 de junho, Dirceu teria dito: "O problema você
sabe qual é. Os fundos querem o
controle da Brasil Telecom".
Coincidentemente, o dinheiro
só foi liberado em novembro de
2004, depois que o Citibank já tinha retirado seu apoio a Dantas
na briga judicial pelo comando da
Brasil Telecom. "A minha avaliação é que, com a demora na liberação dos recursos do BNDES, os
americanos tiveram o que chamam de "evidence" [indício, prova]. Por isso, Carpenter veio ao
Brasil", opina Motta Veiga.
A Brasil Telecom é a operadora
de telefonia fixa que atua nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul.
Apesar de majoritários, o Citi e os
fundos de pensão entregaram a
administração da empresa ao Opportunity em 1999. Em abril deste
ano, o banco foi destituído.
A interlocutores Dantas também descreve o teor de três conversas mantidas com Dirceu sobre a BrT. Na primeira, em 4 de
maio de 2003, Dirceu teria reconhecido que os fundos reivindicavam o controle da BrT e avisado
que o então presidente do Banco
do Brasil, Cássio Casseb, fora escalado para convencer Dantas a
abrir mão da operadora.
As duas conversas com Casseb,
costuma contar, foram "ásperas".
Dantas avisou que recorreria ao
Citigroup para impedir a transferência. Casseb teria advertido
que, se não espontaneamente, o
controle seria tirado "na raça".
Com o fracasso da negociação,
Dantas procurou Dirceu. Nas
duas conversas seguintes, Dirceu
teria afirmado ser contra a intervenção do Estado em negócios,
mas reiterou que a opção pelos
fundos era uma decisão de governo. À ocasião, Dantas teria reclamado especificamente da ofensiva do ministro Luiz Gushiken (Secom) em favor dos fundos. Dirceu
teria mostrado constrangimento
com o papel de porta-voz do governo nessa queda-de-braço.
A defesa da transferência foi endossada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 28 de maio de
2003. No encerramento do 1º Seminário Internacional dos Fundos de Pensão, Lula disse que "os
fundos de pensão, no mundo inteiro, deveriam ter uma visão de
solidariedade maior que a do Citibank". Isso teria acendido o alerta
no Citigroup, que buscou uma
aproximação com os fundos.
Marcos Valério
Dantas reconheceu a amigos ter
sido apresentado a Marcos Valério de Souza no Opportunity, em
São Paulo. O encontro não teria
passado dos cumprimentos em
um dos corredores do banco.
Não é a versão de Valério. Também a interlocutores o publicitário diz ter se reunido com Dantas
pelo menos uma vez na sede carioca do Opportunity. Valério
também teve contato com o sócio
de Dantas, Carlos Rodenburg.
Valério diz que foi procurado
por ser amigo do então tesoureiro
do PT, Delúbio Soares. O Opportunity estaria interessado em se
aproximar do governo. Queria
ajuda para derrotar os fundos e
Gushiken no caso Brasil Telecom.
Rodenburg diz a pessoas próximas que ele teria sido procurado
por Valério e Delúbio. Diz não ter
havido achaque porque os dois
não sentiram espaço para esse tipo de abordagem.
Dantas diz que não gostou de
ser chamado pela CPI. Para ele, o
mais lógico era a convocação dos
presidentes da Telemig e da Amazônia Celular, que creditaram R$
145 milhões a DNA e SMPB.
Amigos de Dantas, porém, não
acreditam que ele esteja tão insatisfeito assim. Inferem que o banqueiro está se preparando para
lançar algumas dúvidas. A primeira é por que o presidente do
Banco do Brasil não foi convocado para explicar os créditos que o
banco fez às agências de Valério
-R$ 241 milhões de 2003 a 2005.
Para esses interlocutores Dantas
também deverá aproveitar a
chance de pôr em dúvida as relações dos fundos com a Telemar.
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