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Citi sabia de espionagem, relata Kroll
DA REPORTAGEM LOCAL
Pelo menos cinco executivos do
Citigroup -todos do escritório
de Nova York- sabiam que a
Kroll Associates foi contratada
pela Brasil Telecom para investigar relações do governo brasileiro
com a Telecom Italia. É o que relata o ex-presidente da Kroll mundial, Frank L. Holder, em correspondência endereçada à Brasil
Telecom. Nos relatórios, Holder
descreve como o banco acompanhava as investigações.
Segundo três documentos obtidos pela Folha, representantes do
banco americano tiveram acesso
a detalhes da investigação, que,
realizada em 2004, incluiu integrantes do governo, como o então
presidente do Banco do Brasil,
Cássio Casseb, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o secretário de
Comunicação, Luiz Gushiken.
À época, o Citigroup era parceiro do banco Opportunity no comando da Brasil Telecom. Juntos,
enfrentavam os demais sócios
-os fundos de pensão e a Telecom Italia- na disputa pelo controle da operadora.
Para contratar a Kroll, a Brasil
Telecom justifica: buscava provas
de que pagou acima do valor de
mercado na compra da CRT
[Companhia Riograndense de
Telecomunicações] e suspeitava
da participação do governo na
operação.
Segundo correspondências enviadas por Holder à então presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, e ao advogado da BrT nos Estados Unidos, Richard Swanson,
os executivos do Citigroup em
Nova York mantinham-se informados sobre os passos das investigações via e-mail, por telefone
ou em reuniões.
Os executivos citados nos relatórios são o presidente do CVC
(Citibank Venture Capital), Mike
Carpenter, e os diretores Paulo
Caldeira e Mary Lynn Putney.
Também são mencionados Ed
Green e Kathleen McCarthy, ele
membro e ela assistente do Conselho Geral do banco. Era Holder
quem os informava.
"Nos encontramos pela primeira vez com os administradores do
CVC Paulo Caldeira e Mary Putney em janeiro de 2004,quando
demos a eles uma descrição detalhada de nossas descobertas de
até então. Ambos acharam importante que encontrássemos Mike Carpenter, chefe do CVC, o
que fizemos em 15 de março de
2004", diz o documento, endereçado a Swanson em 1º de março
de 2005.
Mais adiante, Holder acrescenta: "Tivemos contatos periódicos
por telefone até o final de 2004".
Em outro relatório, enviado em
30 de dezembro de 2004, Holder
diz a Carla Cico: "Ed Green então
me telefonou e conversamos sobre o desejo dele de conduzir um
investigação interna sobre as
ações do Citigroup."
Na carta de 18 de janeiro de
2005, Holder relata a Cico que
McCarthy foi pessoalmente ao escritório da Kroll. E afirma que Ed
Green e Mike Carpenter disseram
a ele que outros executivos do Citi
acompanhavam as investigações.
Outro lado
O Citi negou qualquer ligação
com o caso Kroll. "O Opportunity
informou ao Citigroup sobre a investigação apenas depois que a
Kroll foi contratada pela Brasil
Telecom. O Citigroup não teve
nenhum envolvimento na contratação, supervisão ou pagamento
da Kroll. Sugerir outra coisa seria
incorreto", afirmou à Folha a porta-voz mundial do Citigroup,
Shannon Bell.
A Brasil Telecom é a operadora
de telefonia fixa que atende estados das regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. Foi criada em 1998,
como uma das empresas resultantes do leilão da Telebrás.
Há quatro grandes acionistas -
Citi, fundos de pensão, Opportunity e Telecom Italia - que se digladiam por seu controle.
O Opportunity era o gestor dos
recursos dos outros sócios. O dinheiro se dividia em dois fundos.
No CVC/Brasil estavam as verbas
dos fundos de pensão. No CVC/
Cayman, os do Citi.
Citigroup e Opportunity formavam um bloco que permitia a Daniel Dantas gerir a BrT. Em 2004,
os fundos conseguiram destituir o
Opportunity. Para seu lugar, foi
contratada a Angra Partners, que
tem em seus quadros ex-executivos do Citi.
Atualmente, o Opportunity enfrenta vários processos judiciais.
É acusado de gestão temerária no
CVC/Cayman e no CVC/Brasil.
A Polícia Federal indiciou Dantas, Cico, Holder e outros envolvidos nas investigações da Kroll.
Eles se tornaram réus.
(JL E CS)
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