São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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Garotinho diz querer "afundar o PT"

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

O ex-governador do Rio Anthony Garotinho disse, em encontro de cerca de 2.000 políticos e militantes do PMDB, anteontem à noite, em Curitiba, que vai ""fazer de tudo para afundar o PT". Ele também chamou o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ""partido de negócios".
"Eu não fui fundador do PMDB, fui fundador do PT. Eu ajudei a fundar o PT. Eu e a Rosinha [Matheus, governadora do Rio]", disse, em tom baixo, apontando para sua mulher, que estava na mesa a seu lado. Quando os militantes esboçavam um protesto, concluiu seu discurso quase aos gritos: "E hoje tenho o maior prazer em ajudar a afundar o PT. O PT que eu ajudei a fundar era um partido de sonhos. O PT que eu quero afundar é um partido de negócios." Foi aplaudido.
Garotinho, 45, fez ataques duros não só ao PT e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ("Eu não vou perder meu tempo aqui falando do que o Lula fez. Lula não fez."). Criticou também o PSDB e dirigiu ironias à ala governista do PMDB, que tem o presidente do Senado, Renan Calheiros como líder, ao lado do ex-presidente e senador José Sarney (AP). Calheiros não se manifestou. Ao final, aplaudiu a fala de Garotinho.
"Eu saio daqui certo de que estávamos certos, governador Requião. Eu, o senhor, o presidente Michel Temer e mais alguns companheiros, quando sempre dentro do PMDB defendemos uma candidatura própria à Presidência da República, seja quem for o candidato. O PMDB não pode ficar a reboque", discursou.
A seguir, Garotinho falou que há similaridade nas práticas políticas de petistas e tucanos, referindo-se explicitamente à suposta compra de votos de parlamentares pelo governo tucano do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), antecessor de Lula, e pelo atual governo.
"O PSDB e PT são iguais na política econômica, são iguais no método de relacionamento com o Congresso, são iguais na compra de votos. Um comprou voto para a sua reeleição. O outro, para aprovar projetos", disse.
O ex-governador do Rio foi o único entre os destaques do partido a fazer um ataque direto ao PT na plenária que debateu um esboço de programa de governo peemedebista para 2006, no auditório da Federação das Indústrias do Paraná. Ele trabalha para viabilizar sua candidatura à presidência no ano que vem, pelo PMDB, mas encontra resistência no partido.
Lá estavam - além do anfitrião governador Roberto Requião (PMDB), da governadora do Rio e de Calheiros-, o presidente nacional do partido, Michel Temer (SP), os governadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Luiz Henrique da Silveira (SC) e o ex-governador Orestes Quércia (SP).
Afora Requião, que estava em casa, Garotinho foi o mais aplaudido pelos militantes. Radialista há quase 30 nos e apresentador de programa de TV, em 15 minutos, ele conseguiu captar a atenção da platéia, que já se dispersava, com críticas ao PT e ao governo Lula.
Um sinal de resistência a Garotinho foi manifesto no discurso de Requião. Também pré-candidato presidencial, mas ainda sem assumir tal condição publicamente, o governador do Paraná tratou de dizer que a escolha do candidato peemedebista só ocorrerá depois de aprovado o programa em debate. "E, para nós, [a definição do nome] não é uma disputa de histrionice e de habilidades diante das câmera de TV", afirmou.
Jarbas Vasconcelos se ateve a pregar a unidade partidária que, para ele, ""é importante que se busque agora". ""A candidatura própria vem no momento certo", disse o governador de Pernambuco, outro apontado, assim como o governador gaúcho, Germano Rigotto (que não foi ao encontro), como quadro do partido para a disputa presidencial.
Quércia também disse apostar na união das correntes do partido. A desistência da executiva de exigir a saída dos peemedebistas do governo Lula, segundo ele, é prova ""do trabalho pela unidade", por não insistir no conflito interno. Ele identificou Rosinha Matheus apenas como ""mulher do ex-governador Garotinho" e a chamou de ""governadora lá da Guanabara".


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