São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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Marilena Chaui vê ódio contra o PT e diz "no pasarán!"

DA REPORTAGEM LOCAL

"No pasarán!" Com a palavra de ordem de Dolores Ibárruri Gomez, dita "La Pasionaria", líder dos comunistas espanhóis que tentaram barrar a escalada fascista na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), a filósofa Marilena Chaui encerrou sua fala no ato de "refundação do PT", do qual participaram dirigentes, intelectuais e líderes de movimentos sociais.
Chaui, aplaudida com entusiasmo pelas cerca de 300 pessoas que lotaram o auditório do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, no centro, sintetizou o clima de resgate de origens que marcou quase todo o encontro, realizado na noite de anteontem. "É o reencontro do PT consigo mesmo", disse a filósofa. "Quando o PT começou [em 1980], havia um sujeito histórico nascendo no Brasil, que eram os movimentos sociais, sindicais. Havia clareza do agente histórico político", afirmou Chaui, para quem, hoje, "ao recomeçar", o partido tem de se apoiar naquilo que "assegura sua existência": a base petista. "Ela [a base] foi pouco a pouco deixada de lado e pouco a pouco deixou de lutar. Nós nos acomodamos de um lado e nos submetemos de outro."
Para Chaui, o "agente está aí" pelo fato de o capitalismo "não ter acabado". "Ele [o capitalismo] mudou de forma e aparece no plano da exclusão, do domínio."
A filósofa, uma das fundadoras do PT, disse que o partido é alvo de ódio. "Essa alegria imensa que eu sinto aqui é porque nos últimos meses eu me perguntei o que foi que nós fizemos para sermos tão odiados", disse Chaui. "Nunca em toda minha vida presenciei um ódio igual a esse. E sei hoje porquê: é porque nós fomos o principal construtor da democracia nesse país. E nós não seremos perdoados por isso nunca".
Chaui lembrou que o PT foi criado sobre "duas idéias socialistas, a idéia da igualdade econômico-social e a idéia da Justiça". "E foram essas duas idéias que definiram nosso conceito democrático de cidadania. A democracia no PT não faria nenhum sentido se os fundamentos dela não fossem suas idéias socialistas. Isso é nosso patrimônio, e por ele eu direi apaixonadamente: No pasarán!"
Com sua intervenção, a filósofa quebrou seu "silêncio", justificado pelo fato de que, até o momento, nada tinha a acrescentar além daquilo que já fora escrito sobre os rumos da esquerda pelo economista Paul Singer. Além das manifestações de orgulho, a autocrítica também esteve presente. Singer, outro fundador do PT e um dos mentores do encontro, não poupou críticas aos rumos tomados pelo partido, que segundo ele se especializou em ganhar eleições nem que para isso fossem necessárias práticas "delinqüentes".
Estavam ali, no auditório, além de Paul Singer, dezenas de outros fundadores do partido, como Paulo Skromov e Zilah Abramo.
O presidente interino do PT, Tarso Genro, afirmou que a reunião foi o primeiro passo para a descentralização do processo de decisão dentro do partido. A idéia de Tarso é criar uma "rede" de discussões que terá influência direta na nova direção petista, que será escolhida no próximo domingo, em eleições internas.
Na opinião de Tarso, o grupo de "refundação" terá de se debruçar sobre três temas centrais: rompimento com o processo de decisão centralizada -apontado como um dos principais causadores das ilegalidades às quais o PT responde hoje-, a mudança da política de alianças já para as eleições do ano que vem e a revisão do modelo econômico para um projeto de crescimento "mais robusto".


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