|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Marilena Chaui vê ódio contra o PT e diz "no pasarán!"
DA REPORTAGEM LOCAL
"No pasarán!" Com a palavra
de ordem de Dolores Ibárruri Gomez, dita "La Pasionaria", líder
dos comunistas espanhóis que
tentaram barrar a escalada fascista na Guerra Civil Espanhola
(1936-1939), a filósofa Marilena
Chaui encerrou sua fala no ato de
"refundação do PT", do qual participaram dirigentes, intelectuais
e líderes de movimentos sociais.
Chaui, aplaudida com entusiasmo pelas cerca de 300 pessoas que
lotaram o auditório do Sindicato
dos Engenheiros de São Paulo, no
centro, sintetizou o clima de resgate de origens que marcou quase
todo o encontro, realizado na noite de anteontem. "É o reencontro
do PT consigo mesmo", disse a filósofa. "Quando o PT começou
[em 1980], havia um sujeito histórico nascendo no Brasil, que eram
os movimentos sociais, sindicais.
Havia clareza do agente histórico
político", afirmou Chaui, para
quem, hoje, "ao recomeçar", o
partido tem de se apoiar naquilo
que "assegura sua existência": a
base petista. "Ela [a base] foi pouco a pouco deixada de lado e pouco a pouco deixou de lutar. Nós
nos acomodamos de um lado e
nos submetemos de outro."
Para Chaui, o "agente está aí"
pelo fato de o capitalismo "não ter
acabado". "Ele [o capitalismo]
mudou de forma e aparece no
plano da exclusão, do domínio."
A filósofa, uma das fundadoras
do PT, disse que o partido é alvo
de ódio. "Essa alegria imensa que
eu sinto aqui é porque nos últimos meses eu me perguntei o que
foi que nós fizemos para sermos
tão odiados", disse Chaui. "Nunca
em toda minha vida presenciei
um ódio igual a esse. E sei hoje
porquê: é porque nós fomos o
principal construtor da democracia nesse país. E nós não seremos
perdoados por isso nunca".
Chaui lembrou que o PT foi
criado sobre "duas idéias socialistas, a idéia da igualdade econômico-social e a idéia da Justiça". "E
foram essas duas idéias que definiram nosso conceito democrático de cidadania. A democracia no
PT não faria nenhum sentido se
os fundamentos dela não fossem
suas idéias socialistas. Isso é nosso
patrimônio, e por ele eu direi
apaixonadamente: No pasarán!"
Com sua intervenção, a filósofa
quebrou seu "silêncio", justificado pelo fato de que, até o momento, nada tinha a acrescentar além
daquilo que já fora escrito sobre
os rumos da esquerda pelo economista Paul Singer. Além das manifestações de orgulho, a autocrítica também esteve presente. Singer, outro fundador do PT e um
dos mentores do encontro, não
poupou críticas aos rumos tomados pelo partido, que segundo ele
se especializou em ganhar eleições nem que para isso fossem necessárias práticas "delinqüentes".
Estavam ali, no auditório, além
de Paul Singer, dezenas de outros
fundadores do partido, como
Paulo Skromov e Zilah Abramo.
O presidente interino do PT,
Tarso Genro, afirmou que a reunião foi o primeiro passo para a
descentralização do processo de
decisão dentro do partido. A idéia
de Tarso é criar uma "rede" de
discussões que terá influência direta na nova direção petista, que
será escolhida no próximo domingo, em eleições internas.
Na opinião de Tarso, o grupo de
"refundação" terá de se debruçar
sobre três temas centrais: rompimento com o processo de decisão
centralizada -apontado como
um dos principais causadores das
ilegalidades às quais o PT responde hoje-, a mudança da política
de alianças já para as eleições do
ano que vem e a revisão do modelo econômico para um projeto de
crescimento "mais robusto".
Texto Anterior: Garotinho diz querer "afundar o PT" Próximo Texto: Toda mídia - Nelson de Sá: Lula lá Índice
|