São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2005

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CASO MALUF

Ministério Público diz ter indícios de que parte de dinheiro supostamente desviado serviu para adquirir barras de ouro

Compra de ouro abre novo foco contra Maluf

Caio Guateli/Folha Imagem
O advogado Ricardo Tosto, após visitar seu cliente, Paulo Maluf


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público de São Paulo informou ter indícios de que parte do dinheiro desviado da construção da avenida Águas Espraiadas (hoje Jornalista Roberto Marinho), durante a gestão do ex-prefeito Paulo Maluf, foi usado na compra de 1.400 barras de ouro.
Além de documentos que foram anexados ao processo, as autoridades esperam contar com o depoimento de um doleiro, que está preso, e cuja identidade é mantida sob sigilo.
Esse doleiro consta como o beneficiário dos cheques e como o responsável pela compra do ouro.
A aquisição foi descoberta por meio da quebra dos sigilos bancários da construtora Mendes Júnior e das empresas subcontratadas por ela para a obra.
Pelo menos dois cheques emitidos pela Planicampo Terraplanagem Ltda e pela Fomento Engenharia e Construções Ltda, duas das subcontratadas pela Mendes Júnior, datados dos dias 14 e 20 de janeiro de 1998, foram destinados a compra do ouro na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).
Pessoas ligadas a algumas dessas empresas confirmaram ao Ministério Público do Estado que receberam da Mendes Júnior sem trabalhar. Segundo essas pessoas, as empresas emitiam notas fiscais frias para a construtora e devolviam 90% do valor recebido. O valor restante representava o lucro da operação.
A reportagem obteve cópia de uma das notas de corretagem, emitida no dia 15 de janeiro de 1998. O "cliente" é o doleiro que está preso -o nome foi omitido por conta das investigações. A referência "OZ" na coluna da mercadoria significa ouro.
O nome da corretora responsável pela negociação também vem sendo mantido em sigilo.
"Esse é um dos três esquemas de desvio de dinheiro público envolvendo a avenida Água Espraiada. A prova é documental e testemunhal", afirmou o promotor de Justiça da Cidadania Sílvio Marques.

Ouro
O primeiro caminho citado pelo Ministério Público, que foi denunciado [acusado formalmente] à Justiça Federal, é a remessa ilegal de milhões de dólares para o exterior por meio de doleiros.
Autoridades da Suíça, dos EUA, da ilha de Jersey e da França, por exemplo, já comunicaram ao Brasil a existência de contas dos Maluf. A família do ex-prefeito teria movimentado cerca de US$ 448 milhões no exterior.
O segundo caminho é a circulação do dinheiro da propina dentro de caixas de bebida. A acusação partiu do ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo Armando Mellão.
A compra de ouro é o terceiro caminho apontado pelo Ministério Público.

Fantasmas
De acordo com o Ministério Público, a construtora Mendes Júnior pagou mais de US$ 195 milhões a empresas tidas como "fantasmas" pela Promotoria.
A Planicampo foi a empresa que recebeu a maior quantidade de recursos da Mendes Júnior: R$ 93,8 milhões.
Além da Fomento e da Planicampo, também foram beneficiadas pelos pagamentos da Mendes Júnior: STPO Serviços de Terraplanagem, Projetos e Obras, Construtora Emplo, Ualuna Industrial e Ambiental, Tecla Terraplanagem e Construções, Jatobá Esquadrias de Madeira e Costaço Comércio de Ferro e Aço.
Todas foram acusadas em ação civil pública por enriquecimento ilícito.


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