São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SÃO PAULO

Presidente ouve em reunião com ministros conselhos para não gravar novo depoimento e não dar ministério à prefeita em caso de derrota

Assessores preferem Lula distante de Marta

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu ontem em conversas reservadas com ministros conselhos para não gravar novo depoimento de TV em apoio à reeleição da prefeita Marta Suplicy (PT) em São Paulo e para não nomeá-la ministra em caso de derrota.
A exemplo da semana passada, quando o próprio Lula disse em conversas reservadas que achava "muito difícil" uma virada da petista, a vitória do tucano José Serra foi a hipótese considerada mais provável na reunião de ontem da coordenação de governo, grupo dos principais ministros.
A pesquisa Datafolha publicada no último domingo mostrando 12 pontos de vantagem de Serra sobre Marta foi discutida ontem nos momentos em que Lula ouviu os conselhos dos ministros.
A avaliação predominante na cúpula do governo é que Lula já fez tudo o que era possível pela vitória de Marta e que, no cenário de provável derrota, deveria evitar se associar demais a ela.
Gravar novo depoimento de TV, por exemplo, seria inútil. Lula teria de marcar compromisso em São Paulo. Ele ouviu a sugestão de serem usadas gravações de estúdio feitas no primeiro turno.
A Folha apurou que Lula ouviu da maioria dos principais ministros dúvidas sobre a conveniência de nomear Marta ministra, possibilidade a respeito da qual ele reflete e sobre a qual ainda não há decisão definitiva tomada. Para eles, equivaleria a trazer para dentro do governo federal os fortes conflitos que se desenharam nas eleições entre PT e PSDB.
Por essa avaliação, a nomeação de Marta só complicaria mais os planos de reatar laços com setores da oposição, sobretudo os tucanos, a fim de viabilizar maioria no Congresso para aprovar projetos mais polêmicos, como o das PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Há a visão do próprio presidente de que ele se excedeu no primeiro turno, ao pedir votos para Marta na inauguração de uma obra. Foi até multado em R$ 50 mil na primeira instância da Justiça Eleitoral. Mais: a campanha de TV e rádio da prefeita já vai insistir na idéia de associação entre Lula e a prefeita, vendendo o apadrinhamento federal como mais importante do que o estadual. Logo, seria dispensável maior vinculação pública de Lula a Marta.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), potencial candidato a presidente em 2006, faz campanha diariamente para Serra.
Na hipótese de Marta virar ministra, a pasta apontada nas conversas da cúpula do governo como a mais provável é a das Cidades, de Olívio Dutra, que sobreviveu à última reforma ministerial graças a ação de prefeitos do PT.
A Folha apurou que Marta demonstra resistências à idéia de virar ministra. Porque ainda confia na vitória e porque acha que soaria como prêmio de consolação.
As avaliações ocorreram ontem em reunião de Lula, que acontece quase que semanalmente, com os principais ministros e define diretrizes gerais do governo.
Na pauta de ontem foram discutidos os seguintes temas: ferrovias, orçamento de 2005 e eleições. Participaram os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Gushiken (Comunicação), Luís Dulci (Secretaria Geral) e Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). Aldo Rebelo também participa desta reunião, mas ontem não compareceu.


Texto Anterior: Duelo entre PT e PSDB começa amanhã na TV
Próximo Texto: Licenciada, petista pede votos em São Bernardo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.