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SÃO PAULO
Presidente ouve em reunião com ministros conselhos para não gravar novo depoimento e não dar ministério à prefeita em caso de derrota
Assessores preferem Lula distante de Marta
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ouviu ontem em conversas
reservadas com ministros conselhos para não gravar novo depoimento de TV em apoio à reeleição
da prefeita Marta Suplicy (PT) em
São Paulo e para não nomeá-la
ministra em caso de derrota.
A exemplo da semana passada,
quando o próprio Lula disse em
conversas reservadas que achava
"muito difícil" uma virada da petista, a vitória do tucano José Serra foi a hipótese considerada mais
provável na reunião de ontem da
coordenação de governo, grupo
dos principais ministros.
A pesquisa Datafolha publicada
no último domingo mostrando 12
pontos de vantagem de Serra sobre Marta foi discutida ontem nos
momentos em que Lula ouviu os
conselhos dos ministros.
A avaliação predominante na
cúpula do governo é que Lula já
fez tudo o que era possível pela vitória de Marta e que, no cenário
de provável derrota, deveria evitar se associar demais a ela.
Gravar novo depoimento de
TV, por exemplo, seria inútil. Lula
teria de marcar compromisso em
São Paulo. Ele ouviu a sugestão de
serem usadas gravações de estúdio feitas no primeiro turno.
A Folha apurou que Lula ouviu
da maioria dos principais ministros dúvidas sobre a conveniência
de nomear Marta ministra, possibilidade a respeito da qual ele reflete e sobre a qual ainda não há
decisão definitiva tomada. Para
eles, equivaleria a trazer para dentro do governo federal os fortes
conflitos que se desenharam nas
eleições entre PT e PSDB.
Por essa avaliação, a nomeação
de Marta só complicaria mais os
planos de reatar laços com setores
da oposição, sobretudo os tucanos, a fim de viabilizar maioria no
Congresso para aprovar projetos
mais polêmicos, como o das PPPs
(Parcerias Público-Privadas).
Há a visão do próprio presidente de que ele se excedeu no primeiro turno, ao pedir votos para
Marta na inauguração de uma
obra. Foi até multado em R$ 50
mil na primeira instância da Justiça Eleitoral. Mais: a campanha de
TV e rádio da prefeita já vai insistir na idéia de associação entre
Lula e a prefeita, vendendo o apadrinhamento federal como mais
importante do que o estadual. Logo, seria dispensável maior vinculação pública de Lula a Marta.
O governador Geraldo Alckmin
(PSDB-SP), potencial candidato a
presidente em 2006, faz campanha diariamente para Serra.
Na hipótese de Marta virar ministra, a pasta apontada nas conversas da cúpula do governo como a mais provável é a das Cidades, de Olívio Dutra, que sobreviveu à última reforma ministerial
graças a ação de prefeitos do PT.
A Folha apurou que Marta demonstra resistências à idéia de virar ministra. Porque ainda confia
na vitória e porque acha que soaria como prêmio de consolação.
As avaliações ocorreram ontem
em reunião de Lula, que acontece
quase que semanalmente, com os
principais ministros e define diretrizes gerais do governo.
Na pauta de ontem foram discutidos os seguintes temas: ferrovias, orçamento de 2005 e eleições. Participaram os ministros
José Dirceu (Casa Civil), Antonio
Palocci (Fazenda), Luiz Gushiken
(Comunicação), Luís Dulci (Secretaria Geral) e Jaques Wagner
(Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social). Aldo Rebelo
também participa desta reunião,
mas ontem não compareceu.
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