São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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SÃO PAULO

Petistas acreditam que declaração de voto de ex-prefeito é importante, mas vão evitar explorar apoio durante a campanha

PT pretende "higienizar" apoio de Maluf a Marta

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT paulistano vê como inevitável a declaração de apoio do ex-prefeito Paulo Maluf (PP) à candidatura de Marta Suplicy à prefeitura, mas espera "higienizar" a adesão, evitando, por exemplo, explorá-la no horário gratuito de rádio e TV, pelo menos por ora.
A avaliação de coordenadores da campanha da petista e de parlamentares próximos à direção municipal do partido é que todo apoio é bem-vindo neste momento, em que, segundo pesquisa Datafolha divulgada domingo, José Serra (PSDB) tem 51% das intenções de voto e Marta, 39%.
Para os petistas pragmáticos, a declaração de voto de Maluf em Marta poderá influenciar na decisão do eleitor que é fiel ao ex-prefeito, trazendo mais ganhos do que perdas. Esses mesmos petistas não têm, porém, esperança de reverter a maioria dos votos malufistas, mas somente uma parte.
Segundo o Datafolha, 70% dos eleitores do ex-prefeito disseram que pretendem votar em Serra e somente 13% estão dispostos a aderir a Marta. No primeiro turno, Maluf ficou em terceiro lugar, com 11,9% dos votos válidos.
Para uma ala mais crítica do PT, a aceitação entusiasta do apoio de Maluf tornou-se um complicador depois que o ex-prefeito foi indiciado pela Polícia Federal, anteontem, sob a acusação de formação de quadrilha, sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e peculato (apropriação de dinheiro público).
Segundo esses petistas, o apoio de Maluf, ao invés de acrescentar votos, pode tirar. Mas essa ala foi vencida com um argumento. "Ninguém pode impedi-lo de declarar o que quiser", diz um petista próximo à coordenação.
Além disso, os pragmáticos alegam que o PP já dá apoio ao governo federal e também já declarou apoio oficialmente a Marta.
O namoro entre Maluf e o PT começou já no primeiro turno. Petistas e o candidato do PP fecharam um acordo pelo qual o ex-prefeito pouparia Marta e centraria fogo no tucano; em troca, ele seria protegido, nos limites legais, na CPI do Banestado.
Já o discurso para "deglutir" o apoio oficial de Maluf vem sendo preparado pelo PT desde antes do fim do primeiro turno. "Queremos os votos dos malufistas", repete o líder do PT na Assembléia Legislativa, Cândido Vaccarezza.
"A adesão de Maluf é uma decisão unilateral dele", afirma. "Quem apoiar Marta está fazendo uma boa ação", apregoa, para completar: "Mas isso não quer dizer que os pecados do passado estão redimidos."
Para um petista próximo à coordenação da campanha, esse apoio do ex-prefeito deverá ficar restrito a uma entrevista coletiva. Em 2002, Maluf apoiou José Genoino (PT) no segundo turno da eleição para governador contra Geraldo Alckmin (PSDB). A declaração de apoio não foi feita ao lado do então candidato, mas em uma entrevista coletiva.
Por ora, Marta também não está disposta a posar para fotos ao lado de Maluf, a quem já classificou de "nefasto". Ontem, na porta da fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo, a petista interrompeu a entrevista que concedia e saiu em direção ao carro quando os jornalistas perguntaram sobre o apoio de Maluf .
"Vocês dizem no jornal que não adianta ele apoiar, porque o voto [de quem escolheu Maluf no primeiro turno] não vem. Não sei por que estão tão preocupados com isso", disse o candidato a vice na chapa do PT, Rui Falcão.
O PT também tem um "antídoto" para o caso de o PSDB explorar o apoio de Maluf como algo negativo. Os petistas vão lembrar, por exemplo, que em 1994, quando Mário Covas (PSDB) disputou o segundo turno da eleição para governador contra Francisco Rossi (então no PDT), Maluf declarou apoio ao tucano na casa de Fernando Henrique Cardoso.


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