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CONTAS DA REELEIÇÃO
Arrecadador de FHC diz que todos têm caixa-dois
"Prestações de contas caem no ridículo", afirma o ex-sócio de EJ
Arrecadador de FHC diz que todos têm caixa-dois
Beto Barata/Folha Imagem
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Líderes da oposição na Câmara discutem as medidas para investigar os indícios de irregularidades na campanha de FHC à reeleição |
WLADIMIR GRAMACHO
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O empresário Mário Petrelli disse ontem, em entrevista à Folha,
que toda campanha eleitoral tem
um caixa-dois. "Em toda eleição,
eu duvido que não tenha alguém
que deu extra", afirmou. Petrelli
foi um dos arrecadadores financeiros da campanha de reeleição
do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998.
A Folha revelou, em sua edição
de domingo, que R$ 10,120 milhões não foram declarados pelo
comitê financeiro de FHC ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o
que é ilegal.
Segundo Mário Petrelli, ex-sócio de Eduardo Jorge Caldas Pereira na DTC (Direct to Company), "as prestações de contas
caem no ridículo".
"Eu faria essa análise", disse, sugerindo alterações na legislação
eleitoral.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Folha - O sr. tem conhecimento
do caixa-dois da campanha de reeleição do presidente Fernando
Henrique Cardoso?
Mário Petrelli - O caixa paralelo
eu não conheço. Se houve ou não
houve... Em toda eleição, eu duvido que não tenha alguém que deu
extra.
Folha - O sr. acha que toda eleição
tem isso?
Petrelli - Eu tenho impressão. E
acho que tem muita coisa... O sacolão do PT não é um extra?
Folha - Sacolão?
Petrelli - O PT não pedia contribuição também, no meio da rua?
É um extra. Quer dizer: o mais humilde deu no sacolão. Que é a
mesma clandestinidade do que dá
maior. É a mesma clandestinidade. É preciso mudar a avaliação.
(A ligação telefônica feita para o
celular do empresário é interrompida e logo retomada.)
Folha - O que o sr. estava dizendo?
Petrelli - Acho que vocês estão
fazendo uma coisa visando, efetivamente, mudar os métodos de
arrecadação no país. Deve-se criar
um fundo partidário, proibindo
terminantemente alguém de pedir (doação para o setor privado).
Porque o pedido é muito subjetivo. Você acha que a (campanha)
do Lula só usou aquilo que está
declarado?
Folha - Não sei. Não tenho experiência com isso.
Petrelli - É só fazer a conta do
avião. Ele arrecadou, com contribuição espontânea, de muita gente, como todos arrecadaram. As
prestações de contas caem no ridículo. Eu faria essa análise.
Folha - O sr. acha que o sistema
atual está vencido?
Petrelli - Não. Eu acho o seguinte: esse sistema procurou estabelecer um método melhor, ou seja,
criar contribuição com recibo oficial. Mas, se isso não resolve, o
que é importante? É fazer o modelo da Espanha, que eu considero o
melhor modelo que eu vi.
Folha - Como funciona lá?
Petrelli - O fundo partidário não
se confunde com o fundo eleitoral. Quem examina o fundo partidário é um segmento do governo.
Quem examina o fundo eleitoral é
outro (segmento). Existe uma
verba destinada para os partidos,
que é examinada por um tribunal.
E o fundo para eleição é examinado por outro departamento. Não
pode existir mistura.
Folha - E quem fiscaliza para saber se o partido gastou só o dinheiro que está no fundo eleitoral?
Petrelli - Ah, lá é um rigor tremendo. Há um critério: não pode
misturar verba, não pode misturar fundo partidário com fundo
eleitoral.
Folha - O sr. acha que o sistema
no Brasil não é sério?
Petrelli - Eu não estou dizendo
que não é sério. Vocês é que estão
dizendo que não é sério.
Folha - Mas o sr. está dizendo que
todo mundo tem doação em caixa-dois.
Petrelli - Vocês não estão vendo
arrecadação no meio da rua? Sacola? Seja 1 mil réis (sic) ou 10 mil
réis é porque houve alguma coisa
que não está contabilizada. Alguém pode contabilizar o público
anônimo?
Folha - O sr. disse que, quando a
contribuição é em cheque, o partido tem que dar recibo.
Petrelli - Tem que dar recibo.
Folha - Mas há doações que ficam
sem recibo.
Petrelli - Eu não conheço. Eu estou dando um exemplo da sacola
do PT.
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