São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

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CONTAS DA REELEIÇÃO

 Arrecadador de FHC diz que todos têm caixa-dois

 "Prestações de contas caem no ridículo", afirma o ex-sócio de EJ

Arrecadador de FHC diz que todos têm caixa-dois

Beto Barata/Folha Imagem
Líderes da oposição na Câmara discutem as medidas para investigar os indícios de irregularidades na campanha de FHC à reeleição


WLADIMIR GRAMACHO
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O empresário Mário Petrelli disse ontem, em entrevista à Folha, que toda campanha eleitoral tem um caixa-dois. "Em toda eleição, eu duvido que não tenha alguém que deu extra", afirmou. Petrelli foi um dos arrecadadores financeiros da campanha de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1998.
A Folha revelou, em sua edição de domingo, que R$ 10,120 milhões não foram declarados pelo comitê financeiro de FHC ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que é ilegal.
Segundo Mário Petrelli, ex-sócio de Eduardo Jorge Caldas Pereira na DTC (Direct to Company), "as prestações de contas caem no ridículo".
"Eu faria essa análise", disse, sugerindo alterações na legislação eleitoral.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - O sr. tem conhecimento do caixa-dois da campanha de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso?
Mário Petrelli -
O caixa paralelo eu não conheço. Se houve ou não houve... Em toda eleição, eu duvido que não tenha alguém que deu extra.

Folha - O sr. acha que toda eleição tem isso?
Petrelli -
Eu tenho impressão. E acho que tem muita coisa... O sacolão do PT não é um extra?

Folha - Sacolão?
Petrelli -
O PT não pedia contribuição também, no meio da rua? É um extra. Quer dizer: o mais humilde deu no sacolão. Que é a mesma clandestinidade do que dá maior. É a mesma clandestinidade. É preciso mudar a avaliação. (A ligação telefônica feita para o celular do empresário é interrompida e logo retomada.)

Folha - O que o sr. estava dizendo?
Petrelli -
Acho que vocês estão fazendo uma coisa visando, efetivamente, mudar os métodos de arrecadação no país. Deve-se criar um fundo partidário, proibindo terminantemente alguém de pedir (doação para o setor privado). Porque o pedido é muito subjetivo. Você acha que a (campanha) do Lula só usou aquilo que está declarado?

Folha - Não sei. Não tenho experiência com isso.
Petrelli -
É só fazer a conta do avião. Ele arrecadou, com contribuição espontânea, de muita gente, como todos arrecadaram. As prestações de contas caem no ridículo. Eu faria essa análise.

Folha - O sr. acha que o sistema atual está vencido?
Petrelli -
Não. Eu acho o seguinte: esse sistema procurou estabelecer um método melhor, ou seja, criar contribuição com recibo oficial. Mas, se isso não resolve, o que é importante? É fazer o modelo da Espanha, que eu considero o melhor modelo que eu vi.

Folha - Como funciona lá?
Petrelli -
O fundo partidário não se confunde com o fundo eleitoral. Quem examina o fundo partidário é um segmento do governo. Quem examina o fundo eleitoral é outro (segmento). Existe uma verba destinada para os partidos, que é examinada por um tribunal. E o fundo para eleição é examinado por outro departamento. Não pode existir mistura.

Folha - E quem fiscaliza para saber se o partido gastou só o dinheiro que está no fundo eleitoral?
Petrelli -
Ah, lá é um rigor tremendo. Há um critério: não pode misturar verba, não pode misturar fundo partidário com fundo eleitoral.

Folha - O sr. acha que o sistema no Brasil não é sério?
Petrelli -
Eu não estou dizendo que não é sério. Vocês é que estão dizendo que não é sério.

Folha - Mas o sr. está dizendo que todo mundo tem doação em caixa-dois.
Petrelli -
Vocês não estão vendo arrecadação no meio da rua? Sacola? Seja 1 mil réis (sic) ou 10 mil réis é porque houve alguma coisa que não está contabilizada. Alguém pode contabilizar o público anônimo?

Folha - O sr. disse que, quando a contribuição é em cheque, o partido tem que dar recibo.
Petrelli -
Tem que dar recibo.

Folha - Mas há doações que ficam sem recibo.
Petrelli -
Eu não conheço. Eu estou dando um exemplo da sacola do PT.


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