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PREVIDÊNCIA
Quem começou a trabalhar antes dos 18 anos vai levar mais tempo para se aposentar com novas regras
Reforma atinge mais trabalhador precoce
MARTA SALOMON
VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília
Com o fim da
aposentadoria
integral do fun
cionalismo pú
blico adiada pa
ra depois das
eleições, o prin
cipal alvo do
projeto de reforma da Previdência
são os brasileiros que começaram
a trabalhar antes dos 18 anos.
Não há cálculo preciso desse
contingente. Atualmente contri
buem com o INSS (Instituto Na
cional do Seguro Social) 1,2 mi
lhão de trabalhadores com menos
de 20 anos. Não estão incluídos
aqui os servidores públicos.
Do universo de mais de 30 mi
lhões de trabalhadores que já con
tribuem, o grupo dos que começa
ram a trabalhar com menos de 18
anos será o mais prejudicado por
que terá de contribuir por mais
tempo até atingir a idade mínima
para se aposentar, de 53 anos para
homens e 48 anos para mulheres.
A espera extra pode chegar a seis
anos.
Todos os demais trabalhadores
(da iniciativa privada ou servido
res públicos) que começaram a pa
gar contribuições antes da pro
mulgação da emenda (prevista pa
ra abril) também terão de esperar
mais pela aposentadoria.
O tempo que faltava será aumen
tado em 20%, segundo o texto em
votação na Câmara. Se faltavam 10
anos para determinada pessoa ter
o direito à aposentadoria integral,
ela terá de trabalhar mais 12 anos.
Se faltavam 20, serão mais 24 anos
de trabalho.
O mecanismo é conhecido como
"pedágio" e pretende pôr fim às
aposentadorias precoces -aponta
das pelo governo como o grande
vilão do sistema previdenciário.
No caso da aposentadoria propor
cional, o "pedágio" será de 40%.
A criação de um limite mínimo
de idade para a aposentadoria é a
principal marca da primeira etapa
da reforma da Previdência. A se
gunda etapa, em estudo, aproxi
mará o Brasil dos modelos de pre
vidência complementar em vigor
na Argentina e no Uruguai.
Já a partir da promulgação da
emenda constitucional, os traba
lhadores que entrarem no sistema
de Previdência terão de esperar até
60 anos (homens) ou 55 anos (mu
lheres) para terem direito a um be
nefício de até R$ 1.200, no caso dos
trabalhadores da iniciativa priva
da ou de até R$ 12.720, se for fun
cionário público.
Estatísticas do Ministério da Pre
vidência mostram que os trabalha
dores vêm se aposentado cada vez
mais cedo. Em 97, a idade média
dos que pediram aposentadoria
por idade foi de 60,7 anos.
Quem pediu aposentadoria por
tempo de serviço no ano passado
tinha, em média, 49 anos. Esse tipo
de aposentadoria acaba com a re
forma, que exige 30 anos de con
tribuição das mulheres e 35 dos
homens.
Um dos casos recordes de apo
sentadoria precoce foi localizado
pela Folha no município de Morro
da Fumaça, em Santa Catarina.
João Carlos Steinback tem 34 anos
e recebe, desde o ano passado, R$
580 de aposentadoria.
Ele começou a trabalhar aos 12
anos com o pai na roça. Aos 19
anos foi para uma mina de carvão,
lugar considerado insalubre pela
legislação, onde cada ano de traba
lho vale por 2,6 na contagem do
tempo para a aposentadoria.
Steinback ainda trabalha na mina.
Comparada à versão original da
reforma encaminhada pelo presi
dente Fernando Henrique Cardo
so ao Congresso há quase três
anos, o texto atual é bem mais ri
goroso com o limite de idade.
A reforma, porém, está saindo
do Congresso bem mais amena
com os servidores, onde a crise é
mais grave. O setor público gasta
mais (R$ 46,1 bilhões em 1996)
com um número cinco vezes me
nor de segurados (2,9 milhões de
inativos contra 16,5 milhões de
aposentados e pensionistas).
Essa equação vai demorar muito
tempo para mudar. O fim da apo
sentadoria integral para os futuros
aposentados da União, dos Esta
dos e dos municípios ainda depen
derá de uma lei e só deve ser apli
cada a partir de 1999 e que fixará
um redutor de até 30% para quem
ganha acima de R$ 1.200 (98% da
classe no caso do Judiciário).
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