|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NOVA REPÚBLICA - 20 ANOS
Desde a posse de Sarney, houve avanço institucional, mas não redução de desigualdades, diz especialista
Questão social ainda desafia democracia
DA REDAÇÃO
A chegada de José Sarney ao
Planalto há 20 anos -depois de
duas décadas de ditadura- devolveu a democracia política ao
país, mas o avanço obtido, desde
então, não conseguiu resolver os
problemas sociais e econômicos
mais agudos.
"Houve uma dissociação entre a
democracia política e a democracia social. Elas estavam juntas no
final dos anos 70, no movimento
das Diretas Já, no novo sindicalismo brasileiro", diz o cientista político Luiz Werneck Vianna, do
Iuperj (Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro).
Para ele, Sarney cumpriu os
avanços institucionais necessários para a transição política -da
qual a legalização dos partidos,
inclusive o comunista, e a Constituição de 1988 foram marcos-, e
as conquistas institucionais foram progressivas de lá para cá,
mas a expectativa de diminuição
das desigualdades foi frustrada.
"Os avanços sociais tem sido a
conta-gotas."
Vice de Tancredo Neves, eleito
presidente pelo Colégio Eleitoral,
Sarney assume em 15 de março de
1985, devido à doença do titular,
que viria a morrer 38 dias depois.
No governo Sarney, os últimos
suspiros da política nacional-desenvolvimentista do regime militar, criticada por "crescer o bolo"
e não distribuir, foram substituídos pelo debate do controle da inflação. A agenda social foi adiada.
Mas ainda assim Vianna enxerga no Plano Cruzado, pacote econômico do governo Sarney, a
principal tentativa de controlar a
inflação no período, sinais de um
projeto de desenvolvimento do
país com aspirações sociais. "É só
ver quem estava envolvido no plano", diz ele, citando como exemplo o economista Luiz Gonzaga
Belluzzo. "Mas negou-se ao Sarney o apoio. Foi um erro".
Para Vianna, a coalizão de forças formada nas diretas foi desfeita cedo demais e o resultado posterior foi a pulverização de candidatos na eleição de 1989, que abriu
espaço para Fernando Collor. Foi
ele, segundo Vianna, o responsável pela substituição definitiva da
agenda da "democracia social"
pela da liberalização do Estado e
do patrimonialismo. "Agora o
partido de esquerda eleito pelo
voto também não fez coalizão política, antes, para realizar as mudanças sociais. Fez coalizão, agora, pela reprodução do poder."
Para o historiador Marco Antonio Villa, o fracasso econômico e
econômico do governo Sarney
também contribuiu para eleição
de Collor: "Havia a esperança de
que a democracia pudesse resolver os dilemas econômicos."
Mas se o governo Sarney fracassou, o presidente que passou a faixa a Collor em 1990 com baixos
índices de popularidade, porém, é
essencial no arranjo legislativo da
"Nova República". No cenário de
1985, a perpetuação de Sarney não
é a regra, diz o historiador. "Muitos dos que despontavam em 1985
como liderança viraram figuras
pálidas depois", aponta Villa. Para ele, a sobrevida de Sarney se deve à manutenção do poder local,
com reflexo direto no Congresso.
Arquivos do regime
Para Villa, um outro aspecto da
transição promovida por Sarney é
a conciliação com o regime militar. O processo, que define como
"demasiado longo", deixou problemas a resolver, como a abertura dos arquivos. "Sarney sequer
insinuou algo sobre a questão militar, sobre os os desaparecidos.
Era o momento histórico."
Sarney era egresso do partido de
sustentação do regime e, para a
posse, teve o apoio do general
Leônidas Pires Gonçalves, seu poderoso ministro da Exército.
"Ele fez um governo contido.
Para os militares, o governo era o
"quase ideal", um processo de continuidade sutil", diz a professora
do Departamento de História da
USP Maria Aparecida Aquino.
Para ela, a polêmica sobre acesso aos documentos do regime no
governo Lula remete ao período:
"coroa um processo muito mal
conduzido de reestabelecimento
do Estado democrático de Direito".
(FM)
Texto Anterior: Saúde: D. Paulo Evaristo Arns se recupera de infarto no Incor; estado de saúde é estável Próximo Texto: Constituição foi prioridade do governo Sarney Índice
|