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JANIO DE FREITAS
Um homem público
O desapego à autopromoção deixa do desempenho de Márcio Thomaz Bastos idéia muito aquém da realidade
MÁRCIO THOMAZ Bastos deixa hoje o Ministério da
Justiça. Disse ele, há poucos dias, já sentir "um vazio". Mas a
bagagem que leva por seu desempenho não o deixaria sentir nem o menor dos vazios. Seu sentimento é,
talvez, o da despedida, essa sensação
capaz de ser um modo de tortura
emotiva. O vazio da saída de Márcio
Thomaz Bastos, no limite e nos termos do compromisso que admitiu
com Lula, não está nele.
Seu desapego à propaganda pessoal e o apego ao uso das palavras
não mais que necessárias, e precisas,
deixa do desempenho de Márcio
Thomaz Bastos, por mais que tenha
sido elogiado, idéia muito aquém da
realidade. Não houve área em que o
Ministério da Justiça pudesse introduzir aprimoramento democrático,
fosse de ordem prática ou apenas
institucional, e tal oportunidade não
esteja aproveitada até o limite permitido pelas circunstâncias.
Uns poucos exemplos do que mal
foi dado ao conhecimento público
pelos meios de comunicação: medidas em defesa do consumidor, como
o direito a informações que lhe dificultavam o controle de muitas das
contas recebidas; nas áreas indígenas, providências como a de Raposa
Serra do Sol, homologada para os índios depois de 20 anos de obstáculos
e protelações, com outras 62 áreas;
novos acordos operacionais para reprimir o tráfico de pessoas; medidas
contra produtos maquiados e pre
ços obscuros, fortalecimento do Cade e combate a cartéis, e muito mais.
Entre as iniciativas mais notórias,
sempre merecerá menção a série de
operações, cerca de 350 em apenas
50 meses, de combate a crimes financeiros empresariais e de quadrilhas especializadas, ao contrabando
e à pirataria; os apoios ao Judiciário,
inclusive o Conselho Nacional de
Justiça, e, com a colaboração importante do delegado Paulo Lacerda, a
recriação da Polícia Federal.
E, no entanto, não há memória de
que os programas do Ministério da
Justiça fossem mais oprimidos por
cortes em suas verbas orçamentárias do que, por quase quatro anos,
no período de Antonio Palocci como
ministro da Fazenda e, pior, como
orientador de Lula.
É uma bagagem peculiar, a dos
homens públicos à maneira de
Márcio Thomaz Bastos. A um só
tempo, levam-na como patrimônio
pessoal e deixam-na como patrimônio de todos.
AéreoLula
Os discursos e as declarações de
Lula voam com uma persistência
que já ultrapassou a fronteira do
ridículo. Essa de que o confuso PAC
"é o mais importante projeto de
desenvolvimento já feito neste
país" faz supor que Lula, de tanto
voejar nos discursos, não reconhece mais o chão.
Come e dorme no Alvorada, conversa no Planalto, vê Brasília, Furnas, Três Marias, estradas, nas suas
contínuas idas e vindas; áreas industriais criadas há 50 anos para irradiar a industrialização -e, depois, diz o que disse do PAC.
Não é à toa que nem um ministeriozinho Lula consegue montar ao
longo já de quase cinco meses.
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