São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2007

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JANIO DE FREITAS

Um homem público

O desapego à autopromoção deixa do desempenho de Márcio Thomaz Bastos idéia muito aquém da realidade

MÁRCIO THOMAZ Bastos deixa hoje o Ministério da Justiça. Disse ele, há poucos dias, já sentir "um vazio". Mas a bagagem que leva por seu desempenho não o deixaria sentir nem o menor dos vazios. Seu sentimento é, talvez, o da despedida, essa sensação capaz de ser um modo de tortura emotiva. O vazio da saída de Márcio Thomaz Bastos, no limite e nos termos do compromisso que admitiu com Lula, não está nele.
Seu desapego à propaganda pessoal e o apego ao uso das palavras não mais que necessárias, e precisas, deixa do desempenho de Márcio Thomaz Bastos, por mais que tenha sido elogiado, idéia muito aquém da realidade. Não houve área em que o Ministério da Justiça pudesse introduzir aprimoramento democrático, fosse de ordem prática ou apenas institucional, e tal oportunidade não esteja aproveitada até o limite permitido pelas circunstâncias.
Uns poucos exemplos do que mal foi dado ao conhecimento público pelos meios de comunicação: medidas em defesa do consumidor, como o direito a informações que lhe dificultavam o controle de muitas das contas recebidas; nas áreas indígenas, providências como a de Raposa Serra do Sol, homologada para os índios depois de 20 anos de obstáculos e protelações, com outras 62 áreas; novos acordos operacionais para reprimir o tráfico de pessoas; medidas contra produtos maquiados e pre ços obscuros, fortalecimento do Cade e combate a cartéis, e muito mais.
Entre as iniciativas mais notórias, sempre merecerá menção a série de operações, cerca de 350 em apenas 50 meses, de combate a crimes financeiros empresariais e de quadrilhas especializadas, ao contrabando e à pirataria; os apoios ao Judiciário, inclusive o Conselho Nacional de Justiça, e, com a colaboração importante do delegado Paulo Lacerda, a recriação da Polícia Federal.
E, no entanto, não há memória de que os programas do Ministério da Justiça fossem mais oprimidos por cortes em suas verbas orçamentárias do que, por quase quatro anos, no período de Antonio Palocci como ministro da Fazenda e, pior, como orientador de Lula.
É uma bagagem peculiar, a dos homens públicos à maneira de Márcio Thomaz Bastos. A um só tempo, levam-na como patrimônio pessoal e deixam-na como patrimônio de todos.

AéreoLula
Os discursos e as declarações de Lula voam com uma persistência que já ultrapassou a fronteira do ridículo. Essa de que o confuso PAC "é o mais importante projeto de desenvolvimento já feito neste país" faz supor que Lula, de tanto voejar nos discursos, não reconhece mais o chão.
Come e dorme no Alvorada, conversa no Planalto, vê Brasília, Furnas, Três Marias, estradas, nas suas contínuas idas e vindas; áreas industriais criadas há 50 anos para irradiar a industrialização -e, depois, diz o que disse do PAC.
Não é à toa que nem um ministeriozinho Lula consegue montar ao longo já de quase cinco meses.


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