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NO PLANALTO
Em meio a elefante$, FHC não vê as formiguinha$
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto o escândalo da
$udam era apenas um elefante fazendo piruetas à sua
frente, FHC tratou-o com desdém. Só depois que o caso virou
uma manada de elefantes rumo
à sua biografia, pôs fim à política do pouco-caso.
FHC está agora às voltas com
um esforço contraditório: tenta
salvar o que resta da reputação
ética do principado ao mesmo
tempo em que negocia com Jader Barbalho o preço da lealdade do "PMDBreu".
Preocupado em esquivar-se
das trombas que ainda balançam à sua volta, FHC não tem
olhos para formiguinhas que começam a escalar-lhe o sapato.
O presidente deveria chamar
Francisco Dornelles para uma
conversa. Quanto antes melhor.
Uma das formigas está prestes a
ganhar a altura da meia de Sua
Excelência.
Iniciaria o diálogo de forma
seca. Perguntaria: "Por que diabos, senhor ministro, Renato
Basto Visco continua pendurado à folha de pagamento do Ministério do Trabalho?"
Assessor especial de Dornelles,
Renato Visco carrega um prontuário que não condiz com o súbito surto de moralidade que
varre Brasília. Ele é protagonista de relatórios da Secretaria Federal de Controle, o mesmo órgão de auditoria que coleciona,
desde 1997, os desvios da
$udam.
Detectaram-se malfeitorias
variadas na gestão de Renato
Visco à frente da diretoria de
Admini$tração Geral do INPI
(Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Ele ganhou o
cargo à época em que Dornelles
era ministro da Indústria e Comércio. Perdeu-o no finalzinho
da breve passagem de Celso Lafer pela pasta, rebatizada de Ministério do Desenvolvimento.
Alcides Tápias contabiliza agora o estrago.
Somando-se os malfeitos conhecidos de Visco, chega-se a
um beliscão de cerca R$ 6 milhões na bolsa da Viúva. A conversa com Dornelles não trará o
dinheiro de volta. Mas pode evitar que a formiga alcance a epiderme do soberano, picando-lhe
a batata da perna.
Dornelles dirá a FHC que Visco é inocente. Do contrário não
o teria reempregado em sua assessoria pessoal. E não restará a
FHC senão a alternativa de
mergulhar na papelada produzida pelos auditores. Ao final da
leitura, o presidente terá diante
de si os seguintes fatos:
1) Em 98, Renato Visco pôs em
marcha o "INPI 2000". Trata-se
de plano concebido em Brasília,
sob Dornelles, para "modernizar" a repartição, dando-lhe cara nova em dois anos;
2) Ofício com o timbre do INPI
recomendou a contratação do
IEL (Instituto Euvaldo Lodi), de
Brasília, para tocar o projeto.
Assinam o papel Orlando Roberto Rocha e Marco Antônio
Vieira Cabral, "coordenadores"
do "INPI 2000". Um detalhe
confere às assinaturas um ar de
falsidade ideológica: nenhum
deles é funcionário do INPI;
3) O contrato com o IEL (R$
8,3 milhões) foi assinado às
pressas e sem licitação. Súbito,
os dois signatários do ofício-fantasma do INPI postaram-se do
outro lado do balcão. Passaram
de "coordenadores" a "consultores". Orlando recebeu R$ 540
mil. Marco Antônio, R$ 280 mil;
4) Renato Visco liberava pessoalmente as faturas. Ao todo, o
IEL fisgou no INPI R$ 4,5 milhões. Não mordeu mais porque
a cabeça de Visco foi levada à
bandeja;
5) José Graça Aranha, atual
presidente do INPI, chegou à repartição em julho de 99. No mês
seguinte, sentindo o cheiro de
queimado, cancelou o contrato
com o IEL. O instituto deveria
entregar 15 produtos, de pesquisa de opinião pública a estudos
de terceirização e de informática. O monturo de papéis virou
lixo. Encontra-se trancafiado
numa sala. Parte do que fora
contratado sumiu;
6) O INPI vinha tocando, em
parceria com a Organização
Mundial da Propriedade Intelectual, vinculada à ONU, um
programa muito parecido com o
"INPI 2000". Interrompido por
Renato Visco, o programa foi retomado por Graça Aranha. Está
orçado em US$ 10 milhões, dos
quais US$ 6 milhões, o equivalente a R$ 12,6 milhões, já escorregaram da bolsa da Viúva;
7) O absurdo "INPI 2000" soma-se a despautério já conhecido. Renato Visco tentou reformar o prédio do INPI, na Praça
Mauá, no Rio. Contratou, no
início de 98, a DW Engenharia,
para fazer o "projeto básico" da
obra. O orçamento foi aprovado
em menos de 24 horas. Despenderam-se, de novo sem licitação,
R$ 368 mil;
8) No final de 98, a mesma
DW Engenharia petiscou mais
R$ 1,1 milhão por conta de um
"projeto executivo" da obra.
Obra que, orçada em R$ 25 milhões, foi brecada graças a uma
ação do sacrossanto Ministério
Público.
Renato Visco tomou chá de
sumiço na quinta e na sexta-feira. Em oportunidade anterior,
dissera que nada fez de errado.
Acha que será inocentado pelo
TCU e pela Justiça.
Um detalhe deixa ainda mais
rico o caso. Eduardo Godoy Assumpção, funcionário que presidiu uma comissão criada para
investigar o "INPI 2000", pode
perder o emprego. Além de condenar as ações de Renato Visco,
a comissão de Eduardo acusou
Graça Aranha, o presidente do
INPI, de ter retardado providências para elucidar o caso.
Em ofício dirigido a Alcides
Tápias, Graça Aranha refutou
as acusações da comissão e teve
anuladas as acusações. Em cartas endereçadas a Tápias e ao
próprio FHC, Eduardo cobrou
providências. Seu comportamento gerou a abertura de um
processo disciplinar que pode
custar-lhe o contracheque.
Ainda que se considere imprópria a conduta de Eduardo, será
no mínimo curioso vê-lo arrancado de uma folha de pagamento em que Renato Visco parece
ter lugar cativo.
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