São Paulo, domingo, 15 de abril de 2001

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"Hóspedes" do prédio narram experiências

DA SUCURSAL DO RIO

Antigos "hóspedes" narraram suas experiências. O cartunista Ziraldo, 68, esteve preso em 1970. Quando chegou, havia dezenas de motoristas de ônibus detidos, porque a mulher de um general caíra de um ônibus na zona sul e culpara o chofer -desconhecido.
Ziraldo foi levado pela polícia com uma camisa cáqui, a mesma cor do uniforme dos condutores de ônibus. Ele a comprara em Nova York na mesma loja onde o escritor Ernest Hemingway encomendava as suas. Um adolescente de esquerda indagou-o sobre o grupo político a que pertencia.
"Qual a sua linha?", perguntou o jovem, segundo Ziraldo. "Sou um democrata, defendo a democracia", disse. "Não, linha de ônibus, qual é?", insistiu o jovem, pensando que Ziraldo era mais um motorista detido pela polícia.
Preso três vezes, o jornalista Moacir Werneck de Castro, 86, se diz um "usuário" do local. "O prédio tinha uma fama sinistra", afirma. "Evitava-se passar por sua calçada, com medo de ser apanhado e levado para dentro."
O ator Mário Lago, 89, foi preso cinco vezes. Numa delas, um policial jogou à cela um mendigo com a roupa embebida em ácido. "Isso é perfume francês, seus comunistas", disse o carcereiro.
A psicóloga Cecília Coimbra, 60, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, do Rio, ficou na carceragem feminina em 1970. Ela conta ter sido recebida com a pergunta de um coronel: "Sua prostituta, com quantos você trepou?"


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