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"Hóspedes" do prédio narram experiências
DA SUCURSAL DO RIO
Antigos "hóspedes" narraram
suas experiências. O cartunista
Ziraldo, 68, esteve preso em 1970.
Quando chegou, havia dezenas de
motoristas de ônibus detidos,
porque a mulher de um general
caíra de um ônibus na zona sul e
culpara o chofer -desconhecido.
Ziraldo foi levado pela polícia
com uma camisa cáqui, a mesma
cor do uniforme dos condutores
de ônibus. Ele a comprara em Nova York na mesma loja onde o escritor Ernest Hemingway encomendava as suas. Um adolescente
de esquerda indagou-o sobre o
grupo político a que pertencia.
"Qual a sua linha?", perguntou
o jovem, segundo Ziraldo. "Sou
um democrata, defendo a democracia", disse. "Não, linha de ônibus, qual é?", insistiu o jovem,
pensando que Ziraldo era mais
um motorista detido pela polícia.
Preso três vezes, o jornalista
Moacir Werneck de Castro, 86, se
diz um "usuário" do local. "O prédio tinha uma fama sinistra", afirma. "Evitava-se passar por sua
calçada, com medo de ser apanhado e levado para dentro."
O ator Mário Lago, 89, foi preso
cinco vezes. Numa delas, um policial jogou à cela um mendigo com
a roupa embebida em ácido. "Isso
é perfume francês, seus comunistas", disse o carcereiro.
A psicóloga Cecília Coimbra,
60, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, do Rio, ficou na
carceragem feminina em 1970. Ela
conta ter sido recebida com a pergunta de um coronel: "Sua prostituta, com quantos você trepou?"
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