São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REFÉM DA BASE

Na Câmara, PP e PTB também evitam sessão

PMDB no Senado se rebela contra governo e impede votação de MP

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de o PL deixar o bloco de apoio ao governo no Senado, o descontentamento generalizado da bancada do PMDB forçou o adiamento da votação da medida provisória que faz mudanças na estrutura do Executivo e cria cerca de 2.800 cargos de confiança. A MP corria o risco de ser derrubada no plenário com os votos dos peemedebistas.
Em reunião com Renan Calheiros (AL), o líder do PMDB, senadores reclamaram do tratamento dado pelo governo e de problemas com o PT nos Estados. Decidiram defender um salário mínimo de US$ 100 (R$ 289) e criticaram a MP dos cargos e a medida que regulamenta a cobrança da Cofins sobre importados.
A votação da MP da Cofins também foi adiada, já que a suspensão da votação da dos cargos manteve a pauta do Senado trancada. Na próxima semana, dificilmente haverá votação por causa de feriado no dia 21. Outra MP na pauta que encontra resistência no PMDB é a que proibiu os bingos.
"Eu estou tentando contornar a insatisfação dos senadores, mas a bancada está muito nervosa", admitiu Renan. Após a reunião da bancada, ele aconselhou o governo a pedir adiamento da votação da MP dos cargos, o que foi feito.
Para os peemedebistas, a criação desses cargos é uma forma de o PT reforçar seu caixa, já que os filiados que ocupam cargos públicos pagam contribuição à sigla.
Na tentativa de contornar a rebelião do PMDB -partido estratégico por ter a maior bancada no Senado-, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou jantar com a cúpula da sigla para hoje.
Deverão comparecer o presidente do Senado, José Sarney (AP), o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), e os líderes na Câmara e no Senado.
As insatisfações do PMDB têm diferentes razões. O próprio Renan tem cobrado publicamente do governo o cumprimento do acordo pelo qual ele sucederia Sarney na presidência do Senado. Sarney articula para permanecer.
A eleição municipal traz questões paroquiais. Além disso, quase todos os 22 senadores têm queixas de demandas não atendidas pelo governo e divergências com o PT nos seus Estados.
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), reconheceu que o governo "não deu a atenção devida à sua base".
Mercadante fez distinção entre as situações do PMDB e do PL. O primeiro partido, segundo o senador, não foi parceiro de campanha e tem um peso político maior. "A prioridade é tratar o PMDB."

Câmara
Após alguns dias de trégua, o governo voltou a enfrentar rebelião em sua base aliada também na Câmara. Os governistas PTB e PP, que somam 106 deputados, se recusaram a registrar presença no plenário e evitaram que houvesse sessão por falta de quórum.
O motivo da revolta foi o mesmo que levou os dois partidos a se rebelarem dias atrás, ajudados na ocasião pelo PL: verbas não liberadas, indicações para cargos não efetivadas e insatisfação com o tratamento dado por ministros.
Os governistas tentaram votar medidas que trancam a pauta. O PP, que já não registrava presença no plenário desde a semana passada, conseguiu a adesão do PTB. Sem os dois partidos, o governo não obteve o quórum mínimo.


Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Drama familiar: Souza já havia tentado se matar
Próximo Texto: Panorâmica - Energia política: Técnicos dos EUA vêm ao Brasil para discutir a assinatura de protocolo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.