São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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CAMPO MINADO

Governador aponta insubordinação dos sem-terra e morosidade governamental na reforma agrária

Jarbas cobra de Lula solução para tensão; petista critica MST

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), enviou ontem carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para cobrar providências do governo federal para solucionar o que ele chamou de "quadro de tensão social gerado pelas constantes ocupações de terras no Estado".
Na carta ao presidente, Jarbas diz que vê, "de um lado, a insubordinação à lei por parte do MST e, do outro, a morosidade do órgão federal encarregado de tratar da reforma agrária -o Incra- no encaminhamento das questões de sua responsabilidade".
Pernambuco é o Estado em que ocorreram mais invasões de terra desde o início da "jornada de luta" do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em 27 de março. Desde então, o movimento já invadiu 28 áreas.
O governo estadual contabiliza 55 invasões, somando as ações dos outros 12 movimentos sociais que reivindicam a reforma agrária em Pernambuco.
Para embasar sua crítica, o governador cita declarações do coordenador do MST em Pernambuco Alexandre Conceição, que disse à imprensa local que a intenção do movimento era "ocupar o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e fazer o mesmo com o palácio do governo". Conceição confirmou as declarações à Agência Folha e acrescentou que "as invasões podem não se limitar ao palácio, se o governo não colaborar".
O secretário estadual da Agricultura, Gabriel Maciel, disse que uma força-tarefa de Brasília é necessária no Incra de Pernambuco para agilizar o processo de assentamento no Estado.
Segundo o secretário, Pernambuco tem uma demanda por assentamentos reprimida muito grande. De acordo com ele, 12 mil famílias foram assentadas, mas 25 mil se encontram acampadas pelo Estado e promovendo invasões. "Nós conversamos diariamente com o ministro Miguel Rossetto [Desenvolvimento Agrário] para buscar uma solução."

Viana
O governador do Acre, Jorge Viana (PT), criticou ontem a onda de invasões do MST. Segundo o petista, as ações podem até "retardar" a reforma agrária. Segundo o governador, o governo federal tem tratado o MST com "carinho", mas não há reciprocidade. "A reforma agrária que está sendo feita hoje é mais rápida do que a realizada no passado. Mas, com essa onda [de invasões] estamos recolocando no cenário a UDR e os latifundiários, que estavam de fora, pelo menos durante o governo Lula. Acho que as ações não vão trazer mais recursos nem acelerar a reforma agrária. Podem, inclusive, retardar", disse.


Colaborou JAIRO MARQUES, da Agência Folha

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