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PREVIDÊNCIA
Transbrasil encabeça listagem com R$ 408,96 milhões; CEF e Petrobras figuram entre as maiores devedoras
INSS divulga lista com 176 mil devedores
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais de 176 mil devedores do
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), encabeçados pela
Transbrasil Linhas Aéreas, tiveram seus nomes divulgados ontem na internet, quando o Ministério da Previdência Social cumpriu um dispositivo legal instituído há quase 12 anos, que nunca
fora posto em prática. Na lista estão os responsáveis por parte
(42%) da dívida de R$ 153 bilhões
que o instituto tenta cobrar.
O ministro Ricardo Berzoini (Previdência) optou por divulgar
os nomes de apenas parte dos devedores, aqueles cujos débitos estão em fase mais avançada de cobrança judicial (inscritos na dívida ativa, segundo o jargão) e que não fizeram nenhum depósito para garantir o pagamento.
"Esses são os que temos certeza que devem", declarou o ministro
pouco antes de liberar a consulta à lista pelo endereço eletrônico
www.previdenciasocial.gov.br.
Embora tenha dito que a cobrança da dívida é uma "prioridade
máxima" para o governo, Berzoini não quis definir metas de valores a serem recuperados durante sua gestão. "É razoável supor uma
eficiência maior [na cobrança]", limitou-se a dizer.
Parte dos créditos é considerada perdida porque muitas das empresas devedoras já faliram e há brechas legais que favorecem os
devedores. Essas dificuldades na
cobrança ajudaram a triplicar o
valor da dívida nos últimos cinco
anos, conforme a Folha adiantou
na edição de 4 de maio.
A lista dos maiores devedores é
encabeçada pela Transbrasil S/A
Linhas Aéreas, cujos aviões deixaram de voar em dezembro de
2001. Ela deve sozinha ao INSS R$
408,9 milhões, quase a metade do
que deve arrecadar num ano a polêmica contribuição de inativos,
proposta pelo governo na reforma da Previdência. Como não é o
INSS quem paga as aposentadorias e pensões dos servidores públicos, o governo insiste em que a
cobrança das dívidas não anula a
necessidade da reforma.
O assessor da Transbrasil, Carlos Badra, reiterou ontem que a
renegociação da dívida com o
INSS faz parte dos planos para a
volta da empresa ao mercado.
"Temos de sentar e rever todos esses números", disse.
Em segundo lugar na lista vem a
Prefeitura de Campinas, atualmente administrada pelo PT, com
dívida de R$ 402,8 milhões. Na relação dos devedores estão ainda
grandes empresas estatais, como
a Caixa Econômica Federal (R$
253,7 milhões) e a Petrobras (R$
116,9 milhões). Até o partido do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece na lista.
São quase 500 mil processos de
cobrança judicial, a maior parte
deles contra empresas. Na lista divulgada ontem estão também
grandes bancos e empreiteiras.
No primeiro grupo, o maior devedor é o Banco Bradesco S.A., com
R$ 83,1 milhões; no segundo, a CR
Almeida S.A. Engenharia e Construções (dívida de R$ 152,4 milhões).
Também integram a lista duas
empresas que, em cartas à Folha,
recusaram a condição de devedoras. O Banco Itaú aparece com dívida de R$ 19,9 milhões, embora tenha dito que "cumpre rigorosamente com suas obrigações tributárias com o INSS". A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que se diz credora do instituto, registra 16 processos de
cobrança, que somam R$ 218 mil.
No último caso, já há bens penhorados para o pagamento.
Lista trimestral
As consultas à lista de devedores
estiveram bloqueadas boa parte
do dia de ontem devido à enorme
quantidade de tentativas de acesso ao endereço do Ministério da
Previdência Social. Um reforço na
rede foi insuficiente.
A lista é um "retrato" de uma
parcela da dívida sob cobrança judicial no último dia 30 de abril.
Empresas que aderiram ao Refis
(programa de refinanciamento de
dívidas) ou que fizeram depósitos
judiciais não entraram na lista, assim como as empresas com dívidas que ainda estão em fase de cobrança administrativa. Algumas
empresas cujos nomes não constam entre os devedores não obterão, por exemplo, a Certidão Negativa de Débito.
O "retrato" será revisto a cada
três meses. A divulgação periódica dos devedores é uma obrigação
prevista por lei desde 1991, mas
que nunca havia sido cumprida,
"por incrível que pareça", observou ontem o ministro. Entraves
jurídicos, brechas legais e a histórica ineficiência dos sistemas de
cobrança e execução de dívidas
foram motivos apontados por
Berzoini para justificar o tamanho da dívida.
Entre os entraves à cobrança, o
ministério citou a jurisprudência
do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que não reconhece os sócios
de empresas devedoras como responsáveis solidários pelas dívidas
-obstáculo que pode ser removido por meio de projeto de lei. A
divulgação dos devedores é, segundo o ministro, um primeiro
passo para cobrá-la. Berzoini
também defende a contratação de
mais 800 auditores fiscais para reforçar a cobrança.
Embora todos os nomes de devedores tenham passado por uma
triagem antes de serem divulgados, o ministério espera que haverá contestação judicial e pedidos
para a exclusão de empresas da
listagem. No lugar do devedor, o
ministério pretende pôr na lista o
nome do juiz que conceder sentenças contrárias à divulgação.
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