São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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Convenção tucana oficializa nome do senador à Presidência no momento em que o país enfrenta crise na economia

Colado a FHC, Serra se torna hoje o candidato do governo

Sergio Lima/Folha Imagem
Homem trabalha no estádio Nilson Nelson, em Brasília, onde vai ser realizada hoje a convenção nacional do PSDB


RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Até tornar-se o candidato tucano, José Serra teve de percorrer caminhos tortuosos e difíceis. Nada indica que será diferente a partir de hoje, quando o PSDB, em convenção nacional, homologa formalmente sua candidatura à Presidência da República na eleição de 6 de outubro.
O que muda é a natureza dos problemas. Para consolidar-se, Serra teve de dobrar uma boa parcela do PSDB que preferia outra opção, o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati. Oficializado, o tucano entra na campanha em meio a uma crise de credibilidade que atinge o país e reflete negativamente no desempenho da economia, o que é ruim para o candidato do governo.
Nesse cenário, Serra precisará decisivamente da ajuda do presidente Fernando Henrique Cardoso: pesquisas apontam que a oscilação nos índices de popularidade de FHC se reflete nos índices do candidato tucano. O presidente também foi decisivo para Serra vencer as resistências internas do partido. Há quem diga que 60% do trabalho de construção da candidatura se deve a FHC.
Serra acredita que sempre foi o candidato do presidente. Assessores de FHC dizem que ele tinha outra carta na manga, Pedro Malan, pelo menos até outubro de 2001, quando o ministro da Fazenda decidiu não se filiar a um partido político. Tasso, a quem o presidente julga uma espécie de "novo coronel" nordestino, nunca teria estado em suas cogitações.
Mas o fato é que Tasso foi uma opção real do PSDB até o final de novembro de 2001. Após uma viagem aos EUA, numa reunião com o presidente do PSDB, José Aníbal (SP), o então ministro Pimenta da Veiga (Comunicações) e o líder tucano no Senado, Geraldo Melo (RN), àquela altura, todos aliados, Tasso informou que iria dar um tempo para sua candidatura.
Estava chateado com as observações do presidente sobre o novo coronelismo político nordestino. Disse que consultara o publicitário Nizan Guanaes e o sociólogo Antônio Lavareda, hoje ambos na campanha de Serra. "Para mim acabou, o candidato agora é o Serra", sentenciou Aníbal.
Tasso se tornou uma opção forte ao ser indicado por Mário Covas, governador de São Paulo, morto em março de 2001, como o seu candidato preferido. Foi um dos piores momentos de Serra. Mas a opção de Covas, seu rival na política paulista, fez FHC pender de vez para Serra. A eventual eleição de Tasso seria um deslocamento do grupo no poder.
A morte de Covas foi um golpe para Tasso, mas o fato é que o tucano cearense não conseguiu entrar na região Sudeste. Bem que a família Covas tentou, patrocinando um jantar de lançamento de sua candidatura em outubro. Mas ao ato não se seguiu qualquer manifestação de apoio.
Restava vencer as resistências internas. FHC dizia que Serra era um homem público imbatível, correto, sério, completo, mas um péssimo homem político. Um auxiliar conta ter ouvido do presidente que "ou nós o ajudamos e vamos ter o melhor para o país ou não ajudamos e perdemos".
Pouco a pouco, FHC foi contornando as resistências: Aníbal, Pimenta, Arthur Virgílio (AM), Paulo Renato Souza. Só não dobrou a oposição do PFL, que culpa Serra pela operação policial que culminou com a descoberta de R$ 1,34 milhão em um escritório de Roseana Sarney, o que significou o fim da candidatura presidencial da pefelista.
Na equipe de Serra, considera-se esse o pior momento da campanha. Os tucanos ainda tinham dúvidas se haviam feito a escolha acertada e o fantasma da candidatura que "não decola" rondava o tucano. O PFL bem que tentou aproveitar-se da ocasião para "zerar o jogo" e tentar substituir o tucano por outro nome mais palatável à sigla. Sem êxito.
Um golpe sentido por Serra foi a desistência do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), de ser o candidato a vice na chapa. Isso desencadeou as paixões dentro do PMDB a ponto de, em alguns momentos, os tucanos duvidarem da capacidade do comando peemedebista de assegurar a aliança. Seria mortal para Serra.
A escolha da deputada Rita Camata (ES), da ala dissidente do partido, não acalmou a legenda. Preterido, o senador Pedro Simon (RS) ameaçou embarcar na canoa de Lula. Mas FHC, Serra e a cúpula peemedebista aparentemente conseguiram superar os obstáculos e também hoje, em convenção nacional, o PMDB deve oficializar a aliança e o nome de Rita para vice. Resta aos candidatos esperar que FHC consiga também driblar as armadilhas da economia.



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