São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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JANIO DE FREITAS

O monumento


A vaia vem do fundo, explosão de sentimentos à simples aparição de uma imagem ou de um som

UMA VAIA olímpica, vaia maracanã, o som gigantesco de dezenas de milhares de vozes soando como uma só, não é vaia. Nem é para qualquer um. Pode ser uma ou várias de muitas intenções. Pode ser desmistificação, ou advertência, arrependimento, pode ser decepção, tristeza, raiva, pode ser muita coisa. Em qualquer delas, é uma das manifestações mais grandiosas do ser humano.
O grande aplauso pode vir, e com maior frequência vem, de um entusiasmo momentâneo, de predisposição, da força das circunstâncias. A vaia, não. A vaia vem do fundo. De tão autêntica, torna-se autônoma e automática, a explosão instantânea de sentimentos intensos à simples aparição de uma imagem ou de um som. É isso que faz de toda vaia política um monumento histórico.
Lula já tem o seu monumento histórico. Foi justo que o recebesse do Rio, cidade e estado discriminados agressivamente, desde o primeiro momento do primeiro mandato de Lula, para prejudicar um possível (depois confirmado) adversário da reeleição.
Mas a vaia não veio de disputa eleitoral, muito ao contrário, porque a cidade também não é território afável com os Garotinho.
A vaia foi a sonoridade do mesmo sentimento que, na eleição passada, recusou a permanência de Lula e deixou o PT praticamente extinto na cidade e no estado. Foi vaia política, mas, sobretudo, vaia ao Lula que nasceu no Poder.
Na linguagem carioca, o Rio não é a praia de Lula.

A casa
Renan Calheiros ultrapassou até os limites mais elásticos de defesa e adotou o golpe baixo, sem sequer os falsos escrúpulos. Ao adiar para terça-feira, véspera do início das férias parlamentares, a decisão da Mesa do Senado sobre o envio à Polícia Federal dos documentos de defesa, Renan Calheiros exorbitou duas vezes: agiu como presidente do Senado em benefício próprio e valeu-se de argumento inverídico para o adiamento. A "necessidade de tempo para notificar as partes" consistia em notificação ao senador do PSOL, João Nery, que estava presente ao Senado e, portanto, notificado ao vivo e de imediato; e notificar o próprio notificador Renan Calheiros.
A oposição do PSDB e do DEM teve reação firme mas, como de praxe, logo amansou. E, por iniciativa dos peessedebistas, também adiou a decisão sobre a atitude a ser ou não tomada. Parece um crescente pedido para que as ruas não peçam a expulsão de Renan, mas a exclusão de todos no Senado. Não falta muito para que o longo caso de tolerância seja visto como casa idem.

Bom proveito
A chamada crise do Oriente Médio, que a rigor se estende e se agrava na Ásia, é tema de dois livros complementares do mesmo autor, agora nas livrarias. "Pobre nação" (Editora Record) e "A grande guerra da civilização" (Editora Planeta) são leituras essenciais para compreensão do nosso tempo, elaboradas por um dos jornalistas mais verdadeiramente jornalistas, Robert Fisk, e conhecedor do tema dos livros como nenhum outro.
Talvez os livros levem o leitor à conclusão de que a única e verdadeira fé do homem político é a violência. Mas o problema é que não há o que argumentar contra tal conclusão.


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