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JANIO DE FREITAS
O monumento
A vaia vem do fundo, explosão de sentimentos à simples aparição de uma imagem ou de um som
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UMA VAIA olímpica, vaia maracanã, o som gigantesco de dezenas de milhares de vozes
soando como uma só, não é vaia.
Nem é para qualquer um. Pode ser
uma ou várias de muitas intenções.
Pode ser desmistificação, ou advertência, arrependimento, pode ser decepção, tristeza, raiva, pode ser muita coisa. Em qualquer delas, é uma das
manifestações mais grandiosas do
ser humano.
O grande aplauso pode vir, e com
maior frequência vem, de um entusiasmo momentâneo, de predisposição, da força das circunstâncias. A
vaia, não. A vaia vem do fundo. De tão
autêntica, torna-se autônoma e automática, a explosão instantânea de
sentimentos intensos à simples aparição de uma imagem ou de um som.
É isso que faz de toda vaia política um
monumento histórico.
Lula já tem o seu monumento histórico. Foi justo que o recebesse do
Rio, cidade e estado discriminados
agressivamente, desde o primeiro
momento do primeiro mandato de
Lula, para prejudicar um possível
(depois confirmado) adversário da
reeleição.
Mas a vaia não veio de disputa eleitoral, muito ao contrário, porque a cidade também não é território afável com os Garotinho.
A vaia foi a sonoridade do mesmo
sentimento que, na eleição passada,
recusou a permanência de Lula e deixou o PT praticamente extinto na cidade e no estado. Foi vaia política,
mas, sobretudo, vaia ao Lula que nasceu no Poder.
Na linguagem carioca, o Rio não é a
praia de Lula.
A casa
Renan Calheiros ultrapassou até
os limites mais elásticos de defesa e
adotou o golpe baixo, sem sequer os
falsos escrúpulos. Ao adiar para terça-feira, véspera do início das férias
parlamentares, a decisão da Mesa
do Senado sobre o envio à Polícia
Federal dos documentos de defesa,
Renan Calheiros exorbitou duas vezes: agiu como presidente do Senado em benefício próprio e valeu-se
de argumento inverídico para o
adiamento. A "necessidade de tempo para notificar as partes" consistia
em notificação ao senador do PSOL,
João Nery, que estava presente ao
Senado e, portanto, notificado ao vivo e de imediato; e notificar o próprio notificador Renan Calheiros.
A oposição do PSDB e do DEM teve reação firme mas, como de praxe,
logo amansou. E, por iniciativa dos
peessedebistas, também adiou a decisão sobre a atitude a ser ou não tomada. Parece um crescente pedido
para que as ruas não peçam a expulsão de Renan, mas a exclusão de todos no Senado. Não falta muito para que o longo caso de tolerância
seja visto como casa idem.
Bom proveito
A chamada crise do Oriente Médio, que a rigor se estende e se agrava na Ásia, é tema de dois livros
complementares do mesmo autor,
agora nas livrarias. "Pobre nação"
(Editora Record) e "A grande guerra da civilização" (Editora Planeta)
são leituras essenciais para compreensão do nosso tempo, elaboradas por um dos jornalistas mais
verdadeiramente jornalistas, Robert Fisk, e conhecedor do tema
dos livros como nenhum outro.
Talvez os livros levem o leitor à
conclusão de que a única e verdadeira fé do homem político é a violência. Mas o problema é que não
há o que argumentar contra tal
conclusão.
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