São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Governo exibirá cifras para mostrar que, sem FMI, país pode quebrar

Apoio de Ciro a acordo com FMI é prioridade para FHC

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O roteiro do presidente Fernando Henrique Cardoso para os encontros com os quatro principais presidenciáveis tem duas prioridades: exibir números que mostrem aos oposicionistas que sem o FMI o Brasil não fechará as contas externas em 2003 e obter principalmente de Ciro Gomes (PPS) o compromisso de que cumprirá na íntegra o acordo com o Fundo Monetário Internacional.
A Folha apurou que, na avaliação do FMI e do governo, Ciro é o candidato que mais tem assustado o mercado, que o vê como o que tem hoje mais chances de sair vitorioso. Logo, é personagem mais importante que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja posição sobre o acordo é considerada satisfatória por FHC.
Em reunião ontem no Palácio da Alvorada, o presidente, a equipe econômica e os articuladores políticos definiram a estratégia para as conversas, que devem ser precedidas de novos contatos com assessores dos candidatos.
FHC quer evitar que seja transmitida a idéia de enquadramento de Ciro ou de divisão de responsabilidade pela crise, apesar de essas duas coisas serem objetivos não admitidos.
O presidente pretende dizer aos oposicionistas Lula, Ciro e Anthony Garotinho (PSB) que não espera deles declarações simpáticas à atual política econômica, mas que reconheçam que o acordo é vantajoso para o país e que deixem claro que o cumprirão. O governista José Serra (PSDB) assumiu isso publicamente.
A intenção de FHC e seus auxiliares é dizer que os US$ 24 bilhões previstos para serem sacados pelo próximo presidente em 2003 são a única forma de evitar um calote do Brasil nos investidores internacionais. O presidente mostrará que essa quantia representará 52% de todos os recursos necessários para fechar as contas externas do país no ano que vem.

US$ 6,6 bi do Fundo
Para dar uma idéia da importância da cifra aos candidatos e seus assessores econômicos, o governo dirá que os US$ 24 bilhões são praticamente o quádruplo de recursos obtidos no FMI para fechar as contas externas de 2001. Ou seja, no ano passado, o Brasil precisou de US$ 58,4 bilhões para fechar as contas externas e usou US$ 6,6 bilhões do FMI.
Como os US$ 24 bilhões só poderão ser sacados se o futuro presidente da República cumprir as metas previstas no acordo, declarações de candidatos, especialmente dos hoje favoritos Lula e Ciro, deixando dúvidas a esse respeito, intranquilizam o mercado, que antecipa o problema e gera uma crise no curto prazo.
No almoço-reunião de uma hora e meia ontem no Palácio da Alvorada, foi mencionada a disposição de FHC de receber a anunciada proposta do presidenciável petista de realizar logo uma minirreforma tributária. O governo, porém, tem dúvidas sobre a viabilidade de o Congresso aprová-la antes das eleições.
Também ficou claro que a prorrogação de futuras receitas previstas para acabar neste ano será um assunto que caberá ao novo presidente negociar depois que for eleito. Exemplo: a alíquota de 27,5% do Imposto de Renda de Pessoas Físicas cairá para 25% no ano que vem.
A Presidência da República ainda não definiu se os candidatos poderão conceder entrevistas ou falar com a imprensa após os encontros com FHC em um espaço reservado no Palácio do Planalto. Isso está sendo avaliado do ponto de vista do que estipula a legislação eleitoral.


Colaborou SANDRO LIMA, da Sucursal da Brasília



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