São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Candidatos pretendem mostrar que não aceitam dividir ônus político

Ciro e Lula planejam propor agenda contra a crise a FHC

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU

Os candidatos do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e do PPS, Ciro Gomes, deverão usar a reunião de segunda-feira com o presidente Fernando Henrique Cardoso para apresentar sugestões na tentativa de superar a atual crise cambial.
Segundo a Folha apurou, Ciro deverá se reunir com representantes da equipe econômica de seu plano de governo até amanhã para discutir o assunto.
No encontro, assessores do presidenciável do PPS defenderão que Ciro apresente a FHC proposta de votação da reforma tributária ainda neste ano. Caberia ao presidente, segundo eles, fazer um apelo para que os partidos se empenhem com esse objetivo.
Outra sugestão tem como meta a redução da vulnerabilidade externa do país por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A idéia da equipe de Ciro é que o banco passe a fornecer crédito com uma taxa de juros "competitiva" que estimule a produção industrial, especialmente aquela voltada para a exportação.

Lula
Lula disse ontem, em Londrina (PR), que vai cobrar a implantação da minirreforma tributária. E afirmou que FHC e equipe devem assumir, em "comunicado à Nação", a responsabilidade pela crise. "É preciso assumir a total responsabilidade pela fragilidade do governo perante o mercado, que esse governo tanto privilegiou."
O petista afirmou que irá se reunir neste final de semana com o diretório do PT para discutir a agenda que será levada ao presidente. "Mas essa pergunta eu vou fazer a ele: por que não colocou em votação uma proposta que era consensual entre os partidos?", voltando a falar na minirreforma.
Para Lula, ela é necessária para que o próximo presidente comece a trabalhar já em janeiro.
Sobre o fato de os adversários afirmarem que está adotando um discurso moderado, o candidato disse que o que houve foi uma maturidade política do PT. "Pelo nosso programa, vocês podem achar que estamos mais comedidos. Isso não foi medo nem retrocesso ideológico, mas maturidade política. Nosso programa está adequado à atual realidade brasileira, melhor pensado e adequado aos nossos cabelos brancos."
Ainda sobre o encontro com FHC, Lula disse em Foz do Iguaçu que não acredita que se trate de uma idéia do Planalto apenas para acalmar o mercado financeiro.
Questionado se teme ser utilizado politicamente por FHC, não quis polemizar. "Acho que o político não pode ter essa preocupação. Dessa forma, você já vai amargurado, trancado e reprimido internamente. Conheço o presidente e ele me conhece."
Mas aproveitou para alfinetar FHC. "Como o presidente tomou a iniciativa, eu vou a Brasília, e pode estar certo que vou levar propostas. Mas não quero que ele fique sabendo delas pela imprensa. Conheço os problemas do Brasil, mas ele parece que não conhece."

Ônus da crise
Ciro e Lula esperam deixar claro que, apesar de terem aceitado o convite de FHC, não estão dispostos a dividir com o governo federal o ônus da turbulência no mercado. Pretendem ainda evitar dar a impressão de que estariam dando um aval às medidas tomadas pelo presidente.
Ciro tem repetido insistentemente que não pretende dividir com FHC o prejuízo causado por erros do modelo que diz estar denunciando há pelo menos sete anos. "Candidato não faz acordo", tem sido sua frase para explicar sua posição sobre o assunto.
Lula também sempre resistiu à idéia do encontro, preocupado com a possibilidade de ser co-responsabilizado pelo problema. Acabou concordando para evitar a imagem de intransigência.


Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha, em Londrina



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