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TRANSIÇÃO
Candidatos pretendem mostrar que não aceitam dividir ônus político
Ciro e Lula planejam propor agenda contra a crise a FHC
PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU
Os candidatos do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e do PPS, Ciro
Gomes, deverão usar a reunião de
segunda-feira com o presidente
Fernando Henrique Cardoso para
apresentar sugestões na tentativa
de superar a atual crise cambial.
Segundo a Folha apurou, Ciro
deverá se reunir com representantes da equipe econômica de
seu plano de governo até amanhã
para discutir o assunto.
No encontro, assessores do presidenciável do PPS defenderão
que Ciro apresente a FHC proposta de votação da reforma tributária ainda neste ano. Caberia ao
presidente, segundo eles, fazer
um apelo para que os partidos se
empenhem com esse objetivo.
Outra sugestão tem como meta
a redução da vulnerabilidade externa do país por meio do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A idéia da equipe de Ciro é que o
banco passe a fornecer crédito
com uma taxa de juros "competitiva" que estimule a produção industrial, especialmente aquela
voltada para a exportação.
Lula
Lula disse ontem, em Londrina
(PR), que vai cobrar a implantação da minirreforma tributária. E
afirmou que FHC e equipe devem
assumir, em "comunicado à Nação", a responsabilidade pela crise. "É preciso assumir a total responsabilidade pela fragilidade do
governo perante o mercado, que
esse governo tanto privilegiou."
O petista afirmou que irá se reunir neste final de semana com o
diretório do PT para discutir a
agenda que será levada ao presidente. "Mas essa pergunta eu vou
fazer a ele: por que não colocou
em votação uma proposta que era
consensual entre os partidos?",
voltando a falar na minirreforma.
Para Lula, ela é necessária para
que o próximo presidente comece
a trabalhar já em janeiro.
Sobre o fato de os adversários
afirmarem que está adotando um
discurso moderado, o candidato
disse que o que houve foi uma
maturidade política do PT. "Pelo
nosso programa, vocês podem
achar que estamos mais comedidos. Isso não foi medo nem retrocesso ideológico, mas maturidade
política. Nosso programa está
adequado à atual realidade brasileira, melhor pensado e adequado
aos nossos cabelos brancos."
Ainda sobre o encontro com
FHC, Lula disse em Foz do Iguaçu
que não acredita que se trate de
uma idéia do Planalto apenas para acalmar o mercado financeiro.
Questionado se teme ser utilizado politicamente por FHC, não
quis polemizar. "Acho que o político não pode ter essa preocupação. Dessa forma, você já vai
amargurado, trancado e reprimido internamente. Conheço o presidente e ele me conhece."
Mas aproveitou para alfinetar
FHC. "Como o presidente tomou
a iniciativa, eu vou a Brasília, e pode estar certo que vou levar propostas. Mas não quero que ele fique sabendo delas pela imprensa.
Conheço os problemas do Brasil,
mas ele parece que não conhece."
Ônus da crise
Ciro e Lula esperam deixar claro
que, apesar de terem aceitado o
convite de FHC, não estão dispostos a dividir com o governo federal o ônus da turbulência no mercado. Pretendem ainda evitar dar
a impressão de que estariam dando um aval às medidas tomadas
pelo presidente.
Ciro tem repetido insistentemente que não pretende dividir
com FHC o prejuízo causado por
erros do modelo que diz estar denunciando há pelo menos sete
anos. "Candidato não faz acordo", tem sido sua frase para explicar sua posição sobre o assunto.
Lula também sempre resistiu à
idéia do encontro, preocupado
com a possibilidade de ser co-responsabilizado pelo problema.
Acabou concordando para evitar
a imagem de intransigência.
Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência
Folha, em Londrina
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