São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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NO AR

Rebeldes

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Não é só Ciro Gomes que traz o eco de Fernando Collor de Mello -do passado- à televisão.
Se o presidenciável cearense ainda deixa desconcertados os que gostariam de gostar dele, o próprio, o original Collor vai reavivando o temor coletivo nos telejornais.
Começou talvez com a inesperada passeata de milhares de "caras-pintadas" em Alagoas, no fim de semana, contra o Collor original.
Levavam cartazes com expressões antigas como "não melle o seu voto".
Anteontem foi a vez de Ratinho, ex-parlamentar collorido, prometer de seu palco eletrônico que vai enviar um caminhão de capim a Alagoas se Collor for eleito -ele que é o líder nas pesquisas alagoanas.
Ato contínuo, Collor disse que vai pedir direito de resposta e conclamou os seus eleitores a deixar de ver o Programa do Ratinho.
O conflito subiu mais alguns degraus com uma reportagem da Globo, ontem, buscando uma vez mais tomar a si o crédito pelo impeachment do ex-presidente.
Foi buscar o presidente da UNE na época da eleição de Collor (não do impeachment), um certo Orlando Silva, que disse que a série "Anos Rebeldes" mostrou "para a galera nova" que era possível lutar.
Segundo a Globo, "os caras-pintadas mostraram que era possível, os jovens foram às ruas pedir a saída do presidente, contagiaram o país e o Congresso votou e aprovou".
E a mesma Globo conclama agora:
- Nas próximas eleições, os estudantes estarão de novo mobilizados para cobrar... É hora de assumir a responsabilidade que a juventude nunca deixou de assumir.
Collor, Ratinho, Globo: o problema de escrever sobre campanhas eleitorais na televisão há mais de dez anos é que a farsa se repete e se repete.
 
Ainda sobre 89 e seus personagens, Alexandre Garcia, ele mesmo, estava dizendo ontem, depois de uma outra reportagem da Globo que mostrava que o brasileiro sabe votar;
- A análise das eleições, de 88 (sic) para cá, mostram um rumo coerente do eleitor. Numa vontade coletiva, ele pressiona por mudanças para melhor. O eleitor pode ter cometido enganos, mas busca corrigi-los.
E conclama Alexandre Garcia, o eterno:
- Quem nomeia, pelo voto, tem que fiscalizar e votar.
Como ia dizendo, assistir há mais de dez anos aos mesmos personagens é um problema.



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